Na situação desesperada em que nos encontramos, corremos agora o risco dos unanimismos fáceis contra os “políticos”, os “ricos”, os “bem instalados” e, pelo andar da carruagem, em breve contra os “empregados” e os profissionais que tenham conseguido ter um nível de vida até há pouco considerado como classe média que se orgulhava de, com o seu trabalho, ter conquistado algum bem estar. Dir-se-á que é normal, na falta de culpados voluntários há que encontrar outros bodes espiatórios, aliás “os outros”, nunca os próprios, é claro, de resto são muitas vezes os que querem passar incólumes que mais atiçam os ódios contra quem não possa, por pouca defesa, sair da berlinda. Digamos que, como sempre nestas ocasiões, para dar dimensão digna ao escândalo pagará também o justo pelo pecador, o que mais veremos é que os pecadores vão safar-se porque os ódios se vão entreter a discutir se os justos serão assim tão justos ou não, os pecadores já há muito aprenderam a passar à sombra enquanto o sol arde com força. Interessa pouco, a História é fértil em exemplos do que acontece quando é preciso lançar uns quantos à voragem dos descontentes, ainda que muito justamente descontentes, mas nem por isso mais exigentes quanto à selecção dos que lhes merecem ajuste de contas.
Conheci e conheço muitos políticos honestos, pessoas que trabalharam arduamente pelo que consideravam ser o interesse de País, conheço muitas pessoas que trabalharam nos gabinetes com total entrega, sem exigências absurdas nem defesa de interesses próprios, muitas vezes até com prejuízo do seu tempo à família e da sua carreira profissional. Conheci e conheço muitos gestores, públicos ou não, que trabalharam ou ainda trabalham pelas suas empresas como profissionais com brio, que trouxeram valor e riqueza para as suas empresas, conheço e sou amiga de muitos profissionais que trabalharam a dobrar e descontaram para as suas reformas, confiantes de que esse duplo labor lhe poderia assegurar uma velhice melhor, em vez de terem chegado a casa todos os dias às seis da tarde, numa rotina tranquila que hoje os colocaria do lado dos que se lamentam em vez do lado dos “culpados da crise”. Pessoas que mereceram bem o que ganharam, pessoas honestas e dignas de todo o respeito, profissionais daqueles que um dia reclamamos como muito necessários ao País e à vida política e no outro incitamos, com ódio, a devolver o que ganharam. É preciamente pelo prestígio e dignidade que muitos desses deram a certos lugares que alguns mediocres hoje os cobiçam ou ocupam, convencidos de que a luz alheia lhes dará o brilho que não têm, como se os cargos e o dinheiro fizessem o valor das pessoas e não o contrário.
Digo isto em homenagem a todos os que, de vários quadrantes políticos, tive a honra de conhecer e o prazer de estimar e admirar, e considero-me uma pessoa privilegiada porque através deles, do seu exemplo e da sua dedicação, pude também acreditar no meu País. E indigno-me quando, na voragem de uma revolta bem compreensível, o terrível meandro da busca de culpados leva a generalizações que recusam distinguir os méritos, dando com isso uma consoladora vitória aos incapazes.
Conheci e conheço muitos políticos honestos, pessoas que trabalharam arduamente pelo que consideravam ser o interesse de País, conheço muitas pessoas que trabalharam nos gabinetes com total entrega, sem exigências absurdas nem defesa de interesses próprios, muitas vezes até com prejuízo do seu tempo à família e da sua carreira profissional. Conheci e conheço muitos gestores, públicos ou não, que trabalharam ou ainda trabalham pelas suas empresas como profissionais com brio, que trouxeram valor e riqueza para as suas empresas, conheço e sou amiga de muitos profissionais que trabalharam a dobrar e descontaram para as suas reformas, confiantes de que esse duplo labor lhe poderia assegurar uma velhice melhor, em vez de terem chegado a casa todos os dias às seis da tarde, numa rotina tranquila que hoje os colocaria do lado dos que se lamentam em vez do lado dos “culpados da crise”. Pessoas que mereceram bem o que ganharam, pessoas honestas e dignas de todo o respeito, profissionais daqueles que um dia reclamamos como muito necessários ao País e à vida política e no outro incitamos, com ódio, a devolver o que ganharam. É preciamente pelo prestígio e dignidade que muitos desses deram a certos lugares que alguns mediocres hoje os cobiçam ou ocupam, convencidos de que a luz alheia lhes dará o brilho que não têm, como se os cargos e o dinheiro fizessem o valor das pessoas e não o contrário.
