1. A frase que serve de título a este Post foi extraída de uma declaração editada há 2 dias por Angel Gurria, secretário-geral da OCDE, a propósito das medidas anti-crise que têm vindo a ser anunciadas em vários países.
2. Nessa mesma declaração Gurria prevê uma longa recessão nos países da OCDE, particularmente na Europa, pelo que encontra justificação para medidas anti-crise...mas alerta os países em causa para não tomarem medidas que ponham em causa objectivos económicos de médio e longo prazo.
3. Esta declaração parece-me “encaixar que nem uma luva” no quadro das medidas de política anti-crise que têm vindo a ser anunciadas entre nós e que parecem ter como principal componente uma corrida a obras públicas, sem qualquer avaliação do seu impacto económico e financeiro a médio e longo prazo – tampouco a curto prazo!
4. Este tipo de resposta à crise, como aqui tenho repetidamente afirmado, é susceptível de agravar, seriamente, (i) os desequilíbrios já insustentáveis de que padece a economia e (ii) as restrições ao financiamento do tipo de investimento que mais nos interessa – investimento produtivo, em sectores concorrenciais da economia, criador de rendimento e de emprego.
5. O problema financeiro já hoje é sentido no agravamento das condições de financiamento da exploração das empresas situadas fora dos sectores protegidos: crédito bancário mais escasso e de custo não inferior ao do passado apesar da queda abrupta das taxas Euribor de referência...
6. O aviso esta semana lançado pela S&P de uma provável revisão em baixa do rating da República Portuguesa é apenas mais um sinal de que o efeito dos disfarces que têm sido utilizados através das múltiplas gavetas de ocultação de despesa pública está a chegar ao fim; toda essa despesa, por mais invisível que a queiram manter, repercute-se inexoravelmente num desequilíbrio geral da economia, por sua vez conducente ao enorme e insanável défice global com o exterior - e é este que releva para avaliação das fragilidades financeiras do País.
7. As iluminadas criaturas que têm tentado convencer-nos de que o recurso ao endividamento externo é infinitamente elástico, estão a arrastar-nos para uma lamentável e dolorosa decepção final...com surpreendentes cumplicidades!
8. A política económica actual devia pois prestar a maior atenção ao aviso de Gurria, “Don’t do anything now that will complicate life later...”
9. Mas parece teimar em “Spend now, right or wrong, and leave the rest...”!
10. Que mais nos irá acontecer?
14 comentários:
Mais que não seja vale pelo apelo ao bom senso, assim encontre receptores atentos…
Caro Tavares Moreira, estamos todos aqui há uns tempos largos. Neste blog, entre outros espectadores dos tempos que se vivem, tem vindo a lançar avisos para um futuro que, nalgumas coisas, já é presente. Os avisos têm caído em saco roto. Por mim não tenho qualquer esperança que Portugal se endireite sem a tal ser obrigado por força das circunstancias. Não acredito que se deixe de gastar sem que a torneira seja fechada, não acredito que se promova a racionalidade da despesa enquanto houver dinheiro para a pagar no imediato, não vejo que se deixe de hipotecar o país a vários anos enquanto houver dinheiro para pagar a despesa dos primeiros meses. Daqui a minha pergunta. Sou por natureza um céptico neste contexto particular. Mantenho sempre presente a minha dúvida metódica que na democracia em contexto Português se faça o que é preciso mas com benefícios a médio e longo prazo em deterimento do bonito imediato. Feita que está a minha declaração de interesses, chamemos-lhe, faço-lhe a pergunta. Parece-lhe, na sua análise, que os governantes da républica, à medida que a situação se torna cada vez mais e mais complicada, irão tomar medidas ou parece-lhe que chegaremos efectivamente à suspensão de pagamentos? Faço-lhe esta pergunta de forma sincera e sem a mais leve ironia.
Caro jotaC,
Sim, talvez alguns peixinhos (nem todos) estejam receptivos para ouvir...
Caro Zuricher,
Em suspensão de pagamentosjá nós estamos, quando entidades públicas, em número crescente, não cumprem as obrigações assumidas em relação a credores não financeiros deixando que as dívidas se arrastem por prazos indecorosos...
Mas a verdade é que niguém se preocupa e o Euro tem servido para anestesiar as consciências...
A questão ir-se-á agravando progressivamente, sob o efeito conjugado do encarecimento e da escassez do crédito externo - os primeiros efeitos são sentidos já hoje pelas empresas expostas à concorrência e pelos particulares.
Mas o Estado, nas suas múltiplas manifestações institucionais, e os sectores protegidos da economia serão os últimos a sentir essa dor...
A insensibilidade dos políticos dirigentes a este problema advém exactamente do facto de serem os últimos a sentir tal restrição financeira...mas acabarão também por sentir, pode estar certo.
