quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Optimismo dos Consumiores e Conta Externas Positivas em boa coexistência...quem diria?!


  1. Numa época em que a tendência largamente dominante dos sabores mediáticos parece ser no sentido de recuperar teses que há muito se desejariam enterradas – como é o caso da que ficou tristemente celebrizada pela expressão “Há mais vida para além do défice” – não surpreende que passem completamente ignorados factos que assumem um significado relevantíssimo para caracterizar o desempenho da economia portuguesa.
  2. Refiro-me, concretamente, ao facto de, na pretérita semana, ter sido notícia (muito fugazmente) a divulgação pelo INE de uma nova subida no indicador de confiança dos Consumidores, em Novembro, recuperando níveis de 2002…
  3. …ao mesmo tempo que, como sabemos (tema tratado no último Post aqui editado), as Contas Externas evidenciavam, até ao final  de Setembro, um comportamento bastante positivo, parecendo encaminhar-se para saldos anuais superiores aos de 2013, parecendo nesta altuta verosímil um saldo conjunto positivo das Balanças Corrente e de Capital superior a € 4 mil milhões, ou seja algo próximo de 2,5% do PIB, que, a verificar-se, superará as melhores previsões.
  4. Esta coexistência de uma elevada confiança dos Consumidores e de Contas Externas francamente positivas representa uma situação quase inédita na nossa história económica recente.
  5. O que tem sido norma é a confiança dos Consumidores se encontrar (i) em ALTA quando as Contas com o Exterior se encontram bastante desequilibradas, traduzindo situações de euforia do consumo com forte incidência nas importações e pouco estímulo para as empresas exportarem,  e (ii) em BAIXA nos períodos  em que se torna necessário reequilibrar as Contas com o Exterior, o que é normalmente conseguido com sacrifício dos Consumidores…
  6. Esta novidade poderá ser extraordinariamente significativa e positiva, sobretudo se for duradoura, o que pressupõe que não sejam cometidos exageros na dinamização da procura interna, sobretudo do consumo privado, exageros que pagaríamos muito caro pois se traduziriam no regresso ao desequilíbrio das Contas com o Exterior, voltando a colocar o País na rota suicidária da acumulação de endividamento externo…
  7. É por isso que, quando volto a escutar/ler melancólicos apelos “à vida que existe para além do Orçamento” e me recordo da tragédia a que essa lamentável teoria nos conduziu até Maio de 2011 e capítulos subsequentes, fortes arrepios de frio são compreensíveis…
  8. …sobretudo quando esses apelos aparecem alegremente fusionados com a renovação de um amontoado de promessas orçamentais e outras, na sua grande maioria inconsistentes e não realizáveis, por parte da renovada Esquadra Crescimentista!
  9. Será que se preparam mesmo para destruir aquilo que se revelou tão difícil conseguir?!

8 comentários:

  1. Mas, caro Tavares Moreira, não poderia ter este post o título "há vida para lá do orçamento"? É que estes números mostram exactamente isso. Não importa o Cavaco a espernear, o Nogueira a manifestar, o Costa a discursar, a hospedeira a não voar, o maquinista a andar a pé, o Joaquim a fazer...aquelas coisas que é pago para fazer; Portugal, esse, vai de vento em popa. A questão do orçamento só se coloca que a república quiser ir atrás. Mas se não quiser, não vais ser por isso que o país vai parar que isto de amigo não empata amigo. A república lá arranjará outro que a pague.

    ResponderEliminar
  2. Caro Pires da Cruz,

    Tem graça que o seu raciocínio até parece sustentável, numa apreciação cartesiana...
    Sucede, todavia, que a situação presente, que destaquei neste Post, de coexistência pacífica entre optimismo de consumidores e saldo positivo, confortável, das contas com o exterior, não está garantida indefinidamente...
    E exactamente uma das vias mais práticas de a destruir será a opção por uma política orçamental de tipo laxista ou facilitista, de dê largas à imaginação gastadora dos poderes públicos...
    Não, meu Caro, embora entenda e respeite o seu lado afectivo nesta matéria, o convite para "mais vida para além do Orçamento" só nos pode trazer mais dores de cabeça...e as que temos, ou temos tido, são para mim mais do que suficientes...

