Hesitei, mas resolvi aderir ao desafio do Prof. David Justino.
Talvez não pelas causas mais nobres, mas motivado por uma espera de mais de duas horas numa Conservatória do Registo Predial de Lisboa, para pedir uma simples certidão de teor, pedido este dependente de um impresso que, no balcão, nem demorou 30 segundos a preencher…
Daqui a oito dias, é certo que eu, ou outrem por mim, teremos mais duas horas de espera para receber a certidão!...
Tenho que confessar que havia uma cadeira para me sentar e sentei-me.
Enquanto esperava sentado, magiquei como deveriam ser bem difíceis os tempos antes do 25 de Abril, nesta matéria de relacionamento do cidadão com os serviços do Estado.
É que, para além de haver menos cadeiras, em todos os requerimentos ao dito, se tinha que escrever, no fim do requerido, a mui responsável frase “ A Bem da Nação”. Tal significava que nada se pedia para bem exclusivo do próprio, longe disso…
Se tal frase continuasse obrigatória, certamente não teria que esperar duas horas, mas possivelmente dois dias, já que o solícito funcionário gostaria e teria, aliás, obrigação de averiguar qual o efectivo bem que adviria para a Nação dos requerimentos que recebia.
A eliminação do "a bem da nação" foi pois uma conquista irreversível do cidadão, a qual só por um processo verdadeiramente revolucionário se poderia obter.
Por processos reformistas nunca mais lá chegaríamos!...
Uma outra alteração profunda teve a ver com o fenómeno desportivo, cada vez mais importante.
Essa alteração irreversível teve a ver com o facto de o Futebol Clube do Porto se ter substituído aos Clubes de Lisboa nas grandes conquistas, verdadeiramente irreversíveis, do futebol, a saber: 15 campeonatos nacionais, 9 Taças de Portugal, 14 Supertaças, 2 Taças da Liga dos Campeões, 1 Taça UEFA, 1 Supertaça Europeia e 1 Taça Intercontinental, desde o 25 de Abril!...
O F.C. Porto é a verdadeira equipa do 25 de Abril!...
Passando para temas menos sérios, direi uma palavra sobre a justiça.
Antes do 25 de Abril, a justiça era cega e, se o não era, aparecia sempre de olhos vendados.
Passados 30 anos, a justiça, para além de cega, tornou-se surda e tornou-se imóvel.
Mas deixou de ser muda: não há magistrado que se preze que não troque uns dias de férias para dar uma entrevista na televisão.
No meio de tudo isto, os processos flúem, refluem, tornam a fluir e a refluir; os cidadãos são indiciados, arguidos, destituídos de funções, restituídos das funções, sempre arguidos e sempre inocentes, num contínuo devir.
Por vezes condenados, temporariamente aprisionados, e até temporariamente soltados, porque em tempo não julgados, e novamente aprisionados.
Termino com palavras correctas: devemos confiar na Justiça!...
Bela análise do Pinho Cardão. Houve conquistas, sem dúvida, mas muitas outras terão de ser feitas. Nos "entretantos", ao menos, podemos dar vivas ao FCP! Mas este ano...
ResponderEliminarEntendo, no entanto, que o humor não pode nem deve substituir a honestidade intelectual.
ResponderEliminarCumprimentos.