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terça-feira, 1 de agosto de 2006

Para lá das aparências

O Jornal de Negócios anuncia que o Governo mexeu pela primeira vez em dez anos na fórmula de cálculo da remuneração dos certificados de aforro. Num primeiro momento olhei unicamente para o título da notícia e pensei - ó santa ingenuidade! - que perante a crescente procura destes títulos, sinal de refúgio de alguma capacidade de poupança ainda existente, o Governo, atento, tinha aproveitado para estimular por esta via a entrega ao Tesouro dos excedentes das famílias que ainda os conseguem gerar.
Afinal, lendo a notícia, o sentido da mudança é o oposto. Mexeu-se no cálculo da taxa para remunerar menos. Se a Terra é efectivamente redonda, então o efeito desta medida irá ser uma menor procura dos certificados de aforro e a colocação da pequena poupança noutros produtos financeiros, beneficiando as instituições que as colocam no mercado. Ou então o desvio para o consumo.
Até hoje julgara que numa conjuntura como a actual as decisões certas seriam as de fomentar a poupança e canalizar para o investimento reprodutivo!
Mas certamente que esta medida do nosso bom Governo, somada à de aumentar a carga fiscal das famílias a níveis asfixiantes é uma sábia decisão. Da qual colheremos os frutos num futuro que diariamente nos dizem estar bem próximo.
Não nos deixemos por isso iludir pelas imediatas e ilusórias aparências.

3 comentários:

just-in-time disse...

Não posso acreditar!
Agora que as taxas de juro estão a subir!
Agora que os CA tinham voltado a ser interessantes!

Anónimo disse...

Nem espere que o Governo explique mais do que (não) explicou, Margarida. Tem sido, aliás, um hábito fundamentar como simples ajustamentos de natureza técnica medidas com implicações como a aquela que aqui se comenta.
Tiques de governo de maioria para o qual estas coisas da transparência são pormenores.

Tavares Moreira disse...

Meus Caros Amigos,

É preciso ter em conta que (i) a taxa de poupança em Portugal é excessiva, (ii) estamos a gerar um excedente nas contas externas sem justificação, (iii) se torna necessário estimular o consumo das famílias, (iv) os resultados dos Bancos têm vindo a baixar perigosamente e (v) o Estado gera um excedente orçamental que em breve o dispensará de recorrer à emissão de dívida pública.
Neste contexto, a decisão técnica de ajustar a taxa de juro dos CA para baixar a remuneração oferecida aos aforradores faz todo o sentido.
E a autoridade máxima na matéria, com a habitual cobertura dos media, guarda neste assunto um prudente silêncio...