segunda-feira, 7 de maio de 2007

As notícias da Comissão Europeia

Foram hoje divulgadas as previsões de Primavera da Comissão Europeia (CE). No que toca ao crescimento económico de Portugal existem boas e más noticias.

Boa notícia: a CE reviu em alta as projecções do crescimento do nosso PIB quer em 2007, quer em 2008. Assim, antes a CE previa que cresceríamos 1.5% neste ano e 1.7% no próximo; agora, a CE prevê um crescimento de 1.8% em 2007 e 2% em 2008. Positivo, portanto.

O problema é que esta é a única boa notícia.

Quanto às más notícias, o campo é, infelizmente, mais vasto.

Primeiro: apesar da revisão em alta do nosso crescimento económico, como as projecções para a Zona Euro, a EUR-15 e a UE-27 foram mais revistas em alta relativamente ao anterior cenário, o que sucede é que, face aos nossos congéneres europeus, ficaremos pior (isto é, empobreceremos mais rapidamente em termos relativos).

Segundo: Esta realidade é confirmada pela evolução prevista para o nosso PIB per capita. Anteriormente, as nossas posições relativas previstas para 2007 e 2008 eram o 18º e o 20º lugares, respectivamente. Agora, com a actualização das projecções da CE, já ficámos no 19º lugar em 2006 (a Malta ultrapassou-nos no ano passado); e cairemos para o 20º lugar em 2008, mas mais longe do que anteriormente face à Estónia, que nos ultrapassará no próximo ano. Atingiremos, aí, um rendimento per capita, de 64.4% da média da EUR-15… Quem diria, há apenas cinco anos, por exemplo, que a Eslovénia (em 2003), a República Checa e Malta (em 2005) e a Estónia (em 2008) nos ultrapassariam em termos de nível de vida? E que todos os países do leste europeu que aderiram em 2004 e já em 2007 estariam a recuperar, a olhos vistos e ano após ano, terreno face ao nosso PIB por habitante? O nosso país a piorar; os outros a recuperar…

Terceiro: Ainda pior – Portugal registará, em 2007, e à semelhança do que aconteceu em 2006, o mais baixo crescimento da UE-27. E em 2008, o nosso país terá o segundo mais baixo crescimento de entre os 27 (a par com a Dinamarca; pior só mesmo a Itália). Ora, este cenário é ainda pior do que nas anteriores projecções, em que nos situávamos na penúltima posição na UE-27 em termos de crescimento económico, quer em 2007, quer em 2008 (a Alemanha e a Itália ocupavam a cauda da tabela, respectivamente). É a prova de que, se o nosso crescimento foi revisto em ligeira alta, os dos outros países foram revistos... numa alta maior - pelo que a nossa posição relativa de deteriora. Lá estamos nós no fundo do pelotão em 2007 (como em 2006) e em penúltimo lugar em 2008...

Como se vê, predominância das más notícias… E durante quanto mais tempo? Em minha opinião, até ao final desta década, pelo menos, não teremos condições de voltar a convergir para a média europeia. O que significa que teremos, seguramente, mais de uma década em contínua divergência para o nível de vida médio europeu.

Será que, perante este cenário, alguém tem coragem de dizer que a revisão em alta do nosso crescimento económico constitui uma boa notícia? Só quem for mesmo muito autista e julgar que estamos sozinhos no mundo poderá pensar assim. Porque face aos outros – e, obviamente, assim é que a análise deve feita –, estamos cada vez mais longe, cada vez mais pobres. Isto é, cada vez pior.

13 comentários:

  1. Viva,

    Na globalidade concordo que as más notícias limitam qualquer discurso eufórico. Mas a economia não é um processo em que todos os anos começamos duma base zero e nem pode ser analisada dessa forma. Se em determinado período o nosso défice orçamental é dos mais altos dos 27 e simultaneamente o crescimento é quase nulo, não é racional exigir que, no seguinte, ao mesmo tempo que se diminui o défice orçamental (não vamos agora discutir o como porque as várias opções, mesmo as mais desejáveis, limitam a economia), a economia já cresça acima da média.

    A performance da economia portuguesa está muito aquém do desejável e acho muito bem que isso seja sublinhado mas, infelizmente, não podemos pensar que dum ano para o outro começa tudo do zero.

    Cumprimentos,

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  2. Bom isto de estar pior é mais para uns do que outros... Isso dos portugueses terem um rendimento per capita médio de 64,4% da média da UE é só para a maioria dos que trabalham.

    Isto porque de acordo com um estudo da CMVM ás remunerações auferidas pelas camadas dirigentes das empresas cotadas na Bolsa, e sobretudo as do PSI20, aquilo que esses "grandes" gestores (curiosamente defensores do Governo) auferem é tão somente cerca de 60 vezes mais do que um trabalhador português médio.

    Para esses os 64,4% não são de todo aplicáveis! A título de curiosidade o estudo indica que essa camada dirigente, que estagnou os salários do grosso dos seus trabalhadores devido ao aumento de impostos e necessidade de tentar manter a "competitividade", entre 2000 e 2005 teve de tomar a díficil decisão de aumentar entre 220 a 320% as remunerações que pagavam a si próprios!... Deve ser para poderem estar contentes e motivados para gerirem bem as empresas!

