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terça-feira, 15 de novembro de 2005

As vacas modernas

Neste momento está a ser discutido no Parlamento Europeu um importante documento sobre o registo, avaliação e autorização de químicos. As razões subjacentes a esta iniciativa prendem-se com o crescendo do mundo químico que nos envolve a todo o momento. Muitas substâncias químicas são responsáveis por vários tipos doenças que vão desde as alterações genéticas a certas formas de cancro, passando pelas alergias e doenças respiratórias, entre outras. Claro que não está a ser fácil conciliar os inúmeros interesses em jogo. De qualquer forma, algo terá de ser feito para bem de todos, mas, sobretudo, para bem dos nossos filhos e netos.
A este propósito, não queria deixar de comentar alguns aspectos relacionados com a exposição a determinadas substâncias que podem igualmente provocar problemas de saúde. Muitas dessas substâncias são dotadas de actividades idênticas às hormonas femininas e podem ser encontradas em vários materiais, tais como certos plásticos, por exemplo. Mesmo em doses mínimas, são capazes de provocar alterações fisiológicas ao longo dos anos. Outros produtos, considerados como essenciais – fazem parte do nosso dia a dia – e que não podemos nem devemos dispensar, começam a ser alvo de estudos e de atenção particular, devido ao possível efeito de hormonas sexuais femininas. É o caso do leite. Investigadores japoneses e norte-americanos estão particularmente preocupados com o facto do leite de vaca conter quantidades consideráveis de estrogénios. As vacas leiteiras de hoje continuam a produzir leite até cerca de metade da gravidez. Durante este período os estrogénios sobem no sangue e, consequentemente, no leite.
Utilizando os dados de consumo de leite e a incidência dos cancros da mama, do ovário e do endométrio, de muitos países, os autores estabeleceram uma relação positiva, facto que não deixa de ser preocupante. Andei a ver se o nosso país fazia parte do estudo, mas não o encontrei. Talvez os autores desconheçam a nossa existência, ou então, não possuem dados, a não ser que considerem as nossas vacas como especiais! O que não acredito. De facto, apesar do homem beber leite há muitos séculos, sem que isso originasse qualquer problema de saúde maior, as vacas, nessas alturas, tinham uma postura diferente. Andavam pachorrentamente pelos campos, nem estavam sujeitas a uma produção intensiva que chega a arrastar-se até ao final da primeira parte da gravidez.
Convém salientar que é aconselhável que continuemos a beber leite, sobretudo as crianças.
O próprio leite escolar é vital como complemento alimentar. O estado gasta dez milhões de euros por ano no seu fornecimento às crianças do primeiro ciclo. Os que lidam com a realidade diária destas turmas referem elevada desmotivação no seu consumo. Não estou a ver as crianças do primeiro ciclo a rejeitar o leite com medo dos efeitos hormonais femininos! São os maus hábitos alimentares promovidos pela publicidade e pelo “carinho” dos papás, os principais responsáveis. Entretanto, as vacas mereciam mais atenção e mais liberdade….

1 comentário:

O Reformista disse...

Estive recentemente num curso de reciclagem de ginecologia.
Em relação à incidência de cancros da mama que ali foi apresentada umas simples contas de cabeça deram para me aperceber que só este ano diagnostiquei neoplasias da mama, na minha lista de cerca de 1000 mulheres, muito superior ao que seria de esperar.