sexta-feira, 29 de julho de 2005

Excelsa Hipocrisia

A Assembleia da República aprovou ontem a limitação dos mandatos dos Autarcas.
Aprovou, mas só para 2013!...
O que a Assembleia fez ilustra perfeitamente a decadência da nossa classe política, incapaz de tomar qualquer decisão que bula com interesses firmados e refugiando-se no mais acabado comodismo.
Ou se limitam mandatos ou não se limitam, ambas as decisões são legítimas, embora uma mais recomendável que a outra.
Mas limitá-los e não abranger aqueles que estiveram na génese da lei parece-me a prova do mais refinado cinismo e da mais excelsa hipocrisia.
Quem detém um mandato há 30 anos, pela limitação dos mandatos, pode chegar aos 40!...
Não é a limitação a funcionar, mas a lei geral da vida e a idade da reforma!...
Como é bom legislar para os outros, ficando os nossos interesse protegidos!
Até 2013, muita água correrá nos rios, haverá mais legislaturas, os intervenientes mudarão…podemos estar descansados que não haverá nunca discriminação entre os Autarcas de 2005 e os de 2013!...
Neste Estado corporativo, muitos dos de 2005 terão o lugar garantido até 2045!...

10 comentários:

  1. Eu até nem gosto muito de ditados, mas não há dúvida que o circo que é a nossa política se presta a isso...como é que é aquele ditado que diz "COM TACHOS E BOLOS SE ENGANAM OS TOLOS?!?...".

    Não sei qual é a supresa!!!...Já deviam estar todos habituados ao alarido das "grandes medidas" de reforma do Estado, que são quase todas para cumprir...pelos outros! E que tal este não assenta melhor: "QUEM VEM ATRÁS QUE FECHE A PORTA!".

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  2. Estou, e penso que não sou o único, a ficar muito, muito cansado de tanta asneira política.
    Sou e serei um defensor da democracia, mas de uma democracia para todos e não só para alguns, que dela tiram proveito material.
    Assim, o esforço desses para destruir a democracia torna muito mais difícil vencê-los. Além de que estou, como muitos portugueses, mais pobre e com menos recursos materiais para ocupar mais tempo a lutar contra os 'privilegiados' (deputados) que, ao que parece, não são 'funcionários públicos', pois acabam por não fazer os sacrifícios a que estes são, sempre, obrigados.

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  3. Anónimo12:16

    Suprema hipocrisia, de facto. Em diferentes ocasiões, quando o debate esteve activo na opinião pública, expressei neste blog a minha radical discordância da limitação dos mandatos que redunda em limitação da democracia e desprezo pela inteligência e vontade colectiva. E antecipei que ia dar neste resultado.
    É como Pinho Cardão diz. É mais uma profunda machadada no prestígio da classe política.

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  4. Já ficou dito, mas não é de mais repeti-lo: profunda hipocrisia e uma vez mais à vista de todos a extrema vulnerabilidade de uma classe política sem classe (passe o trocadilho).
    No entanto, deste ridículo episódio, ficam, pelo menos na opinião publicada, dois registos:Marques Mendes ganhou o braço de ferro com o governo, portanto, se não se legislou mais e melhor foi porque o PSD assim o impôs - o que parece uma «derrota» do PS acaba por, «moralmente» lhe salvar a face, enquanto acaba por optar por aquilo que é mais confortável para a máquina socialista; Marques Mendes, ao dobrar o PS, fê-lo por ter cedido à pressão aparelhística do seu próprio partido, no que parece a pior das estratégias para um líder que advoga a moralização interna e a regeneração do PSD.
    Em conclusão: falta de vergonha de todos, conveniência de muitos, cobardia de quem não é suposto ceder a ela.

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  5. Anónimo12:40

    Uma clarividente leitura a do crack que igualmente subscrevo.

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  6. Pois é...

    Ser hipocrita é "tramaducho". Concordo com os que escreve Pinho Cardão, no entanto pergunto-me: "Será que abriu a época de caça aos autarcas?"; "Será que são os autarcas, os únicos que dever sofrer limitações?".

    Mas tirando isso, relativamente a esta hipocrisia, a imagem que se me afigura - assim de repente - é a do peregrino que vai a Fátima fazer uma promessa para os outros cumprirem.

    Mas não há para aí nenhum D.Sebastião que nos salve? É que isto já começa a ser penoso.

