quinta-feira, 24 de maio de 2007

E não se consegue exterminá-los?

Continuam hoje os exames “pro forma” do 6º ano de escolaridade, referentes à disciplina de Matemática.
A propósito, li uma notícia curiosa e interessante, não referente aos exames do 6º ano, mas aos do 9º ano. Segundo dados do Ministério divulgados pelo Público, é uma escola de Arruda dos Vinhos, o Externato João Alberto Faria, que desde há dois anos obtém a melhor média de Matemática, a nível nacional.
Razões apresentadas pela Escola:
-a escola tem e pratica uma cultura de exigência
-a escola selecciona os professores
Mas, para além de tudo isto, que já é muito, “a escola tem um grupo de professores de matemática pouco atreito a algumas inovações pedagógicas. Saber a tabuada é mais importante do que saber utilizar a calculadora”, aliás interdita.
Só os tecnocratas pedagogos de cabeça de galinha do Ministério é que não vêem o óbvio!...
Não se consegue exterminá-los?

9 comentários:

  1. Esta é a conversa que tínhamos com o David Justino quando escrevia aqui no 4R. A minha ideia e, salvo erro, também do físico Tonibler, era fechar o ME.

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  2. Meu caro amigo... o seu a seu dono!!!
    Sobre o sucesso aqui ilustrado, referente à média dos resultados obtidos no Externato Alberto Faria, ex- Irene Lisboa (poetisa da terra, proprietária do edifício onde funcionava o externato), confirmo com conhecimento de causa (os meus filhos estudaram lá, o mais velho está formado e o mais novo está a acabar um curso profissional)o seguinte:
    A primeira e segunda razão, são verdadeiras. No que respeita ao "para além de tudo aquilo" que efectivamente é bastante e levado muito a sério e sem excepções, não se verifica na totalidade. Eu explico: Até ao nono ano são proibidas calculadoras científicas, no décimo, décimo primeiro e décimo segundo, já são permitidas. Bom, para que seja totalmente verdadeiro, falta-me referir que este panorama se verifica(ava) nas aulas, porque nos testes era mesmo á séria e sem calculadora. Resultado... devido à excelente preparação naquele externato, meu filho mais velho concluiu o curso de engenharia de qualidade alimentar com várias espacializações em vinhos e vinha, com "uma perna às costas", o mais novo, que detesta estudar e optou por um curso profissional de projectos e gestão de redes, tem as melhores notas da turma em portugues e matemática, que eram as disciplinas em que tinha maiores dificuldades.
    Deixo aqui a minha homenagem à memória do Dr. João Faria e de Irene Lisboa.
    E se me permite... transcrevo de Irene Lisboa, o poema "Afrodite"


    Formosa.
    Esses peitos pequenos, cheios.
    Esse ventre, o seu redondo espraiado!
    O vinco da cinta, o gracioso umbigo, o escorrido
    das ancas, o púbis discreto ligeiramente alteado,
    as coxas esbeltas, um joelho único suave e agudo,
    o coto de um braço, o tronco robusto, a linha
    cariciosa do ombro...
    Afrodite, não chorei quando te descobri?
    Aquele museu plácido, tantas memórias da Grécia
    e de Roma!
    Tantas figuras graves, de gestos nobres e de
    frontes tranquilas, abstractas...
    Mas aquela sala vasta, cheia, não era uma necró-
    pole.
    Era uma assembleia de amáveis espíritos, divaga-
    dores, ente si trocando serenas, eternas e nunca
    desprezadas razões formais.

    Afrodite, Afrodite, tão humana e sem tempo...
    O descanso desse teu gesto!
    A perna que encobre a outra, que aperta o corpo.
    A doce oferta desse pomo tentador: peito e ventre.
    E um fumo, uma impressão tão subtil e tão pro-
    vocante de pudor, de volúpia, de reserva, de
    abandono...
    Já passaram sobre ti dois mil anos?

    Estranha obra de um homem!
    Que doçura espalhas e que grandeza...
    És o equilíbrio e a harmonia e não és senão corpo.
    Não és mística, não exacerbas, não angústias.
    Geras o sonho do amor.

    Praxíteles.
    Como pudeste criar Afrodite?
    E não a macerar, delapidar, arruinar, na ânsia de
    a vencer, gozar!
    Tinha de assim ser.
    Eternizaste-a!
    A beleza, o desejo, a promessa, a doce carne...

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  3. É verdade, caro físico Madureira, até podíamos deixar a fachada para que as pessoas pudessem continuar a manifestar-se, estilo Muro das Lamentações.

    Agora a sério(embora fechar o ME fosse a sério), o ME é uma ameaça global ao nível do ensino português porque não basta as pessoas fugirem do ensino público para se verem livres dos cérebros de galinha (mais uma clara violação da regra dos 4 botões), têm que fugir do ensino português.
    Provavelmente esse externato arrisca-se a levar uma cacetada do ministério por não estar a cumprir com o programa.

    O meu novo colega de leste, que tem uma filha no secundário, pergunta "Porquê física e química na mesma hora? Vocês aqui acham igual?" e afirma "Professor de física de minha filha não sabe nada de física. Eu sei, e ensino, mas e os outros?".

