sábado, 15 de março de 2008

Fármacos, água e poluição.

Muitos cientistas começam a denunciar um grave problema de poluição motivado pelo uso dos diferentes fármacos. Têm sido detectadas na água de abastecimento, por esse mundo fora, dezenas de substâncias, tais como, antibióticos, tranquilizantes, hormonas sexuais, anticonvulsivantes, analgésicos, antihipertensores, antihipercolesterolémicos, antiinflamatórios, entre muitas outras. As concentrações são da ordem de partes por milhão, por bilião ou mesmo por trilião, muito abaixo dos níveis das doses médicas, pelo que as águas são consideradas seguras. Mas serão mesmo?
Os diferentes produtos e seus derivados alcançam os aquíferos através da eliminação dos esgotos contaminados pelos excreta dos que tomam medicamentos. As centrais de tratamento dos “esgotos” e das águas de abastecimento não conseguem eliminar totalmente os fármacos e os seus derivados. Atendendo ao número de pessoas que os tomam, para não falar dos que são usados na agropecuária, não é de admirar que este fenómeno comece a preocupar os responsáveis, tanto mais que alguns estudos apontam para efeitos negativos nos diversos ecossistemas e, em última análise, o homem também não irá escapar.
Ao reflectir sobre este assunto, perpassou-me pela cabeça que os produtos homeopáticos deveriam ser considerados como “ecológicos”, já que não havendo comprovação científica da sua eficácia, aliada, praticamente, à “ausência” de moléculas activas nos seus produtos, não contaminam o meio ambiente. No entanto, fiquei surpreendido com um artigo subordinado ao seguinte título: “Drogas homeopáticas detectadas na água de bebida nos Estados Unidos”! Como?! Ao lê-lo, verifiquei que era uma sátira, já que o autor afirmava terem sido encontradas “zero moléculas” dos ditos produtos. Mas é preciso ter cuidado com as afirmações que se possam fazer relativamente a estes profissionais. Um autor, que pôs em causa a eficácia destes produtos, foi obrigado a remover a sua opinião, a pedido do servidor, porque foi ameaçado de procedimento legal por parte da Sociedade de Homeopatas!
Afinal em que ficamos, pensei eu? Se a homeopatia utiliza o método de diluição ao ponto do produto final não ter, praticamente, nenhuma molécula original, excepto a tal “memória” da substância, então, toda a água que bebemos é 100% “homeopatizada”, atendendo ao número de moléculas que já passaram por ela e, por este motivo, deveria ser considerada como “perigosa”. Mas não, dizem os peritos destas práticas. Então qual é a explicação? Muito simples. O “segredo” está na prática da agitação! Durante as fases das diferentes diluições, o homeopata tem que agitar, e bem, o produto, segundo as suas regras. Só assim é que se torna activo! Afinal, os consumidores destes produtos têm que pagar o “shaking” milagroso dos homeopatas. Mas se for “verdade”, ou seja, que o segredo está na agitação durante as diluições, então, podemos concluir que o circuito de diluições e agitações não faltam desde o momento em que se puxa o autoclismo, quando os dejectos tombam pelos esgotos, quando chegam às ETARs, quando entram nos aquíferos, quando se captam as águas, quando saem dos reservatórios e quando se abrem as torneiras.
“Agitação e diluição” é o que não falta por aí! E não é só na saúde que a homeopatia se manifesta. Também tem o seu equivalente na política, “política homeopata”, muito útil para os “crentes”...

2 comentários:

  1. Blasfémia! Apeteceu-me gritar blasfémia, mas porque o amor que lhe dedico, caro professor, tem uma força superior à dos meus impulsos, grito somente "maldade".
    Foi sem dúvida uma maldade que o caro amigo prepertou contra os seus dedicados, fieis e sempre atentos leitores. Brincou (magistralmente) ao gato e ao rato com este exército de atentos leitores que tomam as suas palavras e ideias, como se de uma doutrina se tratasse, levou-os, levou-nos a crer que o que era, não é e o que a ciência pensa que pode ser, a prática desmente, deixando-nos um resíduo mental de que afinal tudo pode ser, mesmo aquilo que esta provado não seja.
    Muito bem caro professor, joguemos então o seu jogo!
    Medicina homeopata, não é verdade?
    Resíduos moleculares que não se reciclam, mas constiuem uma potencial ameaça futura?
    Se eu fosse um espectómetro (apreciou o termo?) acho qe conseguia ver através das suas paredes crâneo-encefálicas os seus circuitos neurológicos numa fabulosa agitação saltitando entre as certezas ciêntíficas que os anos de universidade e de exercício lhe conferiram e as modernas suspeições com a eminência dos perigos com que nos ameaçam e castigam. Tudo porque uma indústria, uma monumental, uma megalomana indústria de fabricação de medicamentos, uma fabulosa descoberta dos novos tempos nos oferece o veneno que nos irá curar da doença provocada pelos virus por eles criados, com capacidade para se modificarem e ganharem resistência aos medicamentos que eles criam, para que se varifique a necessiada de investir na investigação que irá descobrir a cura para as doenças que vão aparecendo, porque andam por aí umas muléculas meio-parvas, que lhes apeteceu tomar banho na água que nós bebemos...
    blahg...
    a minha sorte é que nasci imortal...

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  2. Caro Professor Massano Cardoso.
    Ao ler este texto, veio-me à memória uma frase que li (ou vi?), e que dizia:

    "-O homem é o único animal que defeca na própria água que bebe".

    Não sei se esta frase tem, ou não, algum fundamento (há mamíferos que defecam na água em que vivem, embora eu não saiba se a bebem), o facto é que por "sugestão", desde então, evito beber água da "rede"; mas, quando tenho de a beber, ocorrem-me pensamentos do género: esta água, a montante, passou por milhões de espanhóis que tomam milhões de substâncias químicas...
    Tudo isto para lhe dizer que, após reflectir nas suas palavras, concluí que talvez eu esteja errado e, como já alguém disse, a mesma água não passa, seguramente, duas vezes sob a mesma ponte...

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