Na sequência da morte do Papa João Paulo II foram tecidas muitas opiniões, construídas interessantes entrevistas, divulgados calorosos pensamentos e efectuados posicionamentos estratégicos. A fé é algo de muito íntimo e dificilmente susceptível de discussão. O mesmo não se passa com os argumentos através dos quais se pretende saber o que é o melhor ou o pior para as comunidades. A este propósito, o ilustre professor de medicina Walter Oswald, numa entrevista ao Notícias Médicas, sobre a realização do referendo que pode abrir as portas à despenalização do aborto, deixa o seguinte conselho “Independentemente de qualquer lei, as pessoas devem agir de acordo com a sua consciência. Há leis más, iníquas. Aquilo que aconteceu na Alemanha nazi não foi ilegal”.
Estou de acordo com a primeira parte – as pessoas devem agir de acordo com a sua consciência. A tentativa de demonstrar a iniquidade das leis com o exemplo nazi, parece-me absurdo e até perigoso. Do mesmo modo, considerar as experiências, em determinadas circunstâncias, das células embrionárias ao Holocausto é igualmente desproporcionado. Será que no futuro as leis de estados soberanos terão de ser submetidas à apreciação dos responsáveis máximos da Igreja Católica a fim de saber se estão de acordo com a vontade de Deus e só depois é que poderão ser promulgadas? Pressinto qualquer coisa no ar que se assemelha a teocracia…
Não!Mas...
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