    ResponderEliminar
  3. Caro Tavares Moreira, não tendo qualquer afecto pela frase, até porque as suas consequências foram nulas na práctica, o meu ponto é que quem faz o convite "para mais vida para além do orçamento" no sentido de "arranja-me vida à conta do orçamento" não percebeu de todo a revolução de 2010. A república portuguesa foi salva da falência pelo estado federal. O verdadeiro estado de facto. Por isso até podem fazer os convites orçamentais que entendam que não vai ser por isso que vai haver um país para o pagar.

    A nossa opinião difere num único ponto. O seu de que os portugueses vão defender a república portuguesa independentemente daquilo que custa. O meu de que os Portugueses já dão a república como perdida e, como os números mostram, nem sequer estão particularmente preocupados com isso. Quando a república exagerar na força para ser paga, que deve estar por um fio, acaba-se! Faz-se o write-off da coisa.

    ResponderEliminar
  4. Caro Pires da Cruz,

    Essa opinião das consequências da "famosa frase" (ff) terem sido nulas na prática, é deveras original e algo enternecedora...
    Recordo-me ainda hoje muito bem do episódio, até porque na altura estava no sítio errado à hora errada, e não posso esquecer as consequências quase sísmicas de tal proclamação, que retiraram boa parte do crédito da política orçamental corajosamente assumida pela MF de então, MFL...
    E talvez a ff tenha concorrido também, em escala não negligenciável, para a opção de DB pela Comissão Europeia, esquecendo o compromisso assumido de levar a legislatura até ao fim (aqui já não sei se foi bom ou não...).
    Paradoxalmente, onde estamos de acordo, é precisamente no ponto (seu 2º parágrafo) em que afirma estarmos em divergência - creio que estamos bem mais próximos quanto a essa avaliação, ainda que não totalmente coincidentes...

    ResponderEliminar
  5. Caro Tavares Moreira, a ff é de uma escala tão inferior, mas tão inferior à mais "insignificante" das frases do actual PR que nem consigo sequer ver-lhe a relevancia. Embora, claro, tenho que respeitar o facto de não ter sido a mim que a frase veio bater.

    ResponderEliminar
  6. Caro Pires da Cruz,

    A minha opinião em relação à ff afasta-se cosmicamente da que o ilustre Comentador vem insistentemente vindicando...
    Na minha análise, não excluindo que outros altos magistrados da Nação, incluindo o que se encontra em funções, tenham emitido declarações menos felizes ou azaradas, não me recordo de nada equivalente em efeito deletério e grau de infelicidade...
    Mas, como acontece com outros ungidos da comunicação social, esse infeliz episódio passa entre os pingos da chuva como se nada se tivesse passado, ou, pior ainda, como se tivesse constituído uma profecia de grande gabarito!
    É de pasmar, ó gentes!

    ResponderEliminar
  7. "declarações menos felizes ou azaradas"??? Caro Tavares Moreira, o homem convocou um conselho de estado para humilhar o ministro da Finanças, inventou dois princípios constitucionais inimagináveis para um povo com o analfabetismo abaixo dos 50%, bloqueou TODOS os orçamentos do estado que não foram feitos pelo 44. "declarações menos felizes ou azaradas"??? Azar o nosso!...

    Podemos também falar das "declarações menos felizes ou azaradas" que a ministra das finanças, supostamente "vitimada" pela ff, faz todas as semanas?

    ResponderEliminar
  8. Caro Pires das Cruz,

    Admito, sem dificuldade, que algumas intervenções de ex e actual PR tenham excedido o nível de "menos felizes"/"azaradas", atingindo o lamentável nível "infelicíssimo"/"azaradíssimo"...
    Ainda assim não conseguem destronar a ff da sua posição cimeira, inexpugnável, em suma de Rainha dos dislates presidenciais!
    Ninguém, nenhum PR, por mais talento deletério que exiba, conseguiu até hoje esse feito.
    Quanto à ex-MF que foi vitimada pela ff, encontra-se, manifestamente, numa fase menos acertada das suas proclamações públicas, lamento que assim seja mas nada posso fazer para contrariar esse "downgrade"!

    ResponderEliminar