Estava há uns dias no meio do trânsito do fim de tarde, numa rotunda de Lisboa. Perto de mim, um carro parado no sinal vermelho descaíu muito igeiramente e tocou ao de leve no carro da frente. Muito naturalmente, a condutora limitou-se a acenar um pedido de desculpas ao carro da frente e recuou um pouco. Mas o dono do carro da frente - um carro todo branco, incluindo os pára choques - saíu furioso do carro, gritou fortemente com a senhora e debruçou-se meticulosamente sobre o hipotético risco no pára choques. Entretanto abriu o sinal e formou-se uma fila frenética, todos a buzinar. O senhor continuou a puxar o lustro ao pára choques, tentanto eliminar alguma sombra. Voltou então à janela do carro culpado e dispôs-se a convencer a senhora a sair do carro para decidirem da gravidade dos danos. O ar perplexo da condutora era digno de registo, assustada com a reacção despropositada e ameaçadora. Passei o sinal e ainda lá ficaram ela dentro do carro, ele aos gritos cá fora.
Li no jornal de hoje que os portugueses são os consumidores da UE que menos reclamam como consumidores, suportando como resignação a má prestação de serviços de que são frequentemente vítimas. Não seria melhor orientar as energias para termos uma sociedade melhor, com mais respeito pelos outros e contribuindo para vivermos mais bem dispostos?
Creio que deviamos reclamar maior civismo e mais noção de bem comum.
ResponderEliminarEfectivamente, é a falta deste alvo que nos torna "selvagens" no quotidiano.
Desse ponto de vista, a sua pedagogia é autorizada e necessária.
Parabéns.
(quando tiver paciência, convido-a para www.lodonocais.blogspot.com)
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ResponderEliminarOlá a todos, depois dos vossos comentários o tema tornou-se muito mais interessante...A história contada pelo Ferreira de Almeida é um bom exemplo do que devemos combater no nosso país, não só nos serviços públicos mas também nos privados que não dependem da satisfação dos clientes para continuarem activos. Temos esta tendência enraizada para achar que o formalismo é um objectivo em si mesmo e com isso consideramos o dever cumprido. É a burocracia no seu pior, o absurdo a tomar o lugar do que é sensato e necessário. Os livros de reclamações existem mas dá mais trabalho pedi-los do que dizer umas coisas desagradáveis a quem nos atendeu mal...
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