Vivemos numa época do pronto-a-comer, pronto-a-vestir, pronto-a-servir, em que tudo parece feito e organizado de modo a caber exactamente nas nossas medidas, a satisfazer sem demoras uma necessidade, está ali à mão, é só escoher e pagar, se não ficar contente é devolver e escolher o que lhe serve melhor. De certa forma, confia-se que alguém pensou no assunto e é só ficar à espera que a solução não precise da intervenção do interessado.
Esta fúria de resposta a la minute contaminou todos os sectores e hoje servem-se também “pacotes” de teorias para tudo e mais alguma coisa, desde “como fazer o seu casamento feliz” até “como conseguir o melhor emprego” ou “como preparar-se para o futuro”. Tudo tem uma resposta standardizada, os modelos estão aí, se não sabe escolher é porque o defeito é seu, nós avisámos.
Resulta daqui que os jovens que já cresceram neste mundo do pronto-a-consumir acabam por ficar à espera de caber num destes formatos de sucesso garantido e tendem a ignorar – porque não lhes é dito com clareza -, que há uma parte significativa destes modelos que é só tentativa, que não há milagres e que a vida não é uma linha contínua ascendente, toda a gente conhece altos e baixos e que os falhanços são tão duros quanto a ambição que se colocou no objectivo.
Arriscar implica ganhar ou perder, e o gosto por esse risco só é uma vantagem se estiver lá a consciência de que pode ser preciso tentar de novo.
Os mais velhos, pais ou patrões, têm hoje um discurso um bocado contraditório: estimulam a iniciativa, propalam aos sete ventos que o sucesso é de quem se atreve, mas depois cobram fortemente pelo fracasso, como se ele não fosse uma parte da equação. E os garotos sentem-se perdidos e são, por isso mesmo, muito mais vulneráveis do que seria de supor quando tudo parece estar-lhes ao alcance da mão.
A questão do emprego vem carregada de expectativas e é muito fácil sentirem-se infelizes ou “desmotivados” ao fim de curtas experiências, numa incapacidade preocupante de tirarem proveito e aprendizagem de cada coisa que lhes acontece. Essa ansiedade faz com que queimem etapas, desvalorizem o que têm e se tornem muitas vezes em pessoas infelizes, revoltadas contra o mundo que lhes negou o el dourado que lhes agitavam à frente do nariz e deitam muitas vezes a perder os talentos e as capacidades que realmente possuem.
É preciso lembrar aos mais novos que, como diz um poema cantado por Maria Bethânea, “cada um traz em si a capacidade de ir tocando para a frente e de ser feliz”. Não há fórmulas garantidas se não se souber isso.
Esta fúria de resposta a la minute contaminou todos os sectores e hoje servem-se também “pacotes” de teorias para tudo e mais alguma coisa, desde “como fazer o seu casamento feliz” até “como conseguir o melhor emprego” ou “como preparar-se para o futuro”. Tudo tem uma resposta standardizada, os modelos estão aí, se não sabe escolher é porque o defeito é seu, nós avisámos.
Resulta daqui que os jovens que já cresceram neste mundo do pronto-a-consumir acabam por ficar à espera de caber num destes formatos de sucesso garantido e tendem a ignorar – porque não lhes é dito com clareza -, que há uma parte significativa destes modelos que é só tentativa, que não há milagres e que a vida não é uma linha contínua ascendente, toda a gente conhece altos e baixos e que os falhanços são tão duros quanto a ambição que se colocou no objectivo.
Arriscar implica ganhar ou perder, e o gosto por esse risco só é uma vantagem se estiver lá a consciência de que pode ser preciso tentar de novo.
Os mais velhos, pais ou patrões, têm hoje um discurso um bocado contraditório: estimulam a iniciativa, propalam aos sete ventos que o sucesso é de quem se atreve, mas depois cobram fortemente pelo fracasso, como se ele não fosse uma parte da equação. E os garotos sentem-se perdidos e são, por isso mesmo, muito mais vulneráveis do que seria de supor quando tudo parece estar-lhes ao alcance da mão.
A questão do emprego vem carregada de expectativas e é muito fácil sentirem-se infelizes ou “desmotivados” ao fim de curtas experiências, numa incapacidade preocupante de tirarem proveito e aprendizagem de cada coisa que lhes acontece. Essa ansiedade faz com que queimem etapas, desvalorizem o que têm e se tornem muitas vezes em pessoas infelizes, revoltadas contra o mundo que lhes negou o el dourado que lhes agitavam à frente do nariz e deitam muitas vezes a perder os talentos e as capacidades que realmente possuem.
É preciso lembrar aos mais novos que, como diz um poema cantado por Maria Bethânea, “cada um traz em si a capacidade de ir tocando para a frente e de ser feliz”. Não há fórmulas garantidas se não se souber isso.
Concordo na íntegra com as considerações colocadas no seu post, cara Drª. Suzana.
ResponderEliminarAtrevo-me porém a acrescentar um pormenor que considero também importante. O conhecimento.
Não me refiro ao conhecimento empírico de matérias herméticas, mas sim ao conhecimento das generalidades que compõem a vida e a experiência dos mais velhos. Todos citamos frases proferidas pelos nossos familiares mais velhos, que por algum motivo nos ficaram gravadas na memória.