    As PME's, essas... essas que paguem as facturas e os impostos, tal como os trabalhadores por conta d'outrém... e que se preocupem em como arranjar o dinheiro... aquele que os seus clientes muitas vezes não pagam e que o sistema judicial se está nas tintas em fazer pagar antes de as empresas irem à falência por falta de cash-flow que mantenha a actividade... Sobretudo se os clientes forem o próprio Estado... mas ai deles se deixam de pagar a SS ou os impostos... aí até lhes penhoram a alma se isso der dinheiro! Agora pagar a tempo e horas... isso só vai num sentido... No do Estado e das grandes empresas e Grupos Económicos... sim... daqueles que o estado continua a proteger... mas só dos que "vão para a cama" com ele, porque os Grupos Económicos que saem dos sistema são para abater, mesmo que sjam dos mais dinâmicos a nível nacional e com forte representação a nível internacional!

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  3. E depois ainda têm o descaramento de dizer que isto está melhor depois do 25 de Abril?

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  4. Sem qualquer ironia, caro Vírus: Assim do espectro político actual, qual a sua côr partidária, nem que seja por aproximação?

    Acredite que não tenho qualquer intenção oculta nesta pergunta, e peço-lhe sinceramente que não leve a mal.

    É que ando a fazer uma coisa assim tipo uma sondagem... Coisas minhas...

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  5. Caro cmonteiro,

    não tem qualquer problema, apesar de discordarmos em 99% dos assuntos acredite quando lhe digo que dá-me um enorme prazer argumentar consigo e com a sua lógica (por pior que me possa parecer)... sabe que isto de discutir com pessoas que pensam o mesmo não me dá lá grande gozo, até porque a esses não se consegue fazer "ver a luz" porque já estão "iluminados" :)!

    Adiante e respondendo à sua pergunta a minha côr política é um bocado como a de um camaleão... varia conforme o assunto e as minhas crenças... não é propriamente uma côr estanque e cega...

    Mas adianto desde já que desde os meus 14 anitos que sou filiado no PSD, e até tenho cartão de militante e tudo (mas não pago quotas há anos porque já não acredito nos nossos políticos)!

    Resumindo, sou essencialmente de direita e laranja, mas não sou cego ao ponto de defender tudo o que me dizem que é verdade... defendo aquilo em que acredito... Acho que dava um péssimo deputado, pois nas votações que exigem disciplina partidária eu seria muitas vezes um indisciplinado de acordo com a minha consciência!

    Desculpe lá a extensão da resposta... mas direita, e não extrema (pois essa pouco difere da esquerda... e é geralmente composta por seres acéfalos!).

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  6. Estou esclarecidíssimo caro Vírus. Obrigado, mais uma vez.

    É de facto um imenso oceano, esse PSD.

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  7. A esta hora é mais um charco do que um oceano... está a ser demasiado simpático meu caro cmonteiro!

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  8. Bem, se fosse revista em baixa, a notícia era pior. Revista em alta é boa notícia, sempre. Pode é não ser tão boa como devia.

    " Quem diria, há apenas cinco anos, por exemplo, que a Eslovénia (em 2003), a República Checa e Malta (em 2005) e a Estónia (em 2008) nos ultrapassariam em termos de nível de vida? "
    Aqui o Toni, que vendeu as acções que tinha das empresas portuguesas e meteu em fundos desses países ha 2,5 anos!!! Estão a valorizar 133%, obrigado ;-) É uma questão estrutural relativamente óbvia. Os cidadãos deles sabem mais que os nossos.

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  9. Não há qualquer dúvida, se é que ainda as houvesse, que o Tonibler é um sujeito altamente inteligente e perspicaz!...

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  10. Toda a gente dizia a mesma coisa na altura, caro Pinho Cardão, principalmente da Hungria e da Rep. Checa. Não há nenhum mérito meu.

    Não vale a pena andar a chorar cada vez que há um desses países que se torna mais rico que Portugal. Eles têm a melhor educação do mundo há 50 anos e nós andamos há 50 anos a construir a pior pelo que, em iguais condições de liberdade e mercado, eles ganham sempre.

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  11. Então caro Tonibler?

    A pior educação? Como?!?!? Não é possível!!! Sabe o pior cego é aquele que não quer ver!...

    Então o meu caro não sabe que o importante para os nossos sucessivos Governos é a qualidade do nosso Ensino?

    Então não sabe que a % de insucesso escolar tem vindo a diminuir de ano para ano?

    Não sabe que temos cada vez mais jovens a frequentar as universidades (até mesmo as como a Independente) e alguns até chegam a Primeiro-Ministro?

    Então não reconhece o esforço dos Governos em avaliar os professores e as escolas/universidades criando rankings de qualidade (aqueles que servem para dizer aos alunos das escolas do fundo da tabela que por melhores que eles sejam o seu futuro é dedicarem-se a roubar carros porque vêm de uma escola má)?

    Isso de passarem os alunos administrativamente de ano para ano, de darem um "free pass" até ao xº ano, de possibilitarem a qualquer asno (sei lá... como eu por exemplo) de compr...ooops... tirar o curso de Engº ou qualquer coisa... independentemente de estudar ou não, não interessa nada!

    O importante não é exigir aos alunos esforço e trabalho, o importante é exigir aos professores que facilitem a vida aos alunos... se quiserem ter boas avaliações (sim, porque professor que chumba muitos alunos não pode ser bom professor) esta é a melhor forma de as garantir!

    Há o liberalismo, o conservadorismo, o fascismo, o comunismo, na Educação em Portugal há uma nova corrente... O FACILISTISMO... e vai fazer escola!

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  12. Sobre isso, camarada Vírus, conto-lhe isto:
    http://tonibler.blogspot.com/2007/05/agora-no-como-c.html

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  13. C'os diabos?!...

    Estaremos a exportar políticos para a Rússia?!...

    Será que isso ajuda a combater a dívida externa, e por arrastamento o défice?

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