quarta-feira, 9 de março de 2005

Equívocos sem fim

Quando escrevi no post anterior, sobre a presença de Freitas do Amaral no Governo de José Sócrates, não imaginei que se iria suscitar um debate com uma questão que deliberadamente não abordei - o episódio do retrato na sede do CDS.
Entendi que a questão era irrelevante e, naturalmente, posterguei-a.
Mas os vários comentários colocados no post, suscitaram-me algumas reflexões que desejo partilhar com os nossos visitantes.
Em primeiro lugar a importância que se dá a questões precárias em detrimento das duradouras e estáveis. Perdemos demasiado tempo a discutir coisas sem importância. Assuntos que passados poucos dias já ninguém recorda.
Depois o imediatismo dos efeitos, a preocupação com a primeira reacção, em ser o primeiro a comentar, tudo isto com prejuízo de uma avaliação ponderada e cuidada das consequências do que se fez.
De seguida a prevalência da forma sobre o significado. Discutimos muito o modo como as coisas são feitas, em detrimento das razões porque se faz.
Finalmente, a questão do politicamente correcto. Passou a haver uma espécie de cardápio de comportamentos. É uma espécie de nova ditadura, que funciona no tempo com dois pesos e duas medidas. Só se aplica, quando e a quem convém.
A mistura destas práticas tem gerado um conjunto de situações que são lesivas da vivência democrática.
A comunicação social dá demasiada importância a assuntos secundários, quase inúteis, tal é a preocupação com a primeira página do dia seguinte.
Os agentes políticos agem alimentando este sistema.
Aqueles que não conseguem ser notícia, recorrem a uma velha máxima: mais vale ser odiado, do que ignorado. E fazem todo o tipo de disparates, unicamente para que falem deles.
No final, todos colaboramos nesta monumental farsa. Não trocamos ideias, falamos das garotices. Deixamo-nos levar pelas emoções que certas pessoas, atitudes ou organizações nos suscitam e paradoxalmente, sem nos apercebermos, prestamos mais atenção ao que eles dizem e fazem.
Em suma, falamos deles mais do que merecem e, assim, tornamo-nos em seus instrumentos de propaganda. Que perversidade...
O caso do retrato de Freitas do Amaral na sede do CDS é paradigmático - um episódio efémero, sem significado, nem consequências.
Pelo contrário, a presença de Freitas do Amaral no Governo de José Sócrates tem um enorme significado e muitas consequências. Desculpem a pergunta: o que estaríamos hoje a dizer se Mário Soares integrasse um governo de centro direita?

1 comentário:

  1. Anónimo10:22

    Meu caro Vitor, 100% de acordo com o que escreves. Sempre fui avesso à valorização do acessório, na política como na maioria do que interessa na vida. O meu comentário ao teu onde manifestavas a tua "divisão" (entendi como ´compreensão´) face à atitude é expressão disso mesmo. Não teci nem teço grandes considerações à volta do gesto. Limito-me ao que afirmei, e nada mais: foi uma garotada. Ponto final.

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