Digo isto em homenagem a todos os que, de vários quadrantes políticos, tive a honra de conhecer e o prazer de estimar e admirar, e considero-me uma pessoa privilegiada porque através deles, do seu exemplo e da sua dedicação, pude também acreditar no meu País. E indigno-me quando, na voragem de uma revolta bem compreensível, o terrível meandro da busca de culpados leva a generalizações que recusam distinguir os méritos, dando com isso uma consoladora vitória aos incapazes.
26 comentários:
A comunicação social tem muito a ver com a situação desse unanimismo fácil. A crítica destrutiva vende mais que a valorização de alguma coisa ou de alguém. Este jornalismo, muitas vezes, mediocre (não é crítica construtiva ou destrutiva, é apenas a constatação de um facto) germina, em força, nas mentes já de si com propensão à denegrição de um trabalho bem feito. Para quem não está em contacto directo com a situação, basta ler os comentários dos vários blogues que pululam a blogosfera. As crónicas sobre o bom desempenho de um político, por exemplo, não são frequentes.
Talvez fosse uma boa ideia se alguém escrevesse uma crónica, de vez em quando, sobre o excelente desempenho de um político, a filantropia de um rico ou de um bem instalado, não esquecendo o cidadão ou a cidadã comum que não aparece nos jornais e revistas. É um desafio. : )
Cara Suzana :)
Não sei se conseguiria ter um discurso tão tolerante como o seu... ou melhor, por acaso até sei. Sei que não conseguiria ter um discurso tão tolerante como o seu.
Eu não considero nada normal procurar "bodes expiatórios" para assumir a culpa da crise. Os "culpados da crise" somos todos nós.
Nós é que compactuamos com a cultura com a cultura do facilitismo.
Nós é que ensinamos às nossas crianças (a.k.a gerações futuras) que há regras, mas essas só se aplicam aos outros, ignorando que somos sempre o outro de alguém. Nós, que temos orçamentos domésticos restritos, mas levamo-las para os centros comerciais e hipermercados e esperamos que não façam birras (ainda por cima somos sádicos).
De um modo geral, nós é que vivemos bem acima das nossas posses e temos as prioridades bem definidas. Ganhamos 490 euros, mas 300 são para comprar um telemóvel de última geração. Pagar a prestação da casa ao banco é que já é mais complicado, mas também, assim como assim, primeiro que os bancos consigam despejar alguém leva tempo e depois demonstrando intenção em negociar para resolver o problema, ainda leva mais tempo e entretanto com um bocadinho de sorte e fé em nossa senhora de fátima, a crise passa.
Nós queremos ganhar bem, agora ter de trabalhar a sério é que já é mais chato. A técnica é, trabalhamos 6 meses e depois vamos para o desemprego, o problema é que agora lembraram-se que temos de assinar uns papeluchos para demonstrar que estamos à procura de emprego... não faz mal, vamos aí a uma lojeca ou supermercado pedir para nos assinarem o raio do papel e o assunto fica resolvido.
A culpa é do governo, dos políticos, ou de quem quer que seja? Naaaah, eles são só o resultado dos nossos comportamentos (com uma boa ajuda do marketing político).
