Seis profissionais de saúde, cinco búlgaros e um palestiniano foram condenados à morte por terem, segundo as autoridades líbias, infectado deliberadamente 428 crianças no hospital de Benghazi, Tripoli, com o vírus da Sida. Não de uma forma acidental, mas propositada. Ou seja, na perspectiva líbia, um verdadeiro acto de bioterrorismo, um acto de bioconspiração encomendado pelos serviços secretos dos E.U.A ou de Israel. Deste modo estariam criadas condições para desencadear o caos na Líbia!
As reacções a esta bárbara decisão têm decorrido na estrita esfera diplomática, nalguma comunicação social e, agora, em revistas científicas. Há como uma corrente, embora muito débil, de solidariedade com os profissionais em causa, contrastando com muitas outras iniciativas que são acompanhadas de verdadeiras esquadrilhas de ataque nos órgãos de comunicação, despertando a atenção para a injustiça criada. Os profissionais, numa primeira fase, confessaram a autoria dos factos no seguimento de várias torturas, espancamentos e violações. Posteriormente negaram os eventos alegando que foram maltratados e profanados os mais elementares direitos humanos, facto que não deverá ter abalado por aí além a consciência dos torcionários líbios e muito menos a de Kadaphi se é que a possui.
Face a uma situação verdadeiramente insólita, profissionais de saúde que se disponibilizaram para darem o seu contributo a um país carenciado numa base de verdadeiro altruísmo, vários cientistas lavraram os seus protestos, permitindo que uma equipa liderada por duas eminentes autoridades, das quais se destaca Luc Montagnier – o descobridor do vírus da Sida – fossem a Benghazi estudar a epidemia. As conclusões apontaram para a inocência dos médicos. A epidemia foi uma consequência de más práticas hospitalares (datando de há muitos anos) e das condições de higiene. O trabalho sério dos investigadores contrasta com as posições dos líbios, mas as suas opiniões foram recusadas. O tribunal líbio sentenciou-os à morte por fuzilamento. Kadaphi já se pronunciou mais do que uma vez sobre a culpabilidade dos mesmos.
Não deixa de ser curioso o facto do governo líbio reconsiderar a situação no caso de receber 5,7 mil milhões de dólares e se for libertado o acusado de ter feito explodir um avião em 1989. Deve ser para pagar as indemnizações do atentado de Lockerbie. Assim se comporta o verdadeiro e genuíno terrorista, Kadaphi.
Os profissionais de saúde são, por definição, generosos e altruístas, mas casos como este devem fazer pensar duas vezes antes de se lançarem em terras governadas por terroristas…
Estou bem longe de considerar os EUA como o paraíso político na terra (conhecidas são as minhas simpatias com a "nova" Rússia), ou de pensar que o sistema de relações internacionais deixará de ser dominado pelo cinismo.
ResponderEliminarPorém, é em casos como o da Líbia que gostava que a UE não fosse "velha, gorda e flácida"...
O problema é que, mesmo nas intervenções pró-democracia ou pró-direitos humanos, acontecem fracassos como o da Somália ou "barracas" como a do Iraque.
Braços cruzados é que nunca!