Pensa o Governo que o Projecto do Hidrogénio, um mega projecto cujo objectivo principal é a descarbonização da
economia, a transição energética e a neutralidade carbónica, pode também servir como “ o
caminho para a criação de novos modelos de negócio, abrindo novas oportunidades de desenvolvimento económico e industrial para o país”.
No entanto, estes benefícios para o relançamento
da economia não aparecem demonstrados, avultando os riscos que são enormes e certos.
E desde
logo devido à sua dimensão faraónica, que poderá
ir de 7 mil milhões a 15 mil milhões de euros,
mesmo 20 mil milhões em fase ulterior, em investimento na produção de hidrogénio, na fábrica de
eletrolisadores, laboratórios e infraestruturas de
armazenamento e distribuição.
É pois um projecto que consome grande parte
dos recursos europeus e assim impedirá a selecção
de outros melhor dimensionados capazes de promover a modernização e dinamização da estrutura
produtiva do país e nela facilmente se integrem,
repartindo os riscos envolvidos na sua concretização.
Depois, é um Projecto que se baseia numa tecnologia não dominada, logo exigindo tremendos
custos de desenvolvimento. E não parece que Portugal seja o país mais indicado para os suportar.
Acresce que a valia interna do projecto não é
justificada, aparecendo como meramente instrumental em relação aos objectivos da descarbonização, acentuados obsessivamente em todo o documento. Ora as energias renováveis já representam uma quota elevada e cara da oferta, Portugal
não é um país poluidor e também aqui os fins não
justificam os meios.
O projecto também não é viável de per si, necessitando de incentivos, públicos via OGE, ou privados, em sobrepreços no consumo, em todas os
seus segmentos: na produção do hidrogénio, no
seu armazenamento, distribuição e uso nos transportes e indústria, na produção de electricidade e
nas várias acções transversais ao projecto. E também não dispensa incentivos à exportação, o que
significa apoios nacionais a consumos externos.
Refere o Governo que uma parte do Projecto
terá financiamento privado. Não custa a acreditar,
tal o nível de incentivos e apoios previstos. Mas
são custos que nós, consumidores ou contribuintes,
teremos que pagar.
Aliás, é o Ministro do Ambiente que o confirma
quando, em recente entrevista, aludiu ao “compromisso que os portugueses têm com os seus
impostos para potenciar este tipo de projetos”.
Não creio que os portugueses conheçam esse
compromisso e, muito menos, que o tenham subscrito.
(meu artigo publicado nas edições de 17 de Julho dos Diário de Viseu, Diário de Coimbra, Diário de Aveiro e Diário de Leiria)