domingo, 11 de abril de 2010

Grécia: apoio dos Pares será presente envenenado?

1.Foi hoje anunciado o montante ( € 30 mil milhões) bem como a taxa de juro (5%) aplicável, da facilidade de crédito de emergência que os Países do Euro estarão na disposição de conceder à Grécia.
2.Falta conhecer o mais importante: (i) a estrutura dessa facilidade, isto é se consiste num ou vários empréstimos a 10 anos, com um único reembolso no final do prazo e cupão anual ou se será um tipo diferente, com várias maturidades intermédias, numa estrutura múltipla e (ii) bem mais importante, qual a condicionalidade associada à utilização dessa mesma facilidade.
3.É bem possível que estes dois elementos só venham a ser divulgados depois da apreciação do FMI, a quem competirá, segundo percebi, definir as condições a que os gregos deverão ficar sujeitos no âmbito desta ajuda de emergência…
4.Dado curioso é o aparente desinteresse dos gregos, perante a azáfama dos seus Pares em avançar com o anúncio da facilidade.
5.A Grécia, depois de uma fase inicial em que se fartou de barafustar, suplicando que a ajudassem, parece agora algo relutante em avançar com um pedido formal de apoio, preferindo dar prioridade ao “road-show” que se prepara para realizar nos USA nas próximas semanas, tendo em vista obter empréstimos no mercado americano da ordem de €5 a € 10 mil milhões.
6.Será que os Gregos pensam agora que a ajuda financeira dos seus Pares iria acabar virtualmente com a independência da sua política orçamental, ficando sujeitos a uma rígida tutela financeira EU-FMI?
7.Será que os Gregos receiam ficar completamente espartilhados nas suas decisões de política orçamental, tendo que passar a obedecer estritamente aos ditames dos seus Pares (transmitidos pelo FMI para não parecer tão mal) e ainda por cima sujeitos a sanções por quaisquer desvios aos objectivos de redução de défice rigidamente estabelecidos e implacavelmente policiados?
8.Acrescendo que pode muito bem vir a tratar-se de uma tutela financeira para durar por muitos anos, com todas as contingências de um percurso cheio de acidentes tendo em conta que será imensamente difícil aos Gregos cumprir as metas rígidas de redução do défice orçamental?
9.Podendo ainda levantar-se um outro problema qual será o desconhecimento da situação em que a Grécia ficará em relação aos mercados - porventura com a porta fechada por longo tempo, nomeadamente se, no que se refere ao cumprimento das metas orçamentais e financeiras, a Grécia vier a enfrentar dificuldades, não conseguindo tão cedo acertar o passo com as exigências dos seus financiadores?…
10.A verdade é que a Grécia, na situação actual, embora sujeita às exigências dos mercados, pagando juros muito altos, ainda goza de alguma liberdade de manobra, pode tomar as suas decisões em matéria fiscal e quanto aos cortes de despesas – os critérios ainda são seus…
11.E também pode prosseguir por sua conta e risco os objectivos de redução do défice, sendo que caso consiga algum progresso - ainda que não cumpra totalmente os objectivos propostos - pode esperar que os mercados se mantenham disponíveis para financiar…
12.Será que a Grécia, depois de aparentemente decidido o apoio dos seus Pares, conseguido com tanto “suor e lágrimas”, vai acabar por concluir que esse apoio constitui, no fim de contas, um presente envenenado?
13.Confesso que não sei, mas não me espantaria que assim fosse…

15 comentários:

  1. Poderá ser tudo, caro Tavares Moreira.
    Mas do que não há dúvida é que alguém vai pagar as asneiras feitas pelos Governos, e esse é o povo grego.
    E ainda bem que há pressão externa. Se não a houvesse, não seriam tomadas medidas e a desgraça seria total. Com os Governos a deitarem culpas uns para cima dos outros.
    Para nós devia constituir um exemplo esta tragédia grega...

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  2. Dr. Tavares Moreira
    Ainda hoje ouvi o Ministro das Finanças da Grécia afirmar, já depois de conhecida a decisão da facilidade de crédito de emergência, que os Países do Euro sabem e reconhecem o grande esforço que os gregos estão a fazer para pôr em ordem as contas públicas. Não ouvi uma palavra sobre a utilização da facilidade.
    Sobre a estrutura da dívida ouvi que a maturidade será de três anos. Estranhei!