Compreendo muito bem esta justa homenagem a todos aqueles que, como muito bem dá a entender, exerceram os seus cargos com total honestidade, bom senso, competência, e que agora se vêem embrulhados num rol imenso, sem distinção, como se fossem os causadores da crise que esta incompetência generalizada insiste em manter…
A situação actual é tanto mais revoltante quanto a desfaçatez com que se pedem sacrifícios ao povo que já nada tem, e ao mesmo tempo se promovem eventos com resquícios da monarquia, a revelar a ideia de que aquilo que nos projecta é para se manter, são custos do sistema…
Revoltante ainda é –ausência de argumentação que justifique, minimamente, o saque aos vencimentos das pessoas, como se tudo isto fosse o mais natural, não houvesse lei nem roque, e as pessoas fossem apenas dígitos de uma conjuntura adversa…
Vamos ver aonde é que tudo isto vai dar…
Cara Suzana Toscano
Subscrevo em grau género e número o comentário de ANTHRAX.
Até ao dia em que deixarmos de "inventar" a realidade e ver a que nos rodeia, vamos sempre ver no mau algo de bom, esquecendo que o bom que vemos no mau é um mau menos mau e não um bom no meio do mau....
Sendo "simpático" o problema (nosso/comum) pode ser de paralaxe, se for esse o caso, ainda saímos desta enrascada em cinco/seis anos; mas se não for, então vamos estar uns bons 12 anos enrascados...
Sabe, estamos todos no mesmo barco mesmo que alguns pensem que não....
Cumprimentos
joão
http://jornal.publico.pt/noticia/03-10-2010/tudo-o-que-os-alunos-devem-saber-no-final-de-cada-ciclo-20331294.htm
Posso estar a ser "mismatcher", mas não entendo a homenagem. Até Adolf Hitler acreditava que estava a fazer o melhor e, certamente, fazer tanta asneira dava trabalho.
Como tudo na vida, há riscos e puros defendores da causa pública nunca existiram, nem mesmo o outro de há 1990 anos. Vir agora dizer, depois da coisa dar para o torto, que o sujeito era muito empenhado, essa não.
Pelo que entendi deste texto da cara Susana é que existem políticos e profissionais competentes de quem ninguém fala, não é? Os que estão a desgovernar em grande escala, com o maior desplante e desconhecimento absoluto de como se deve governar um país tendo o bem da população em vista, não estão a ser defendidos. Eu, por minha parte, não encontro defesa que lhe valham.
Cara Susana,
Assino por baixo o que escreveu o Anthrax e acrescento que esta república se transformou numa oligarquia.
Cara Susana,
Tenho a necessidade de deixar claro um problema que é muito caro à geração da qual faço parte:
"conheço e sou amiga de muitos profissionais que trabalharam a dobrar e descontaram para as suas reformas, confiantes de que esse duplo labor lhe poderia assegurar uma velhice melhor, em vez de terem chegado a casa todos os dias às seis da tarde"
O problema é que actualmente há diversas gerações que trabalham o dobro, recebem como salário uma fracção daquilo que recebem os reformados da mesma profissão e nunca terão uma reforma que tenha alguma coisa de semelhante com o salário que auferem. Escrevi gerações, porque temos em mãos um problema geracional que poderá levar a consequências difíceis de prever se o bom senso não imperar.
Caro Fartinho da Silva,
Também concordo com a perspectiva geracional e presumo que não esteve presente na Futurália deste ano, porque se estivesse estado ainda hoje estaria a chorar.
Digo-vos, eu estive presente (porque apesar dos esforços não consegui escapar-me) e digo-vos, ainda tenho pesadêlos de hoje em dia. Foi uma experiência aterradora.
Foi muito triste tomar consciência do que estamos a fazer às gerações futuras.
Sabem qual era o stand mais popular? Era o stand da ETIC. Sabem porquê? Porque são eles os responsáveis pelo casting dos Morangos com Açucar e estavam a fazer castings. As filas de miúdos eram intermináveis, o barulho era ensurdecedor e eu dei comigo a pensar "Está tudo lixado".
Os nórdicos fazem campeonatos de skills, nós fazemos castings para os Morangos com Açucar.