Frequentemente tomamos o sentido ou o conteúdo dessas frases como orientação para a solução de problemas que nos surgem. Neste conhecimento, incluo ainda o conhecimento de nós mesmo, o nosso conhecimento físico, exterior, que conduz de uma forma natural, ao conhecimento interior. Garanto que não me estou a referir a aspectos transcendentais na área do ocultismo, mas sim e não só ao aspecto espiritual. Por exemplo, um dos habitos que cada um de nós observa diáriamente e ao qual, por norma, dedica pouquíssimo tempo, é ao pentear. O acto de pentear, encontra paralelos em diferentes filosofias esotéricas e, poderá comparar-se à limpeza da aura, praticada por exemplo no Reiki. Mas, contornando esta questão do Reiki e focalizando a atenção no pentear exclusivamente, compreendemos com facilidade que se prolongarmos este "exercício" aos poucos começamos a sentir um bem-estar físico e psicológico, que será mais intenso se fôr outra pessoa a praticá-lo a nós. As senhoras sabem melhor do que falo, pois têm a experiência do cabeleireiro. Ora bem, o pentear, é em regra praticado em frente ao espelho, mas habitualmente, como disse é um acto rápido, tão rápido que nem dá tempo para a pessoa se observar, enquanto se penteia. Pois em minha opinião o exercício de nos observarmos, de nos descobrirmos ao espelho, é muito interessante e produz efeitos que surprendem o praticante. Isto porque, em primeiro lugar, ao nos observarmos, estamos a ver-nos reflectidos, estamos a ver a nossa imagem que, quando observada com mais vagar se revela aos poucos em pormenores que desconheciamos, por a termos no nosso consciente tão certa. Estas descobertas, conduzem-nos invariávelmente através do olhar, de expressões, etc. para um outro nível de conhecimento que muitas vezes nos é completamente alheio e, nos ajuda a desinibir em alguns aspectos e a aceitar, com maior naturalidade alguns pormenores em nos, assim como a valorizar alguns outros a que nem prestávamos atenção.
Em suma, no meu entendimento, o conhecimento de nós mesmos, tanto a nível físico, como intelectual, como espiritual, é importantíssimo, para que nos aceitemos como somos e estejamos em condições de aceitar e gerir essa felicidade a que a cara Drª. Suzana se refere neste seu grande post.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarCara Drª Suzana Toscano:
ResponderEliminarEstou de frente a uma reflexão límpida, simples e completa, que decorre de um “olhar” - brilhante, desapaixonado e equidistante - sobre o que parece ser a contradição da realidade da vida dos mais novos, e me conduz inevitavelmente a pensar, dentre diversas coisas, no eterno choque de gerações, e em como seria bom ao longo dos tempos termos "certezas". Por isto, parece-me estar perante uma reflexão intemporal do maior interesse.
PS:
Não sei se consegui expor bem o meu raciocínio mas V. Exa. perdoar-me-à, certamente, os "bites" por excesso, ou por defeito.
Suzana
ResponderEliminarNão há dúvida que as nossas vidas vão sendo cada vez mais moldadas, muitas vezes sem nos apercebermos, pelo pronto-a-vestir. Tudo é vendido e está acessível na forma de pacotes, os chamados kits. São os pacotes de viagens, são os pacotes das telecomunicações, embrulhados de forma sedutora, agitando necessidades e vontades de satisfação.
No meio disto tudo, as cabeças dos mais velhos e dos mais novos vão sendo "empacotadas", moldadas para aceitar o pronto-a-vestir. A massificação dos pacotes retira, no entanto, aquela flexibilidade de criar, escolher, seleccionar e comparar que é indispensável para estimular por exemplo a aprendizagem e a capacidade de autonomia. São valias que sofrem com a mentalidade do "empacotado".
Felizmente ainda há muitas coisas que escapam ao pronto-a-vestir! É preciso procurar e dá trabalho, porventura mais caro, mas com a contrapartida de um sabor mais "saboroso". Mas só para alguns!
O balanço a fazer entre as vantagens e as desvantagens do pronto-a-vestir nem sempre é fácil...
É interessante verificar como deste post se podem extrair ilações tão diversas...
ResponderEliminarCaro Bartolomeu, é muito interessante a sua perspectiva de que a observação física pessoal é fundamental para nos conhecermos melhor. De facto, esta observação está muito conotada com a vaidade, quando afinal o que é o relacionamento com os outros senão um processo de sedução, de que o primeiro impacto é simplesmente visual? (isto era antes da NET, mas adiante) O modo como nos arranjamos logo pela manhã, a roupa que escolhemos ou o maior apuro no visual também transitem estados de espírito, mensagens que os outros vão captar. Também significam, por exemplo, a maior ou menor consideração pelos lugares ou encontros que vamos ter, conforme se vai formal ou informal. Toda uma linguagem associada ao conhecimento de si próprio, à valorização pessoal e, por isso, também à capacidade de ser mais ou menos feliz em função da atitude.
ResponderEliminarCaro Invisível, exprimiu-se muito bem, esta geração foi bastante protegida, em geral, claro, numa confiança de paz e abundância progressiva, daí esta confiança nas fórmulas da felicidade instantânea. Erro absoluto, claro, o mais que podemos dar-lhes, como todas as gerações anteriores, são conselhos, baseados na experiência, mas soluções, não temos. É uma verdade universal, como diz, e não há tecnologia nem pacotes que ultrapassem a imprevisibilidade do futuro, ainda que próximo.
Claro, margarida, que há sempre a possibilidade de “personalizar” os Kits, mas a questão é exactamente essa, é mais fácil estender a mão e tomar como bom o que alguém já se deu à maçada de sintetizar por nós. Quando essa realidade atinge campos mais filosóficos, menos materiais, o perigo é enorme porque gera insegurança, os que falham convencem-se que foram eles que foram inaptos, sem quererem criticar aquilo que é “vendido” como uma fatiota onde cabem todos…