terça-feira, 8 de janeiro de 2008

O País do Governo e o “Nosso País” (III)

Foram hoje conhecidas as perspectivas do Banco de Portugal para a economia portuguesa em 2008 e 2009. De acordo com o Banco Central, Portugal irá crescer 2% neste ano e 2.3% em 2009. Note-se que, para 2008, a projecção agora apresentada constitui uma revisão em baixa de 0.2 pontos percentuais face ao anterior valor, reflectindo o aumento do risco de crédito à escala global, a subjacente turbulência dos mercados financeiros internacionais, e os efeitos – por conhecer – sobre a economia real.

Relevante é igualmente ver que o Banco Central acredita que o consumo privado será menos dinâmico em 2008 (1.1%) do que já o foi em 2007 (1.2%) e que as exportações crescerão 4.9% (contra 7% estimados para 2007 e os anteriormente previsto para 2008 6.5%)… Ora, onde é que o Banco de Portugal vai “descobrir” um crescimento de 2% em 2008? No investimento que, de acordo com as projecções agora apresentadas, deverá subir 3.3% - mais do que em 2007 (2.6%) e do que os anteriormente previstos 3.1% para este ano!... Não parece uma certa fé da parte do Banco Central?... Mesmo com as compras de material de transporte aéreo (aviões para a TAP), que já se iniciaram em 2007), dado que os últimos indicadores para o investimento mostram uma deterioração da situação deste… não será um cenário demasiado optimista?...

Enfim, em geral, a verdade é que o cenário do Banco de Portugal vem confirmar as projecções da Comissão Europeia e da OCDE: crescimento de 2% em 2008 e pouco superior a 2% em 2009… que não posso deixar de confrontar com a promessa de José Sócrates durante a campanha de 2005, de crescermos 3% no próximo ano, o final desta legislatura. ... Regista-se, assim, uma diferença que não é pequena: quase um ponto percentual entre as projecções que foram apresentadas e a promessa então feita – o que, em minha opinião, deita por terra qualquer possibilidade, por mais ínfima que ela pudesse ser, de Portugal crescer 3% em 2009.

Para além do absurdo que é prometer um certo nível de crescimento (que não se pode decretar…), já em Fevereiro de 2005 era possível prever (e escrevi-o) que essa promessa não iria ser cumprida, dadas as debilidades estruturais que a nossa economia atravessava – e ainda atravessa. E isto por mais que o Governo estivesse a governar bem, porque quaisquer reformas que sejam realizadas levam tempo até produzirem efeitos. Ora, não estando o Executivo Socialista a governar bem em diversas áreas – pelo menos em minha opinião – claro que esse objectivo fica ainda mais longínquo…

Aliás, não resisto a terminar com os números já conhecidos para o crescimento do PIB nos países da União Europeia (UE) no terceiro trimestre de 2007. Apesar de haver resultados para apenas 17 países, os maiores (Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Espanha) já são conhecidos, pelo que o resultado preliminar apurado será já muito próximo do final. Para Portugal, o cálculo foi apresentado pelo INE e revelou que, em termos homólogos (isto é, comparando o terceiro trimestre de 2007 com o mesmo período de 2006), Portugal cresceu 1.8%, o penúltimo resultado de entre os já conhecidos. E como a maioria dos países por apurar é de leste – que costumam crescer bastante mais do que nós – não me surpreenderia que, mesmo entre os 27 Estados-membros da UE, ficássemos com o segundo pior desempenho (a UE-27 e a Zona Euro cresceram 2.9% e 2.7%, respectivamente). E face ao trimestre anterior Portugal estagnou: crescimento de 0%. Na UE-27 tivemos 0.8% e na Zona Euro 0.7%. Aqui o nosso registo foi o pior de entre os países já apurados e creio que também no crescimento em cadeia nos situaremos na cauda da Europa quando todos os países forem apurados. Espantosamente – custou-me imenso a acreditar, mas foi mesmo verdade!... –, quer o Primeiro-Ministro, quer o Ministro da Economia acharam esta informação “muito positiva” e vangloriaram-se perante estes resultados!... Mas como pode alguém regozijar-se perante um desempenho que é o pior da União Europeia?!... Com mais um trimestre em que os portugueses ficaram mais pobres face aos seus congéneres europeus?!...

Lá está a distância entre a ficção e a realidade… Será possível encontrar maior diferença entre a “redoma” em que se encontra quem dirige os destinos de Portugal e a realidade dos números e que todos sentimos no dia-a-dia?… Em que país viverá o Governo?!...

3 comentários:

  1. Eu fico à espera da previsão do crescimento de 2008 que o Banco de Portugal vai publicar lá para Janeiro de 2009. Segundo ouvi dizer, os econometristas do BdP são bastante rigorosos nas previsões do ano anterior.

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  2. Caro Miguel Frasquilho,

    E não tenha dúvidas de que o BdeP foi ainda muito bomzinho...colaborante como seria de esperar...os 2% de crescimento em 2008 só vão durar até à Primavera; aí o BdeP fará mais uma laminagem cirurgica da taxa para os 1,8% ou semelhante...para acabarmos o ano em 1,5% ou até menos, face às perspectivas de abrandamento que têm vindo a acumular-se.
    Já diferente é o caso da inflação...creio que o BdeP ainda não percebeu a inovação que consiste no mecanismo de imunização da taxa de inflação às variações dos preços, a que aqui me referi em Post da semana passada...
    Para quê uma previsão acima de 2,1%? Só nos traz problemas, como se está a ver com as reivindicações para a renegociação dos acordos salariais...

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  3. Nota-se uma certa alegria em Miguel Frasquilho enquanto comenta os maus resultados da economia portuguesa. Percebo que lhe seja politicamente favorável, mas contenha-se. É que lhe fica mal.

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