Caro Anthrax,
Também assisti, infelizmente... é a cultura criada pela geração que fez o 25 de Abril e que obrigou a escola pública a seguir a ideologia dominante.
Já reparou que quem tem mais de 60 anos tem imensos direitos, quem tem menos de 30 tem imensos deveres?
Já reparou ainda que quem tem menos de 40 anos sabe que:
- terá um salário com tendência para baixar (andamos nisto desde 2001);
- tem que pagar a escola dos filhos, porque a escola pública é um dos maiores embustes criado pela geração que fez o 25 de Abril;
- tem que poupar imenso dinheiros todos os meses, porque sabe que é pouco provável que venha a ter reforma;
- tem que poupar ainda mais porque sabe que pode ficar desempregado e sabe que este seguro tem tendência para terminar;
- tem que poupar para a saúde porque sabe que mais cedo ou mais tarde vai ter que pagar, porque a saúde pública ficará igual ao ensino público.
E depois olha para familiares, amigos, colegas ou conhecidos de gerações mais velhas e o que vê? Observa que:
- acumulam reforma(s) com salários;
- as suas reformas são mais do dobro do seu salário e essas reformas são pagas através dos seus impostos pagos com base no seu salário (algo aqui não bate certo);
- não gastaram um tostão com a educação dos seus filhos, porque a escola pública na altura era uma escola incomparavelmente melhor;
- não podiam ficar desempregados, e se por alguma razão tal acontecesse tinham direito a um seguro superior ao próprio salário;
- quando faziam horas extraordinárias, eram pagas;
- podiam acumular empregos;
- progrediam na carreira;
- etc..
Será que estou enganado ou estamos aqui com um problema óbvio? Será que as gerações mais novas têm que pagar os direitos das gerações mais velhas, tendo um rendimento cada vez menor? E quem vai pagar os direitos às gerações que têm um rendimento cada vez menor? Se não é ninguém, então há aqui um problema. Se há um problema, tem que ser resolvido.
Isto é para mim muito claro. Se as gerações mais velhas pedem (e bem) que as gerações mais novas as ajudem, as gerações mais velhas têm a obrigação de não se esquecer do que está a acontecer às mais novas.
E eu que pensava que era a única a ter o pesadêlo da Futurália!
De resto partilho da sua perspectiva. E acho que há, efectivamente, um problemazito demográfico que não está - nem de perto, nem de longe - em vias de ser resolvido.
Cara Anthrax,
E repare como tantos aplaudiram a reforma socialista da segurança social, quando o que foi feito foi um coisa muito simples:
"Para nós ainda há dinheiro, para vocês mais novos, pedimos muita desculpa, mas já não há." E pedem solidariedade às gerações mais novas?? Mas andamos a brincar?
Desculpem lá, qual reforma socialista?
E a proposta pelo PSD que estava igualmente errada? Aqueles que propunham esta têm tanta culpa como aqueles que apoiavam aquela. Curiosamente, ainda vejo centenas de pessoas a defender aquilo que o PSd propunha e que era asneira. Essa centenas de pessoas estão mal intencionadas? Não, mas têm tanta culpa como os outros.
Catarina, acho que esse desafio está condenado ao fracasso, caberá à História fazer os seus juízos.Mas o que acontece é que, com estes juízos generalistas, não temos que nos admirar de ser cada vez mais difícil que pessoas capazes se aproximem sequer de cargos de responsabilidade pública.
Cara Anthrax, mais uma vez ainda bem que voltou de viva voz, é um gosto tê-la de novo entre os nossos 4republicanos :)Eu não estou a ser tolerante, procuro apenas ser justa, não por rigor mas mais por medo de ver que se afastam da vida pública os que não querem ver-se enredados nesta teia. Concordo com a sua análise, foi confortável para todos acreditarmos que "alguém" tomaria conta, e ainda educamos os miúdos nos mesmos embalos. Mas como lutar contra essa corrente sem ficar de fora e "perder oportunidades"? Há anos que se fala e alerta para o excesso de endividamento das famílias, mas quem não tem um plasma ou um telemóvel de última geração é no mínimo um tótó. E quem alertou era velho do Restelo...
