sexta-feira, 21 de janeiro de 2005

Elucidário de campanha – 2

Alternância – Versão actualizada da velha imagem do “rotativismo” parlamentar do século XIX. Ainda que muito contestada a ideia afirma-se pela evidência dos factos. A ideia determinista que lhe está subjacente exprime-se também pela tese: “não é o maior partido da oposição que ganha as eleições, mas o partido do governo que as perde”. Daqui se conclui que à oposição não se pede que o seja, apenas que se cale, não cometa erros e tenha muita paciência enquanto espera a sua vez. Os erros e o desgaste da governação são suficientes para desencadear os processos de alternância. Na conjuntura actual a tese é levada ao extremo do seu significado e consequências. Só há uma excepção nos trinta anos que levamos de democracia: Cavaco Silva e os governos do PSD (1985-1995). Um governo minoritário e mais dois sustentados em maiorias absolutas. A excepção confirma a regra até que apareça nova excepção, ou então que se reforme o sistema político que sustenta este determinismo.
Debates – Ponto alto das campanhas eleitorais em que se confrontam as “caras” das políticas para esclarecimento, gáudio ou depressão dos espectadores. Mais do que o debate das políticas, pretende-se comparar as “caras” pelo que revelam, pelo que calam, pela forma mais ou menos convincente com que defendem as suas teses. Por norma, o candidato que está na oposição anseia pelos debates, o que está no poder pretende limitá-los ao estritamente necessário, do estilo “não dou confiança!”. Não é o que se passa actualmente: quem está na oposição sente-se como se já estivesse no poder e quem de facto lá está parece não querer vestir aquela pele. Estamos perante a nova versão actualizada do “fazer oposição à oposição”.
Paraquedistas – À boa maneira militar, são aqueles que caiem de surpresa onde não são chamados. Também conhecidos por FT’s (“fora da terra” em versão actualizada de ET’s). Os da “terra” invocam o capital de conhecimento e notoriedade enquanto vantagem competitiva, os de “fora” geralmente invocam o estatuto de “figura nacional” para uma eleição que sendo distrital tem uma dinâmica nacional. Todos os partidos têm forças paraquedistas, mas só nos maiores o tema se torna polémico e recorrente. Com esta lei eleitoral não se verá tão cedo a luz ao fundo do túnel onde se meteu esta polémica. Não seria mais fácil mudar a lei, adoptando o sistema misto?

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