Não creio, caro Dr. Tavares Moreira, que a previsão de uma longa recessão consiga surpreender um único habitante de qualquer país pertencente à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico. Isto porque os sinais já são tão evidentes e tão abrangentes que invadaram todos os sectores da economia e das sociedades. Contudo e surpreendentemente no meu ponto de vista, continuam a surgir, anunciadas de uma forma que ainda pressupõe que todas as que foram proferidas anteriormente, não teriam sido fruto de uma avaliação tão técnica, ou tão eclécticamente "apadrinhada".
Parece-me e esta é uma opinião estritamente pessoal, que os "gurus" da economia e da finança que nesta época conturbada se alarmam e auguram trágicas derrocadas financeiras, ficaram "suspensos" no início da recessão e agora "gritam aflitivamente por socorro" como se estivessem suspensos da ponta de uma escarpa, sobre um percipício, seguros por uma corda quase a partir-se. E, ainda presos às memórias do sucesso que conheceram e das formulas que utilizaram para o alcançar, clamam a plenos pulmões que é necessário investir a toda a força.
É defacto necessário que se invista, e esse investimento tem necessáriamente que ser concertado entre estado e privado. É imprescindível que todos remem no mesmo sentido e que as acções de uns sejam complementares das de outros, objectivando o bem social e comum. O estado não pode continuar a sonhar megalmanamente obras que todos percebem irão endividar extraordináriamente o país, sem que se prevejam a curto e a médio prazo contrapartidas desses investimentos. É importante que o estado invista numa política de ajuste da política de impostos à politica de investimento privado que se deseja para a nossa economia. É importante que os investidores sintam a garantia de que os impostos que entram nos cofres do estado, são empregues de forma coerente e equilibrada na gestão do país. O estado tem de perceber definitivamente que governa uma sociedade real com problemas reais e profundos, de difícil solução, que atravessa uma crise económica para a qual ninguem tem uma receita infalível e que não pode nem deve tomar decisões que irão agravar ainda mais a já frágil situação deste país.
Caro Bartolomeu:
Diz bem que o Estado tem que perceber, mas isso é uma impossibilidade. Porque se o estado percebesse, ou os políticos por ele, tudo faria para dar vida aos cidadãos, em vez de tudo fazer para promover o seu próprio engrandecimento.
As sociedades criaram o estado para exercer determinadas funções essenciais à preservação da vida em comum: justiça, segurança, defesa, bem estar social. A partir de determinada altura, a criatura engoliu o criador, e tomou o seu próprio caminho, à rédea solta, exigindo aos cidadãos cada vez mais meios para seu próprio, do estado, benefício. Tornou-se produtor, industrial, comerciante, perde dinheiro e exige que os cidadãos suportem os prejuízos. Exige sempre mais e mais.
O paradoxo é que parece evidente que os cidadãos gostam. E enquanto gostarem de satisfazer os caprichos do Estado, nada há a fazer.
A não ser pregar como Santo António aos peixes.
Como acontece aqui no 4R.
muito bem, caro Bartolomeu, sábio comentário o seu!
Uma pequena divergência, se me permite: não me parece que os que se encontram na ponta da escarpa, sobre o precipício, para usar sua alegoria, sejam aqueles que refere.
Os que o meu caro refere estão, continuam, confortavelmente sentados à mesa do restaurante, com a segurança de terem a conta paga por todos nós, ou nos macios sofás dos excelentes gabinetes que também pagamos...no Estado e seus milhares de apêndices, nas empresas monopolistas ou quase, com mercado interno garantido...
Os da escarpa são os que têm de fazer pela vida, que trabalham 12 horas por dia ou mais sem saber se no final do mês ou do ano conseguem ter a conta de exploração equilibrada porque a concorrência aperta cada vez mais, o mercado encolhe e o crédito está mais caro e mais difícil!
Esta é a realidade meu caro, isto não vai lá com poesias - com o devido respeito e a muita consideração que me merece!
Quando a China perder o seu apetite pela dívida americana (os sinais indicam que isso está a começar a acontecer), vejamos em que buraco se vão esconder todos os keynesianos de serviço. Vejamos como vão ser as cenas dos próximos capítulos, a coisa promete...
Caro Pinho Cardão,
Brilhante, como sempre, acertando na "mouche"!
E agora, para agravar esta pessegada de política económica até se relembraram de invocar que o Estado pode salvar a economia!
Vai ser bonito o resultado, quando os resultados começarem a emergir...
A solução que aí vem, na ressaca, vai repetir a velha e insuportável fórmula: mais impostos, cada vez mais impostos porque é preciso dar contrapartida a patamares de despesa pública crescentemente exigentes - não há mesmo pachorra!
Comungo do seu ponto de vista, caro Dr. Pinho Cardão. A criatura engoliu o seu criador e alimenta-se dele.
Tambem concordo que o criador da criatura se deixa imolar de forma complacente.
Contudo, sabemos todos perfeitamente que este estado letárgico de inacção, é perfeitamente alterável e que o poder para o alterar continua apesar de tudo na mão daquele que criou a besta.