Caro jotac, vamos empobrecer, qual é a dúvida, mas se a revolta impedir o espírito crítico não se melhora nada.
Caro joão, concordo consigo, o menos mau já nos alivia o medo porque continuamos a ter medo de que venha o pior, já não esperamos o bom.
Caro Tonibler, não há problema nenhum em discordar, aliás reconheço que eu é que vim em "contraciclo" mas preciso de acreditar que há pessoas de bem, ainda não me tornei (sou teimosa) uma céptica total. Daí que discorde do seu exemplo do Hitler e dos que se alegam bem intencionados porque isso leva a que, condenando-se todos, se redimam todos.E a Catarina acabou por se antecipar à minha explicação...Obrigada, catarina!
Caro fartinho da Silva, percebo o seu ponto mas não acredito que a "justiça intergeracional" se faça assim a frio, ao sabor das circunstâncias de cada momento.Essa geração foi também a que construiu o Estado Social, a que permitiu que os mais novos tivessem hospitais e escolas e universidades e estradas e viagens...Hoje estão reformados mas as suas reformas hão-de perigar tanto como as nossas, lembro-me muito bem de pessoas que se reformaram na década de 80, e antes, e depois a inflação levou-lhes boa parte do que tinham como certo. Se tirarmos aos reformados o que têm hoje vamos todos viver melhor por causa disso? Não sei se será inevitável mas não o coloco em termos de justiça actual, quem pode trabalhar tem a esperança de recuperar, quem já saiu da vida activa já não pode defender-se e a velhice será longa e dura. E, já agora, há muitos reformados que são o suporte de filhos desempregados e de netos que ainda estudam, tenho dificuldade em olhar só para a conta bancária e dizer "corte-se!", será que não é o caminho mais curto para atenuar ainda mais essa solidaderidade intergeracional? Mas reconheço a dificuldade do tema.
Caro Tonibler, até hoje não se encontrou uma solução que supere a quebra de natalidade e o fraco crescimento económico, projectados ambos para o futuro. Uma coisa é tentar sem conseguir,mas tentar seriamente,arriscando o que parecia ser o melhor, outra coisa é considerar que todos os que falharam (porque tentaram) merecem o nosso desprezo e o nosso ódio como se fossem malfeitores. Uma coisa é continuarmos a assobiar para o ar, teimando na cegueira de não ver o que está à vista, outra é antecipar e tentar corrigir, não se chegando a saber se resultaria ou não.
Caro Paulo, partilho inteiramente esse sentimento sobre a culpa e a preocupação de julgar em vez de compreender para evitar no futuro os mesmos erros. Parece que as pessoas se demitem de ter sido parte, que aceitaram o que lhes deram como se não tivessem escolha e depois apontam o dedo a todos, como consolo. É claro que não é fácil perder o horizonte e muito menos quando se podia ter evitado, ao menos em grau. Mas também é verdade que os jovens de hoje tiveram acesso a mil coisas que na geração anterior estava fora de cogitação, não sei se vão ter o mesmo conforto material mas em geral estão muito melhor preparados do que os seus pais e avós para enfrentar as dificuldades e compreender o que precisam de fazer. Enganámo-nos todos ao pensar que tudo estaria garantido para sempre? Só por ignorância elementar da História poderíamos ter essa arrogância, nunca nada está garantido, apenas podemos fazer, em cada momento, o melhor que podemos e sabemos, honestamente, e partilhar com os mais novos e os mais velhos o que formos conseguindo. Essa é a verdadeira solidariedade intergeracional, não é atirar culpas e criar vítimas, indiscriminadamente.
Cara Suzana,
Nem uma que supere o compromisso que tem com os seus concidadãos de não os deixar morrer à fome. Por isso a proposta do PSD de atirar as pessoas para os fundos de pensões, não só era mal feito em termos de gestão do fundo de pensões geral que é a segurança social, como não resolve o problema dessas pessoas em concreto. Ninguém falou em assobiar para o ar, mas o contrário de assobiar para o ar não é fazer qualquer coisa, por mal feita que seja.
