segunda-feira, 24 de março de 2008

Sub-prime: não é causa, mas efeito!...I

Deixo, em duas partes, o artigo que publiquei no Caderno de Economia da última edição do Expresso, de 21 de Março. Antes, uma brevíssima introdução. O sub-prime (concessão de crédito de alto risco, agora no sector imobiliário) tem sido apresentado como a causa da crise no sistema financeiro, levando Bancos à falência ou a aumentos de capital para compensar prejuízos e falta de liquidez. No entanto, o sub-prime não é a causa da crise. É, sim, o efeito. O efeito de decisões de gestão, lucrativas no imediato, mas contendo em si todos os requisitos de prejuízos futuros. Não só para os Bancos promotores, o que seria o menor mal, mas sobretudo para os milhões de particulares que acabaram por ser os detentores finais dos créditos, através de aplicações feitas em produtos financeiros derivados. Aqui vai a 1ª Parte.
"Ainda está fresca a memória dos 18 mil milhões de dólares de prejuízos reportados pelo Citibank, e eis que novas derrocadas se prevêem, motivadas pelo lançamento fácil de «produtos» de elevada rentabilidade imediata, mas alto risco. Agora foi a vez do Bear Stearns entrar em colapso.
Pensou-se que a informação de gestão frequente, a separação das funções de auditoria e consultadoria, as auditorias regulares e a actuação dos reguladores do mercado evitariam casos semelhantes. Assim não tem acontecido e não creio que venha a acontecer. Porque as crises não resultam de deficiências das auditorias, de actuações medíocres dos reguladores ou da falta de informação. Ao contrário, a informação obrigatória excessiva é, ela própria, um dos motivos das crises. Outras causas radicam no esquema de remuneração dos gestores baseado em «stock options» ou na valorização bolsista e no comportamento dos analistas de mercado.
A informação constante tem impacto imediato nas análises e no valor das acções e o seu efeito mais importante não é a transparência de actuação, mas o privilegiar decisões com rentabilidades a curto prazo, em detrimento do «investimento» no reforço sustentado das capacidades da empresa. Os gestores sentem a espada dos analistas financeiros, que facilmente alteram as expectativas que eles próprios produziram, passando a antever descidas quando há pouco viam estruturadas subidas e marcando a cotação dos títulos. Por isso, em vez de trabalhar para os accionistas, os gestores são levados a trabalhar para os analistas, procurando formas novas de produção de resultados, geradores de recomendações favoráveis e de fixação de preços-alvo apetecíveis. Sem factos novos, as recomendações são de baixa, pois a estabilidade das cotações não favorece o negócio: ‘manter’ carteiras não traz proventos".
(Continua)

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