sábado, 4 de dezembro de 2010

Sá Carneiro

Durante estes dias do aniversário da morte de Sá Carneiro têm-se multiplicado as conjecturas sobre o que teria acontecido ao país se a tragédia de Camarate não tivesse acontecido. Conjecturas traduzidas em artigos de jornais, debates e opiniões nas rádios e televisões. A matéria chegou mesmo a ser analisada, recorrendo a métodos científicos de reescrita da história.
Creio que é a pior forma de homenagear Sá Carneiro. Acho-a mesmo a roçar o ridículo.
As homenagens aos políticos justificam-se pela bondade dos objectivos por que lutaram, pelas políticas públicas que promoveram, pelo serviço público que prestaram, no fim, por terem colocado o bem dos cidadãos acima dos seus interesses pessoais ou partidários.
Justificam-se pelos actos praticados em vida, não pelos que não puderam praticar depois de terem morrido.
Retratar o que seria Portugal se não tivesse havido Camarate é uma impossibilidade, um disparate e uma pura perda de tempo. Apenas justificável para preencher espaços mediáticos, sem qualquer valia e, muito menos, valor acrescentado algum. Puro folclore.
Sá Carneiro vale pelo que foi. E pelo exemplo que deu. Por isso, foi um dos raríssimos estadistas do pós-25 de Abril. Isso basta. São dispensáveis posteriores adornos de pechisbeque.

6 comentários:

  1. Tenho ouvido essa interrogação ininterruptamente Rio-me sempre que a ouço, porque não tem qualquer sentido, uma frivolidade sem pés nem cabeça. São os factos do presente que determinam o futuro. Reinventar o passado para imaginar que o presente poderia ser muito diferente do que vivemos só serve para nos magoar ainda mais.
    Se Sá Carneiro fosse vivo muito provavelmente teria perdido a aura que desfruta por estar morto... Uma opinião pessoal. De qualquer modo, deixo os três pontos à discussão!

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  2. Caro Pinho Cardão

    De facto, a conjectura que refere ilustra bem a futilidade de alguns meios de comunicação social e respectivos comentadores.

    Além disso, concordo plenamente com Salvador Massano Cardoso quando diz que "Se Sá Carneiro fosse vivo, muito provavelmente teria perdido a aura de que desfruta por estar morto".

    Como se sabe, Sá Carneiro morreu dramaticamente quando (e porque) tentava dar um derradeiro impulso à visivelmente desastrada candidatura do General Soares Carneiro à presidência da República.

    Ora, o apoio de Sá Carneiro àquele candidato presidencial foi um erro clamoroso. De todos os analistas políticos da época apenas me recordo da concordância de José Miguel Júdice e Sarsfield Cabral. O Júdice então, tinha tamanha certeza de que Soares Carneiro venceria as eleições que até jurou nunca mais escrever qualquer comentário político se assim não fosse. Passado pouco tempo reconsiderou...

    Por isso, se não tivesse morrido, Sá Carneiro teria sido alvo de críticas implacáveis. Não foi, nem é, porque os portugueses são muito generosos com os mortos e apenas lhes recordam as virtudes.

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  3. É a nossa especialidade, "liquidar" os vivos e invocar a vida dos mortos, esquecendo que enquanto foram vivos também lhes negámos os méritos que agora idolatramos, um persistente exercício de fuga à realidade.

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  4. Li algures que “a nossa experiência é enriquecida momento a momento através dos chamados órgãos de comunicação social.” Considero esta afirmação desactualizada. O que se ouve ou lê, hoje em dia, na comunicação social, não parece mais do que um “preencher” espaços que não conduzem a enriquecimento nenhum.

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  6. Anónimo18:04

    Concordo, Pinho Cardão. Chega a roçar o rídiculo esta insistência nas prognoses.
    A maioria destes exercícios é feita por gente que não conhece nem a vida, nem o percurso de Sá Carneiro, nem a circunstância de ter sido, em especial na política, tudo menos uma personalidade incontroversa. Bem pelo contrário. Depois existem os outros, que o conheceram bem, que o contestaram, nalguns casos o alvitaram por razões até da sua vida pessoal, e hoje o alçam a mito. Esses, que conjugam sempre bem idolatria e hipocrisia. Conheço alguns.

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