Cara Susana Toscano,
"E, já agora, há muitos reformados que são o suporte de filhos desempregados e de netos que ainda estudam, tenho dificuldade em olhar só para a conta bancária e dizer "corte-se!", será que não é o caminho mais curto para atenuar ainda mais essa solidaderidade intergeracional?"
Também conheço casos desses, infelizmente. Mas também conheço cada vez mais casos de filhos a contribuírem com parte do salário para cobrirem as miseráveis reformas dos seus pais. Lembre-se que a grande maioria dos pensionistas portugueses recebe uma pensão inferior a 400€.
É que Portugal, ao contrário do que os nossos dirigentes apregoam, é um país extremamente desigual. Se temos quem receba 6000€ de reforma por ter trabalho meia dúzia de meses, temos também quem receba 200€ por ter trabalhado desde os 6 anos de idade. E naturalmente que num país como o nosso, a maioria da população encontra-se mais perto do segundo caso do que do primeiro.
E não me interprete mal. Não duvido das boas intenções da geração que fez o 25 de Abril, mas o que me espanta é a falta de humildade de tantos para reconhecer os enormes disparates criados e a enorme falta de vontade em dar um murro na mesa para se tentar inverter o caminho. A escola pública é, para mim, o maior exemplo. Todos sabemos que isto não pode continuar, mas poucos são aqueles que contribuíram para o desastre que tentam inverter a trajectória. Até o ensino superior se transformou numa máquina política. Temos faculdades e politécnicos em povoações tão densamente povoadas como Seia, Oliveira do Hospital, Mirandela, Idanha-a-Nova, entre muitos outros casos. O endividamento é outro assunto assustador, os juros pagos pelo contribuinte representam já todo o orçamento da educação. E continuamos a ouvir e a ler tanta gente a defender a construção de mais estradas, tgvs, aeroportos, etc., etc., sabendo que quem os vai pagar são as gerações que estão a ficar completamente sufocadas com tantas e tantas contas.
A solidariedade intergeracional não pode ser apenas num sentido.
JotaC, dei uma olhadela nas novas metas de aprendizagem que não me parecem nada ambiciosas de forma a que Portugal “ocupe um lugar mais favorável na competição internacional...”.
Para começar, as metas no final do pré-escolar não acompanham as de determinados países. As crianças deverão saber contar até 30 e reconher os números até 10. No segundo ciclo deve saber fazer um comentário num blogue? Hm! E no final do nono ano o aluno deve saber escolher um livro? Essa aptidão já a deveria ter adquirido muito mais cedo.
Na minha opinião – pelo que vale – ainda não são estas metas que vão assegurar um educação de qualidade.
Cara Catarina,
As metas de aprendizagem são mais um embuste, porque todos sabemos que não são aplicáveis. Se o fossem... o número de chumbos subiria em flecha e isso é politicamente incorrecto, porque "as crianças e os jovens têm direito ao sucesso", palavra de Ministra...
Fartinho,
As metas de aprendizagem existem sempre e não se destinam aos alunos, destinam-se aos professores. Se o número de alunos chumbados subir em flecha então devemos procurar os profissionais que saibam lidar com os novos objectivos e dispensarmos aqueles que não saibam. Uma das grandes razões do nosso défice é essa, somos quem mais gasta em educação e temos os piores resultados.
Metas de aprendizagem é exactamente aquilo que o ministério deve fazer. Mesmo que não faça mais nada, como gerir pessoal.
Pois é, caro Fartinho, até talvez seja assim como diz... Fico sem comentários quando leio que “as metas... como não são documentos normativos, não são de aplicação obrigatória.”
E assim “anda” a educação em Portugal...