Para isso, é necessário que a confiança e a alternativa surjam, consistentes e inequívocas, de forma a que o criador salte de dentro de si mesmo e aja. Tão inequívoca e tão consistente que não permita à besta ter espaço livre para continuar a seduzir e a iludir o seu criador. Tão consistente e inequívoca que não permitam ao criador pensar: Bah... chatear-me para quê se no fim as "criaturas" são todas iguais e o que querem é alimentar-se da nossa carniça.
Estamos mal, caro Dr. inequívoca e indiscutivelmente mal e estamos pior porque sentimos que o nosso povo perdeu a esperança de futuro, o povo português deixou de objectivar carreira profissional, deixou de objectivar família, as novas gerações adquiriram uma nova forma de egoísmo, de cinísmo e de autísmo.
É necessário que se demonstre claramente a alternativa para esta apatia, é necessário que se demonstre que este povo tem futuro e que esse futuro passa por uma tomada de consciência da realidade governativa e da necessidade de alterar essa realidade para melhor e não somente para que... "as moscas mudem".
Caro Dr. Tavares Moreira, acredita mesmo que existe um mercado interno garantido?
Os meus débeis conhecimentos de economia dizem-me que, para que haja um mercado interno, é necessário que exista poder de compra, e esse ha muito que se escoou.
Para que haja mercado é imprescindível que exista procura, mas só existe produção se essa procura foi visível e ela assenta em dois pilares de incontornável importância: qualidade ou quantidade. Em alguns sectores de produção, já nos caracterizámos tanto por uma como pela outra. Já possuímos uma excelente indústria de lanifícios, de calçado, corticeira, metalúrgica, piscícola, etc.
Se não formos capazes de criar, de gerar algo de novo, algo que nos projecte nos mercados internacionais, algo em que sejamos pioneiros e de que o mundo precise efectivamente, então só nos resta saber reactivar a producção daquilo para que possuímos a necessária experiência.
Esses que continuam a sentar-se às mesas de excelentes restaurantes ostensiva e abusivamente por conta do suor de muitos que se vêm aflitos para conseguir provir ao sustento das suas famílias, têm de ser descidos desse trono falso em que se encontram alcandorados. Para isso, caro Dr. Tavares Moreira, só nos resta um caminho, aquele que tive oportunidade de referir no comentário anterior:"é necessário que a confiança e a alternativa surjam, consistentes e inequívocas".
Caro Tavares Moreira
De acordo consigo.
Apenas as seguintes achegas:
Ponto 7
Ou muito me engano, ou a meio/final deste ano, vamos começar a ver ideias para "esqueçermo-nos" de toda ou de parte da amortização da dívida. Não me refiro a Portugal em concreto, mas aos líderes de opinião golbais. A seguir com atenção o "forum" de Davos.
O nosso Governo não está, de momento a contar com isso, mas estará atento.
Ponto 3
O Governo legítimo da Republica Portuguesa está, apenas preocupado com as eleições legistivas, ergo, com a manutenção da sua viabilidade e continuidade no cargo.
Dito isto, tudo fará para alcançar:
a maioria absoluta, 116 deputados;
a maioria relativa viável: os 110/112 deputados
Ponto 4
o actual Governo não faz a mínima ideia de como gerir a crise. As únicas cabeças pensantes do elenco inicial já sairam por motivos:
autárquicos, Presidente de Cãmara
de saúde, hérnia discal;
políticos, incompatibilizado com a maioria que apoiou.
Restam os seguidores sem ideias.
Vamos assistir à comprovação prática da Lei de Murphy: o que tem de correr mal, corre mal, ergo, vamos arrependermo-nos amargamente, algures entre Janeiro de 2010 e Setembro desse ano.
Com um pouco de sorte para o Governo,
a) O Porto (ou o Sporting) são campeões europeus,
b) O Sporting é campeão nacional
c) O Mourinho é campeão em Itália
d) O Sr Ronaldo é campeão em Inglaterra,
e) Seremos pré selecionados para a short list para a organização do Mundial de 2018
f) O apito dourado termina com algumas condenações,
g) Três (ou cinco) equipas da primeira liga vão à falência e não terminam o campeonato
h) O processo Casa Pia tem um desfecho surpeendente com a absolvição de parte dos arguidos;
Como vê, tudo assuntos importantes e que vão alterar o nosso futuro e permitir o desenvolvimento que tanto ansiamos.
Como lhe disse noutro comentáro, vamos ter uma estratégia galega para a economia e entretenimento suficiente com lateralidades.
No próximo ano acordamos, mal, da ressaca e com uma enorme dor de cabeça.
Cumprimentos
joão
Sem dúvida que Portugal não deve contrair mais dívida, asfixiando assim as empresas de o receberem. No entanto, pergunto quais medidas considera viáveis para aliviar este clima de pânico que paira sobre as economias.
Um economista da Economist Intelligence Unit, disse que o perigo de baixar é impostos é que o medo das pessoas fizesse com que esse dinheiro disponível a mais para as famílias, não fosse para estimular o consumo mas sim a poupança ou amortizar as dívidas. Eu pergunto-me se isto também não é importante??
Enviar um comentário