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  3. Caro Pinho Cardão,

    Palavras prenhes de razão, essas!
    Mas s ebm me parece, este apoio de emergência à Grécia vai ser interpretado, cá no burgo, como um indicador de que, a final, teremos sempre uma saída para os nossos problemas financeiros.
    Que poderemos contar com uma rede protectora para continuarmos as nossas manobras de alto risco...

    Cara Margarida,

    Exactamente, a Grécia parece manter-se muito "fria" em resposta a esta "calorosa" ajuda dos seus pares...
    O certo é que por ora a reacção dos mercados foi positiva, baixando as taxas de juro, o que para a Grécia pode ser mais um incentivo para descartar a utilização da facilidade.
    Pode bem vir a suceder que a simples existência desta facilidade, mesmo sem ser utilizada, lhe abra as portas dos mercados, podendo continuar a viver sem ter de se sujeitar à dura tutela financeira...
    O ponto é que a facilidade permaneça disponível indefinidamente, sem risco de caducidade...
    Seria bem visto, não lhe parece?

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  4. Dr. Tavares Moreira
    Concordo que é importante que a facilidade permaneça disponível, funcionando como uma garantia para os mercados - uma espécie de "comfort letter". Esta caução pode ajudar a Grécia a financiar-se nos mercados internacionais, porventura com condições financeiras menos gravosas, o que poderá ser, também, benéfico para o Euro.

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  5. Caro Dr. Tavares Moreira, em minha opinião, qualquer decisão de apoio que os países da UE tomem, relativamente à dívida externa Grega e Portuguesa, que não seja, o perdão da mesma... será sempre um presente envenenado.
    E o veneno que vem dentro deste presente, será sempre a taxa de juros establecida, mesmo que seja de somente, meio ponto precentual.
    Isto porque, não ha mercado para as exportações e a competição que os países asiáticos impõe aos países europeus, retira-lhes a hipotese de qualquer recuperação, passível de suportar o pagamento de taxas de juro, a 10 ou a 100 anos.
    Portanto, e mais uma vez, na minha opinião, o problema não se focaliza no "quando", mas sim, no "como".
    Assim como não entendo, quem irá financiar Portugal, de forma a que possamos corresponder, como nos obriga o acordo, a participar no primeiro ano, com os 774 milhões de euros para a Grécia.
    É que nem os "aneis" já possuímos e os dedos... não sei se valerão tanto.

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  6. Será que é só do ponto de vista financeiro que os Gregos estão relutantes? Porque tem que ser um país economicamente solidário com os outros que não o são financeiramente? A favor de quem se estão a abrir os mercados e a limitar as produções agrícolas? Aos americanos e chineses que se dispõem a ajudar ou aos alemães que nos dizem para vender as ilhas? Porque razão devemos estar presos uma moeda se aquela que nos ajuda quando as coisas correm mal é outra?


    Já agora, entre as lições que Portugal deveria tirar há alguma que implique pedir responsabilidades àqueles que nos meteram nos tratados sem referendo?

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  7. Caro Tavares Moreira

    Algumas "adendas":

    Bazar Levantino

    Os gregos,como bons levantinos, andam, no bazar financeiro internacional, a mercadear a dívida.
    Já sabem que podem obter 25MMilhões dos chineses, contra alienação de activos;
    Já sabem que, a uma taxa de juro um ponto acima do pago pelos alemães, têm a "solidariedade" europeia, conseguem 30 MM, mais o que lhes é devido dos direitos especiais de saque do FMI;
    Agora vão tentar obter os 4% de juros oficiais que desejam, mais o que a futura desvalorização (previsível) do USD, através de uma colocação na divisa supra.
    Confirma o que já disse: andam a tentar confundir-nos, tentando que tomemos como alternativas o que não passam de opções....

