O imenso labirinto em que se tornou a União Monetária lembra uma das lendas em que a mitologia grega é fértil, a do famoso Labirinto de Knossos, em Creta, mandado construir pelo rei Minos, que queria ser rei de Creta e para isso conseguiu o apoio do deus Poseidon. Este exigiu em troca que o novo rei lhe sacrificasse um belissimo touro branco que o próprio deus fez sair das águas do mar para esse fim. No entanto, o rei achou o touro tão belo que tentou enganar o deus, sacrificando-lhe outro animal. Furioso, Poseidon fez com que a mulher de Minos se apaixonasse pelo touro e desse amor nascesse o Minotauro, metade touro, metade homem, que Minos mandou prender num imenso labirinto – o labirinto de Knossos – construído para o efeito pelo arquiteto Dédalo. O monstro era alimentado por um pesado tributo exigido a Atenas, vencida numa guerra, o qual consistia na obrigação de, de nove em nove anos, serem entregues 7 rapazes e 7 raparigas atenienses para serem comidos pelo Minotauro. Era virtualmente impossível sair vivo do labirinto de Knossos, tal era a complexidade dos caminhos e cruzamentos imaginados por Dédalo.
Ouvir as sucessivas e contraditórias declarações dos lideres europeus sobre se a Grécia vai se fica, se querem que fique ou que vá, sem nunca em momento algum ser apresentado um plano que permita escolher um caminho, ou sem que sequer se consiga interpretar o que dizem, como aconteceu ontem com as declarações de Durão Barroso, parece que a Europa se tornou no labirinto onde habita um monstro à solta que pode tragar os incautos. Todos se entrechocam a fugir do monstro da crise, procurando domá-lo ou trocar-lhe as voltas apontando-lhe o vizinho para se entreter primeiro, mas deste labirinto ninguém parece poder sair, embora também pareça que ficar não traz esperança nenhuma.
A mitologia grega é mesmo muito atual, por alguma razão estas histórias resistiram à passagem dos séculos, pena que não tenham ensinado nada.Diz o mesmo mito que o herói Theseu conseguiu matar o Minotauro e sair vivo do labirinto através de um estratagema bem simples. Adriane, sua apaixonada, deu-lhe um novelo de lã, de que ficou a segurar a ponta e que se foi desenrolando ao longo do percurso de Theseu dentro do labirinto, de modo que ele não teve mais do que seguir o fio no caminho de regresso.
Mas também o fio do caminho da Europa parece estar há muito perdido, já ninguém consegue lembrar-se quais os princípios fundadores, quais os objetivos da União, tudo se resume a uma profunda “crise do euro”. Cameron, tentou há dias lembrar algumas regras, mas não deu nenhuma primeira página de jornal.
Pois é, cara Dra Suzana; parece que já todos se esqueceram de outro grego antigo, de seu nome Arquimedes, o que descobriu que usando uma alavanca e um ponto de apoio, seria possível mudar o Mundo...
ResponderEliminarOu então... ninguem está para fazer força na estremidade da alavanca...
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ResponderEliminarFaltam-me palavras para elogiar o quanto apreciei este post. Contudo não será pela sua falta que deixarei de dar os parabéns à autora, pela forma como construiu esta ponte - do mito para a realidade -, ou vice-versa, a ilustrar a complexidade do puzzle em que nos encontramos.
ResponderEliminarParabéns, Dra. Suzana Toscano.
Alimentado também pela mitologia desaguo em Teseu e sorrio de esperança.
ResponderEliminarOu em Dédalo e Ícaro e suas asas, embora Ícaro não seja o melhor farol de esperança agora que penso nisso.
Cumprimentos,
J.D.
Suzana, o mito do Labirinto de Knossos é excelente para retratar a realidade da crise da Europa. Parabéns pelo post. Construir caminhos e encontrar saídas exige liderança política. A falta de liderança política é um problema grave para o qual não se vislumbra uma solução rápida.
ResponderEliminarCaro Bartolomeu, às vezes parece que é mesmo a ignorância que gere os destinos do mundo.
ResponderEliminarCaro jotac, a situação que se vive hoje na europa é um bom exemplo em como a realidade ultrapassa a imaginação, mas é engraçada procurar um pouco e ver que realmente não se inventa nada, depois é só fazer o paralelo, ainda bem que gostou desta associação, a mim deu-me que pensar, realmente.
Caro J.D., Minos mandou prender Dédalo no labirinto, para que ele nunca pudesse vir a contar o segredo do labirinto, e com ele o filho, Ícaro, mas ambos conseguiram fugir porque a gigantesca construção não tinha tecto (tal como a Europa?) e fabricaram asas, com penas e cera, e assim sairam voando. A ambição perdeu Ícaro, que não resistiu a aproximar-se demasiado do sol e despenhou-se, morrendo. Mas que encontraram um saída do que parecia impossível isso encontraram, depois é uma questão de não querer demasiado.
Margarida, os que hoje nos guiam no labirinto parece que só lhe acrescentam mais corredores e cruzamantos, falta realmente quem nos conduza a bom porto.
A construção da U. Europeia é um dos mais inteligentes projectos de sempre. Sofreu no entanto um revés quando se resolveu dar mais poder ao Conselho. Dar mais poder ao Conselho significa dar mais poder aos Estados e à intergovernamentabilidade. Consumada a asneira que colocou a Europa nas mãos dos caprichos dos estados mais fortes há que voltar à Europa comunitarizada e igualitária. A dificuldade de afirmação do Presidente da Comissão vindo de um Estado fraco, que não consegue fugir ao poder do eixo Franco - Alemão e a quem propositadamente retiraram poder com o novo presidente da UE são também mais duas causas a acrescer à crise. Numa altura de grande crise económica e de agravamento das disparidades no seio da União, só uma visão conjunta não soberana poderia mudar o actual estado de aparente decadência da UE. Mas crises houve muitas no processo Europeu. Esperemos que esta seja apenas mais uma e que líderes com mais visão apareçam brevemente na cena política Europeia (não esqueça quem fala da crise Europeia que esta se processa apenas numa das muitas políticas Europeias: a da moeda única).
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