    Fica aí mais uma sugestão para uma oposição responsável, contratar emigrantes de leste para reformar o ensino português. Quadruplicam o valor económico do país por um quinto do preço.

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  4. Não, não se consegue exterminá-los, lho digo eu que já o tentei muitas vezes e todos os dias o tento. Eles sabem demais e quem sabe demais demora a calar-se.

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  5. "(...)o ME é uma ameaça global ao nível do ensino português (...)", não tenha a menor dúvida amigo Tóni. E está cada vez pior.

    Eu juro-lhe que não sei debaixo de qual pedra foram desencantar estas criaturas mas, acredite que são absolutamente loucas, deviam estar presas numa camisa de forças e deviam ser atiradas para umas masmorras - perdidas algures - sem poder ver a luz do dia nos próximos 500 anos.

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  6. O problema dos números do insucesso não está só nas aprendizagens, nem nas pedagogias. Não se pode reduzir tudo à tabuada. Há miúdos brilhantes a quem não é necessário impor a tabuada ou outra coisa qualquer. Eles são um todo e neste todo entra toda a especie de influência, muitas delas nem têm nada a ver com conteúdos. Há fome e pobreza. E isso não se pode ignorar.
    Há turmas com caras que não enganam o mais incauto: não é com pedagogia, nem com tabuadas que se vai lá. É com encantamento e com pão. Algum adulto anda maravilahdo de existir? Então como pode ser ele o professor vendedor de produtos para um futuro de sucesso. Nem o presente do professor é de sucesso, quanto mais o futuro!!!!!
    I have a dream, dizia Luther King.
    Eu também. Um dia todos os meninos terão boas notas a Matemática independentemente da marca das jeans ou do telemóvel. Os valores serão todos da mesma marca e isso é que conta.

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  7. Caro Bartolomeu:
    Referi o nome do Colégio apenas porque o vi no jornal, não o conhecia de parte nenhuma. Mas, ainda bem. Permitiu o seu belo comentário e apreciar a poesia de Irene Lisboa.Valeu a pena o post!...

    Meus caros Arnaldo Madureira, Tonibler,João de Miranda e Anthrax:

    Pois eu, durante algum tempo,e há muitos anos, ainda julguei que o Ministério da Educação era reformável, no sentido de se poder renovar.
    Falando a sério, há muito que não penso assim . Pelo que a solução é mesmo fechar, e não digo isto com ironia. É fechar mesmo, acabar, terminar!...
    E pôr na rua sem justa causa todos aqueles que advogam os novos métodos de leitura global, que constituem exercícios de adivinhação e não levam ninguém a saber ler, todos os que desaconselham a tabuada, todos os que se opõem aos exames para efeitos de classificação dos alunos, e desde o 3º ano,todos os que dizem que o primeiro ano é para a criança se aclimatar à escola, todos os confundem o aprender com uma actividade lúdica, pois aprender custa sempre e não diverte, todos os que apenas querem fazer bacharéis, com umas luzes tecnocráticas e sem qualquer espírito crítico, todos os que recomendam o TLEBS e dizem que é uma conquista científica, todos os que inventaram os exames que não são para avaliar alunos, todos os que desaconselham os trabalhos de casa, todos os que favorecem a linguística em relação à literatura, todos os que desprezam os exercícios de memória...eu sei lá!...Este simples apanhado, ao correr da pena, dá ideia do completa loucura que grassa pelo ministério e a que os ministros não conseguem pôr cobro, antes são arrastados pela onda. Feche-se, pois, que o ministério da educação é o maior deseducador nacional.
    Feche-se e crie-se outro, a milhas, com um vigésimo do pessoal,completamente diferente!...

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  8. Não, cara Madalena, nunca chegará o dia em que "os meninos terão boas notas a Matemática independentemente da marca das jeans ou do telemóvel", pelo simples facto de que as pessoas contunuarão diferentes:uns serão mais inteligentes, terão mais vontade, aproveitarão melhor as oportunidades, outros serão mandriões, menos inteligentes, fracos de vontade. Independentemente da marca dos jeans ou do telemóvel.
    Todos devem é ter as mesmas oportunidades, o que é diferente!...
    Os erros do ministério da educação, esses sim,é que prejudicam toda a gente e, sobretudo, os mais desfavorecidos à partida!...

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  9. Caro Dr. PC,

    Como diria o Prof. JC Espada, "Não é possível pensar sobre o que não se conhece" e isto a propósito do artigo "Why Johnny's teacher can't teach" (que é um excelente artigo escrito pela Heather Mac Donald, que tem quase 10 anos, note-se).

    A moda é (há algum tempo) o "constructing one’s own knowledge", ou o "contextualized knowledge" e ela a isso chama, e quanto a mim muito bem, "educational nonsense" (eu como não sou académico, nem bem educado, chamo-lhe "educational bullshit" porque se percebe muito melhor). E isto é, exactamente, o que o nosso ME pratica.

    «Portantos», a ideia de fechar o ME até nem é muito escandalosa. Pior são os danos, a longo prazo, por permitir que continue a funcionar assim.

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