    Cegueira europeia

    A "união" europeia foi sempre um projecto assente em vontades políticas. Abstenho-me de glosar sobre o tema. Em todos os momentos importantes e em todas as crises, a vontade política prevaleceu; prevaleceu sobre as objecções técnicas, administrativas e económicas.
    O arrastar do psicodrama grego é a demonstração da impossibilidade de encontrar um consenso político que permita ultrapassar o problema. Para quem não queira ver/interpretar desse modo, sempre se poderá perguntar porque motivo os instrumentos do euro não foram aperfeiçoados para, poder fazer "face" aos problemas actuais; ou porque será que nada foi feito para colocar, as economias do euro ao abrigo dos movimentos dos mercados financeiros internacionais, como sucede, por exemplo, com o que se passa com, alguns estados norteamericanos? (Estes assistem a uma degradação do rating da dívida, sem que isso ponha em causa a solidez da divisa).

    Posto isto, só a cegueira própria da fase da negação, pode explicar a atitude europeia de continuar a considerar que o euro pode ser salvo sem que tal represente sacríficios desiguais para os seus membros.

    O Futuro

    Esmuiçar foi um verbo que entrou no léxico nacional, por via de um programa humorístico, o próximo a (re) entrar no léxico será o verbo procrastinar.
    Há quem veja similitudes do caso grego com o que sucedeu recentemente com o Salomon e prevejam que Portugal e/ou Espanha seja o Lehmann....
    Porque a pergunta que não fazemos é: quantos países mais estarão os países eurropeus dispostos/aptos a apoiar, em caso de necessidade?

    A presente "ajuda" vai custar 730 milhões a Portugal ou, +/- 0.4% do PIB; o que significa que, as metas do governo para o défice do próximo ano já estão alteradas para mais 0.4%; onde vai, o governo, cortar?
    Como vai explicar ao pensionista e ao assalariado que tem de aumentar o iva num ponto, para ajudar os gregos que gastaram demais? Como consegue ser plausível se não "tocar" nos benefícios do pessoal dirigente?

    Porque será que nós, europeus, considerámos adequadas as mézinhas que aplicámos, via FMI, à Tailândia e Coreia (entre outros) em 93/94 do século passado e não as consideramos acertadas, quando nos tocam a nós?

    Estamos em fase de "end game" e qualquer procrastinação apenas piora as coisas.

    As elites gregas, os seus políticos, tal como os nossos, optaram por iludir as responsabilidades, acreditando que o futuro reserva, sem mais, a solução, ou pelo menos a diminuição da culpa e do dolo...
    a ver vamos.....

    Cumprimentos
    joão

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  8. É bem capaz de estar cheio de razão, caro Bartolomeu...emprestar dinheiro à Grécia, nesta altura dos acontecimentos é uma forma de ajuda que ajudará muito pouco...
    Para emprestar, Portugal tem de pedir emprestado, claro!

    Caro Tonibler,

    Espero que me tenha entendido bem, a relutância da Grécia, como me parece decorrer do texto que escrevi, vai muito para além da questão financeira...
    Tem que ver com uma coisa chamada "soberania das Nações" ou dos "Estados-Nação" - a qual, ainda que tendo por certo sido muito mal utilizada nos últimos anos em especial, aos Gregos como a outros custou sangue, suor e lágrimas a conquistar...

    Caro João,

    A eventual (pouco provável na minha sempre frágil perspectiva) concessão do empréstimo à Grécia não afectará o défice orçamental pois será contabilizada como Activo Financeiro (não como despesa de capital) uma vez que é recuperável...
    Mas afecta certamente a nossa capacidade de endividamento externo uma vez que, não tendo 1 só Euro de poupança disponível, só poderemos emprestar à Grécia no conhecido sistema de "back-to-back" - ou seja contrairmos um empréstimo (no exterior, claro está) para o repassar para a Grécia.
    E com os pagamentos da Grécia pagarmos o empréstimo contraído...
    Quanto ao resto, registo sua sempre erudita análise destas questões.

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  9. Sim, entendi, caro Tavares Moreira. Por isso referi a questão dos referendos. Os políticos lusos (e não só) andaram a brincar com as responsabilidades das cedências de soberania. Espero que uma das lições a tirar seja exactamente o tratamento exemplar dessas responsabilidades que, também na nossa história, se fez de sangue, suor e lágrimas.