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  7. Ooops...

    Desculpem as gralhas, vim agora do almoço e a única coisa que vejo é, a minha almofada querendo conversar comigo.

    Deve ler-se: "Concordo com o que escreve Pinho Cardão," e não; "Concordo com os que escreve Pinho Cardão,"

    Da mesma maneira, deve ler-se; "os únicos que devem sofrer limitações?" e não; "os únicos que dever sofrer limitações?"

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  8. Bom...lá tenho que dizer mais alguma coisa...abriram a porta e eu vou entrar!...

    Exmos. srs. contínuamos a falar sempre dos mesmos como os "culpados" pela situação (os deputados, os autarcas, etc. e tal), e de facto concordo que também têm o seu quinhão de culpa na vergonha legislativa e moral, que escudada e respaldada por uma conveniente eleição democrática ganha com maioria absoluta. Mas não nos estaremos nós sempre a esquecer de quem trabalha nas "sombras"??? Porque é que será que ainda não ouvi falar dessas "sombras"??? Não sabem do que me estou a referir??? Quem andou, quem anda e quem conhece os meandros da política e dos Governos não sabe qoe que falo??? Sim, estou a falar das carraças que também sugam o OE, e ninguém se dá conta que elas lá estão! Elas lá estão e não foi por terem sido eleitas democráticamente, não foi por terem passado qualquer criterioso e rigoroso processo de selecção, não estão sujeitas a qualquer controlo das instituições democráticas (ou outras). E esses sim...ganham mais que os deputados e os autarcas, para eles não há limitações de mandatos, não há limitações legais (que eu tenha conhecimento) aos salários que auferem, e não há limitações de quantidade para quantos podem viver há conta dos políticos... Ainda não sabem de quem falo???...Dos ASSESSORES políticos dos gabinetes dos ministros e afins. Esses srs. que só lá estão por serem compadres do sr que estiver no "poleiro". Esses srs. que não têm qualquer obrigação de apresentar resultados e ser avaliados por tal. Esses srs. que quando cai um Governo são de seguida afastos com direito a simpáticas indemnizações, e eventualmente um "lugarzito" numa empresa participada pelo Estado.

    Já que tantos estudos se fazem por tudo e por nada. Já que tantas auditorias organizacionais querem fazer a todos os ministérios (pergunto-me de quem vão ser as empresas que vão fazer essas auditorias?), não há um iluminado que se lembre de fazer um estudo para saber quanto custaram esses srs. ASSESSORES ao país nesta última década?

    Enquanto estivermos a saque desta forma, e todos os cordeirinhos continuarem sossegadinhos a ver a sua lã partir para fazer casacos quentinhos e ninguém quiser abrir os olhos para a verdade não há nada que possamos fazer senão desabafar entre nós e lamentarmo-nos da nossa medíocre existência neste nosso país. Podia ser pior...podíamos estar no Darfur-Sudão, ou no Iraque a ser massacrados!...

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  9. Anónimo17:24

    Nem ao Sudão, nem ao Iraque e espero que, nesta matéria dos assessores, também não cheguemos ao Brasil onde um dia ouvi contar a um eleito que a importância dos políticos no poder se mede pela quantidade de ASPONES que têm ao pé de si.
    Perante o meu declarado desconhecimento do significado de ASPONE, o meu interlocutor esclareceu, admirado pela minha ignorância: Dotô, ASPONE quer dizer ASsessor de POrra NEnhuma!

    Mais a sério, e sobre o antecedente escrito do VIRUS, importa dizer que se existe o fenómeno que refere, também existem excepções. Sei de quem se viu assessorado de gente competente, que não conhecia, quem foi acompanhado de assessores e adjuntos enquanto membro do Governo, dos quais só sabia naturalmente as referências sobre competência técnica e experiência naquela área da governação, que após a saída do governante regressaram ao que antes faziam sem qualquer prémio ou vantagem, depois de provas de grande sentido de responsabilidade e de serviço público.
    Como também conheço quem exerceu essas funções com sacrifício pessoal, por solidariedade e amizade a quem assessorou, com perdas de tranquilidade e ganhos de incómodos vários.
    É justo dizer isto.

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  10. E depois indignam-se que o povo se indigna,com as manifestações agressivas, contra os políticos e contra as medidas que estes vão engendrando. Para eles tudo bem; para nós é a rapar até ao miolo.

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