terça-feira, 3 de julho de 2012

Incertezas...

Tempos houve em que partia para uma aula, um seminário, uma conferência com a pretensão de levar a lição bem estudada, ideias feitas, pronto a defendê-las com o argumentário previamente ensaiado. Agora, quanto mais estudo menos certezas tenho. Hoje de novo me dedico a substituir os pontos finais no guião de uma aula por pontos de interrogação. A dúvida maior: não tenho a certeza de que isso seja bom...

7 comentários:

  1. Notamos sinais evidentes de que o mundo se encontra em mudança.
    É verdade que essa mudança teve início com o aparecimento do Homem, mas, agora, os sinais que notamos, são so da mudança da mudança. Ou então, de uma mudança que se sobrepõe à mudança.
    Sabemos que à mudança se deve a renovação e que, a renovação gera mudança. Talvez possamos intrepertar tudo isto como cíclos sobrepostos interminávelmente, encadeados uns nos outros, uns, empurrando os outros, outros, travando os outros.
    No entanto, quando olhamos para trás nos tempo, temos a desagradável sensação, que apesar de todas as mudanças que constatamos e provamos, o Mundo mantem-se inálterável. Os fenómenos sucedem-se da mesma forma aleatória que ha milhões de anos, cíclicamente, o Homem repete os erros que a experiência devia já impedi-lo de os cometer e, a pesar de todo o conhecimento e todo o saber acumulado, o Homem mantem-se questionável e questionador, indeciso e afirmativo, acertivo e falível.
    Recordou-me esta sua reflexão, caro Dr. José Mário, uns versos do Padre António Vieira, que em parte vou transcrever:
    Ostempos mais esfaimados
    Esperam grandes fortunas,
    Nunca tardam as venturas
    Se se atropelam pecados.
    Terá fim a nossa dor,
    Se em boa razão me fundo,
    Terámelhoras o mundo
    Quando estiver pior,
    Isto não terá detença
    Mediante alguma virtude;
    Porque é mais certa a saúde
    Quando se passa a doença.
    .../...
    Olha, que a ti te procura,
    Confia em teu esperar
    Que muito te hà do custar;
    Nunca muito pouco custa.
    Se tu queres ver na Terra
    Os sinais mais turbulentos,
    Verás, que teus próprios ventos
    Te hão de fazer mais guerra.

    ;)

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  2. "Interrogo-me a mim mesmo" tornou-se uma expressão clássica dos oradores e comentadores nas conferências e seminários e palestras e mesas redondas.
    Claro que é mais cómodo um sujeito interrogar-se do que afirmar. É politicamente correcto, democrático e agrada a todos. Só que não leva a nada. Atitude por atitude, gosto mais dos que, depois de estudarem bem as matérias, passam à acção sem dúvidas. Podem errar, mas não se enganam. A interrogação é o ponto morto da acção.

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  3. Discordo, caro Dr. Pinho Cardão.
    A interrogação, sobretudo a auto-interrogação, revela a vontade empenhada em encontrar soluções correctas e abrangentes. Demonstra possuir-se a preocupação de conhecer a opinião do outro, enquadrando-a num contexto prevalecente; aquele que verdadeiramente merece a designação de "democrático".
    Além de que, a auto-interrogação devolve-nos o maior conhecimento de nós próprios, proporcionando-nos melhorar como pessoas, anulando a arrogância e valorizando a humildade, ensinando-nos a ouvir as opiniões alheias, sem necessáriamente ter de alterar ou anular as nossas.
    ;)

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  4. Caro Bartolomeu:
    Claro que cada qual deve interrogar-se. Reflectir perante alternativas . Mas decidir.
    É o que queria dizer. Ficar na interrogação é inação.

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  5. Um dia um professor meu, figura alta da física portuguesa e não só, começou-nos a explicar-me a dualidade de Bohr, o fenómeno em que as partículas muito pequenas se comportam simultaneamente como ondas e como corpúsculos.
    Passou hora e meia a argumentar que o comportamento ondulatório era uma mera característica estatística e que, na realidade, eram todas corpúsculos.
    Na aula seguinte, voltou a introduzir a dualidade e defendeu durante hora e meia porque é que eram ondas e não corpúsculos. Quando alguém lhe apresentava os argumentos da aula anterior, ele contrapunha com alguma agressividade contra os argumentos que ele mesmo tinha apresentado anteriormente. No fim da aula diz: "Bem, tudo aquilo que vos ensinei foram argumentos pró e contra qualquer uma das teorias. O que mostra que provavelmente Bohr tinha razão: é as duas coisas! Mas isso decidem vocês..."

    Só uma história, caro JMFA. Provavelmente os pontos de interrogação vêm de ser e não ser. Eles que escolham!

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  6. Tenho muito menos interesse pelos que só fazem afirmações definitivas do que pelos que têm a honestidade de dar espaço a interrogações, a qualidade de quem ensina não é de a de dar tudo prontinho a consnumir mas a de ensinar a pensar, como o professor de que aqui fala o caro Tonibler, e como o Massano Cardoso aqui tantas vezes tem feito. E, para ensinar a pensar, é preciso saber mesmo muito!

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  7. José Mário
    É bom dar espaço a interrogações, ajuda a pensar e a partilhar opinião. É, afinal, um sinal de inteligência. Já é um grande avanço a certeza de que não há respostas para tudo, nem respostas únicas para muita coisa!

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