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  10. Para lhe ser franco, caro Tonibler, não atribuo distinção essencial ao facto de se ter ou não referendado os Tratados...
    Se nas urnas foi sempre dada a confiança aos que negociaram tais Tratados e nunca existiu um movimento pró-referendo que exprimisse uma séria preocupação colectiva com os riscos de limitação da soberania...
    Algumas vozes isoladas, certamente, mas não mais do que isso.
    Consequentemente, nessa óptica seremos todos responsáveis...os que votaram + ou - alegremente nas propostas político-partidárias que tinham a aprovação dos Tratados por suposto...
    Em conclusão - minha, como é óbvio, a sua poderá ser diferente - não sei bem a quem se vai pedir as responsabilidades que aponta, dado o enorme número de cidadãos envolvidos.

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  11. Não há assim tantos, caro Tavares Moreira. Como nunca foram referendadas as transferências de soberania, a lista dos culpados é curta. Porque, como no futebol, quando as coisas correm bem, "ganhámos", quando correm mal, "perderam". Os referendos não servem para saber se as pessoas querem ou não, servem para as responsabilizar pela escolha. Lembro-me por exemplo da vergonha que foi o conluio entre os actuais PM e PR para aprovarem o tratado de Lisboa, mesmo sabendo do carácter constitucional que passaria a ter, à revelia do povo. E o referendo fazendo parte do programa do partido que ganhou. Ora, o actual PR, por exemplo, dificilmente poderá estar fora da lista dos responsáveis.

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  12. Caro Tavares Moreira

    Muito obrigado pelo esclarecimento.
    Segundo as últimos cálculos a Grécia vai necessitar de +/- € 80MMilhões. Para já, "conseguiu" +/- € 30 MMilhões.
    Vamos admitir que necessita de mais uma quantidade equivalente; vamos "emprestar" mais € 730 Milhões?
    Se, a Grécia, necessitar de recorrer aos "empréstimos" dos parceiros, significa que não se conseguiu financiar nos mercados, por isso, como vai pagar este "empréstimo"?
    A propósito, vá ao site "baseline scenario" e veja o artigo da co autoria do Simon Johnson sobre Portugal......

    Cumprimentos
    joão

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  13. Caro Tonibler,

    Não terá existido erro maior, no plano das opções políticas, do que a adesão ao Euro nos termos em que encaramos essa adesão...
    Mas, como se recordará, esse enorme equívico foi celebrado, de norte a sul, como uma grande vitória, uma garantia de um futuro brilhante para o País e os seus cidadãos...
    Quem são neste caso os responsáveis, na sua óptica...os muitos milhares que se entregaram a esses festejos?

    Caro João,

    O grande problema, levemente aflorado no Post, suscitar-se-á num cenário em que a Grécia não consiga - como me parece muito provável, de resto, face à enormidade da tarefa - cumprir os objectivos de consolidação das suas finanças públicas.
    Em tal cenário, a Grécia terá sérias dificuldades para voltar aos mercados...
    Ou seja, terá de continuar a viver em regime de tutela financeira, ligada ao "ventilador" financeiro proporcionado pelos seus Pares, ficando desprovida de toda e qualquer autonomia orçamental, limitando-se a cumprir as ordens dos Pares transmitidas via FMI...
    Julgo que a Grécia já terá interiorizado essa possível consequência pelo que admito (...) que procure evitar, a todo o custo, recorrer à "ajuda" dos Pares...
    Mas é a minha análise, vale o que vale (muito pouco)...

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  14. Caro Tavares Moreira,

    Ainda festejo a vitória do Benfica desta noite, mas dificilmente me considero responsável pelo resultado. Na verdade, não joguei. Tal como na entrada do Euro, embora nessa não tenha festejado(até porque trabalhei que nem um cão nesse fim-de-semana de 1/1/99). O referendo do Euro foi sugerido e pedido por milhares de pessoas e o PSD e o PS cozinharam a coisa. Se tivesse corrido bem, era uma coisa, não correu...

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  15. Tem boas razões para festejar, caro Tonibler, estive na Luz, contra o meu hábito, tendo tido oportunidade de ver como os seus bravos (12) se portaram...
    E só desejo que o sucesso do projecto do "glorioso" não seja inferior ao da adopção do Euro por aqueles que hoje se podem gabar da fase grandiosa que este País atravessa!

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