terça-feira, 15 de outubro de 2013

Passa a outro senão chumbas!


"Passa ao outro senão chumbas" era uma brincadeira no liceu, dava- se uma palmada a um distraído e ele tinha que descobrir logo outra vítima senão "chumbava". O processo de ajustamento dos rendimentos da velha senhora aos anúncios que jorram da televisão desencadearam o alvoroço de um processo semelhante, a quem "passar" o problema? Despedir a empregada que leva direitinho mais de metade das mensalidades das reformas? Impossível, implicaria uma indemnização, mais o mês de férias, mais os subsídios, uma liquidez súbita impossível de mobilizar. Além disso onde contratar alguém competente por menos, para mais que se adaptasse às graves dependências da senhora? Talvez a empregada aceite uma redução, quando foi do subsídio não aceitou, pagou-se em duas vezes, pode ser que agora, mas feitas as contas, talvez um lar, um lar decente, a novas pensões chegam à justa mas não há lugares nos que são mais próximos e além disso a casa vazia também dá despesa, desde logo o IMI, o condomínio, a limpeza, para vender em vida da senhora seria um desgosto brutal e mesmo que quisesse não é fácil vender de um dia para outro, nem de um ano para o outro. Há que reunir os condóminos para baixar, mas já há tantos que não pagam, se calhar será mais um, no prédio já ninguém se entende. Há ainda as rendas de dois andares antigos, os inquilinos vivem lá há décadas, velhinhos como a proprietária, quando foi dos aumentos livres combinaram pequenos aumentos, o suficiente para os encargos do IMI reavaliado, numa das casas a inquilina amontoa-se com a filha divorciada e os netos, o pai não paga a pensão de alimentos, a renda dessa ficou na mesma até a situação melhorar, agora paciência, tem que se falar com os inquilinos e fazer aumentos maiores, neste mundo já não se pode ser decente, diz a senhora, os velhotes hão-de dizer que eu não tenho palavra, eles não estão a contar com o aumento. Nessa altura tocou o telefone, era a inquilina a pedir urgência, por favor, a partir de Janeiro não posso pagar o aumento que combinámos, a minha pensão não chega, a minha filha está desempregada, por favor...
Passa ao outro senão chumbas!

6 comentários:

  1. Um grito comum dos portugueses entalados com as coisas a subirem e as pensões a descerem ou os empregos a voarem...
    Até quando iremos aturar estes abutres sem vergonha...?

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  2. Bom, mas como já bem se percebeu, não outro a quem "passar", pelo que, o mais provável é irmos todos chumbar. A menos que ganhemos coragem para "passar" áqueles que nos têm dado, não palmadas mas, estaladonas de nos deixar a cara à banda...

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  3. Suzana
    É uma espécie de "terramoto", às duas por três não fica pedra sem pedra...

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  4. E a Dra. Suzana tem alguma alternativa melhor?

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  5. "Alternativa"? Talvez ajude:
    «A tirania com mais êxito não é aquela que usa a força para assegurar a uniformidade mas a que retira a consciência de outras possibilidades*»
    *Não há ‘alternativa’.
    “A cultura da incultura”
    Allan Bloom
    Ensaio sobre sobre o declínio da cultura geral
    Europa-América (livros de blso)

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  6. Não sei, caro Francisco, não tenho que decidir isso, mas esta ideia de que é possível "isolar" sectores inteiros sem que isso se reflicta na economia faz-me alguma impressão, daí o caso real que expus.

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