Finalmente ouvi um argumento inteligente para o caso dos autarcas vetados por Marques Mendes: confiança política. Na sucessão de estratégias, critérios, princípios e convicções que foram invocados pelo líder do PSD sempre ia raciocinando: o argumento X não se aplica ao candidato A, o candidato B não cai na situação Y, de acordo com a estratégia aprovada em Congresso o candidato C poderia ser indigitado e por aí adiante. O líder do PSD tem todo o direito de vetar candidatos autárquicos e para o efeito deveria utilizar a expressão: “No caso de serem presentes à Comissão Política Nacional do PSD os candidatos A, B, C, D, eu não homologarei os seus nomes dado que não se adequam ao perfil que eu entendo adequado”. Dava, assim, um sinal às estruturas do PSD que têm a competência estatutária de propor, aprovar e homologar a lista de candidatos.
Nestas situações o que me parece incompreensível é o sinal de discricionariedade e prepotência que as diferentes explicações revelaram. Pensando bem até não é tão incompreensível. Estamos perante uma reedição da obsessiva “transparência” de Fernando Nogueira em cuja herança política muitos dos actuais responsáveis do PSD se revêem. Cada novo líder precisa de dar sinais de uma ruptura com o passado (“mudar de vida”) e de demonstrar a sua “autoridade” perante os seus pares e a opinião pública – “este é que os vai pôr na ordem!”, “isto precisa de uma varredela!”, “há que moralizar”, “precisamos de gente credível” e outras tantas frases do género.
Estamos perante um ritual de afirmação de autoridade pretensamente regeneradora. Seleccionam-se os alvos mais fragilizados na opinião pública, convocam-se alguns comentaristas para bater palmas (a edição de hoje do 1.º Caderno do Expresso está feita à medida) e remata-se com uma frase emblemática: “Decidi. Está decidido”. Este ritual de afirmação de autoridade é tanto mais necessário quanto mais frágil for a liderança. Lideranças fortes não precisam deste tipo de rituais. Afirmam-se pela supremacia dos seus valores, pela capacidade mobilizadora das suas ideias, das suas propostas e da sua estratégia. É isto que, por enquanto, falta ao PSD. Enquanto o PSD for notícia por este tipo de práticas, o Governo e a restante esquerda rejubila, deixando escapar, de quando em vez, um indisfarçável esgar de escárnio como que atestando a sua superioridade moral.
Ainda não consegui compreender a sua posição relativamente a este assunto. Naturalmente, percebo que é contra a apresentação de critérios que, contata-se, são incoerentes com as decisões efectivamente tomadas. Mas o que é que acha que a direcção do PSD deveria fazer perante casos como os de Isaltino Morais ou do major Valentim Loureiro?
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