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domingo, 13 de fevereiro de 2005

AritmÉtica política

Por entre repetidas declarações de vitória futura, nos “backstage” partidários continua-se a fazer contas e a elaborar sobre cenários para o pós-20 de Fevereiro. É um exercício irresistível, mas também necessário para orientar a última semana de campanha eleitoral.

Entre os socialistas trabalha-se sobre o ter ou não ter maioria absoluta.

Mais à esquerda, a regressão comunista confronta-se com o entusiasmo bloquista: pela primeira vez fala-se da hipótese de o BE ultrapassar o PCP. Se acontecer e quando acontecer, será um marco histórico. É ainda um pouco cedo, mas …

À direita, o CDS-PP anseia consolidar-se como terceiro partido político, minimizando prejuízos e potenciando benefícios da sua passagem pelo Governo.

Resta o PSD que na última semana deixou-se cair na armadilha de andar a discutir a derrota. O discurso sobre a “fasquia” é isso mesmo e a polémica em torno da posição de Cavaco Silva, da participação de Miguel Cadilhe num futuro governo laranja ou o futuro anúncio de “perfis” ministeriáveis, não disfarçam a azáfama em torno de cenários pós-legislativas e pré-presidenciais.

Para mim é insignificante se a fasquia está acima ou abaixo dos 30, dos 35 ou dos 40 por cento. O problema do PSD não está no quanto, está no como. O problema actual do PSD não está na aritmética, está na ética. Não está nas palavras, está nos princípios. Não está no resultado eleitoral, está na integridade do seu património político e da sua identidade.

Quem se lembrar do que aconteceu ao PSD em 1995 poderá comparar e assinalar as semelhanças e as diferenças. Para quem, como eu, não apoiou Fernando Nogueira, mais à vontade estará para avaliar a situação inédita que os sociais-democratas vivem hoje. Naquela altura tinha todo o sentido discutir resultados, porque em nenhum caso foi posta em causa a verticalidade, o sentido de estado, os princípios que me habituei a encontrar no PSD. Nessa altura, parafraseando Aristófanes, ainda demos “aos sábios a impressão de vos terdes enforcado de boa árvore”. Agora nem isso.

O que mais me dói é olhar para o lado esquerdo e ver as mesmas pessoas, as mesmas ideias, os mesmos vícios, a mesma irresponsabilidade que conduziu a economia e a sociedade ao estado de degradação em que se encontra, serem branqueados como se nada de especial tivesse acontecido entre 1995 e 2002, como se nenhum deles tivesse o mínimo de responsabilidade perante a crise que nos acorrenta. Pelo contrário, passeiam-se como heróis reabilitados pela lógica do mal menor. Dói…

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