Não pude deixar de sorrir quando li que “o aluno deverá saber escrever um comentário num blogue.” : ) Eu comecei a escrever comentários em blogues há um ano... : )
Cara Dra. Suzana Toscano:
"(...)Caro jotac, vamos empobrecer, qual é a dúvida, mas se a revolta impedir o espírito crítico não se melhora nada.(...)"
Qual é a dúvida!?. Nenhuma: há culpados e são todos aqueles que desde há 35 anos, de eleição em eleição, vêm prometendo um país na linha da frente...
Posto isto quero informar V. Exa. que tomei a liberdade de replicar este artigo na rede social (facebook), dado o interesse do tema que, a meu ver, merece ser partilhado. Suponho que não tenha nada a objetar!... Muito obrigado.
Caro Tonibler,
Concordo com o que afirmou se a "escola" pública não fosse um enorme e permanente recreio. Estas metas não vão ser utilizadas para coisa nenhuma, porque o Ministério da "Educação" não o quer e não o quer porque exigir alguma coisa aos alunos vai contra a ideologia dominante. A ideologia dominante defende que os alunos devem em primeiro lugar socializar e depois devem aprender qualquer coisa, mas nada de muito complicado porque podem ficar "traumatizados" e a "escola" pública deve entender e compreender a cultura dos alunos quando os mesmos mandam o professor para aquele sítio ou quando atiram com uma cadeira contra o colega do lado ou até contra o professor.
A "escola" pública de hoje nada tem a ver com a escola dos anos 70! Foi capturada pela demagogia política, onde se defende que se pode aprender sem esforço e trabalho e por grupos de interesse: burocratas, psicólogos da venda da banha da cobra (são a maioria, infelizmente. Conseguem escrever relatórios a dar conta que a preguiça e/ou a má educação são doenças... e que os professores e alunos que querem aprender devem compreender e aceitar e até que os professores devem fazer testes muuuuuuuuuuuuuuuito fáceis), escolas superiores de "eduquês", centros de investigação em "eduquês", centros de inovação em "eduquês", direcções gerais e regionais de inovação burocrático-ideológica aplicado nas "escolas", etc..
O Ministério da "Educação" sabe isto muito bem e não quer alterar o status quo e não quer, porque o governo correria o risco de perder as eleições. É tão simples como isto. Os grupos de interesse não estão interessados em largar o osso, porque é a única forma de se sentarem à mesa do Orçamento de Estado...
E posso-lhe garantir que estes grupos de pressão estão a tentar entrar em força nas escolas privadas de excelência, onde muito me orgulho de trabalhar e muito receio tenho que o meu colégio se deixe ir na onda da ideologia dominante.
Caro Tonibler, confesso-lhe que na altura a minha reacção foi idêntica à sua e ainda hoje seria se entretanto não se tivesse tornado uma realidade o corte na formação das pensões no futuro. Pior ainda, os actuais pensionistas irão com grende probabilidade ver reduzidos directamente os montantes que obtiveram na fórmula antiga, pelo que vejo será uma questão de (pouco) tempo se não quisermos ter em conta que passaram a descontar impostos e contribuições que antes não descontavam,ou seja, já reduziram.Ássim sendo, parece-me que entre uma proposta que critica e o que se verifica na prática, na primeira ainda haveria uma réstea de liberdade pelo menos para os que saberiam investir as suas poupanças e assim não há. Mas ainda não vi nenhuma proposta mais animadora...
Caro Fartinho da Silva, claro que tem razão em muito do que diz mas também não generalizemos os casos extremos dos que ganham pensões desproporcionadas ao que trabalharam e tinham como salário. Mesmo considerando os regimes mais favoráveis, os salários base não eram, nem pouco mais ou menos, da ordem dos 6 000 euros, pelo menos no Estado. Mas, como lhe diss, é um tema ém que todos temos alguma razão...de queixa.
Caro jotac, este é um espaço de troca de opiniões em que muito aproveitamos com a achega de cada um, se escrevi o post é porque me pareceu interessante suscitar o debate e agradeço-lhe o interesse que demonstrou ao divulgá-lo.
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