segunda-feira, 11 de julho de 2005

Castração

A notícia de que a Liga do Norte, partido de extrema-direita da Itália, apresentou um projecto de lei com o objectivo de castrar os condenados por violação arrepiou-me e fez recordar três momentos da minha vida. A primeira reporta-se à castração de um porco. Era pequeno e costumava brincar junto da oficina do Zé Ferrador. O homem assustava. Com toda a sua imponência tonitruante arranca uma crina de cavalo laça os testículos do animal, os quais, num ápice, desapareceram. Os gritos do animal ecoavam pelas redondezas. Arrepiei-me todo! A outra foi um colega da escola que na brincadeira com uma cana, ao cortá-la, fez voar um testículo. Vá lá que ainda ficou com o outro! A terceira foi um filme sobre Pedro o Cru que castigou um adúltero, mandando-o castrar. A cena também é de arrepiar quando se ouviram os ditos cujos a cairem num vaso de metal.
É do conhecimento geral que este órgão produz hormonas capazes de condicionar várias funções assim como o comportamento. Mas, ir ao ponto de tentar modificar o comportamento, “normalizando-o”, através da sua extirpação cirúrgica parece-me excessiva e, até, atentatória dos direitos humanos, sobretudo, atendendo às enormes capacidades de intervir hoje em dia. Esta proposta é fundamentada com o argumento de que “é necessária para remover uma doença social que é uma ameaça à vida e à segurança pública”. Se utilizássemos este argumento para muitas outras doenças sociais que são também ameaças à vida e à segurança pública, ainda acabaríamos por encontrar os respectivos equivalentes à castração. Verdadeira esquizofrenia política! E, a propósito de esquizofrenia, veja-se o que ocorreu na Roménia quando uma freira, muito provavelmente esquizofrénica, acabou por ser crucificada numa sessão de exorcismo por um padre que não está arrependido. Foi pena o padre não ter frequentado o curso de exorcismo, no prestigioso Athenaeum Pontificium Regina Apostolorum, da Universidade do Vaticano, assim evitaria um mau diagnóstico e uma escabrosa terapêutica.
Espero que a Liga do Norte não proponha legislação sobre os “possuídos” pelo demónio. Senão, ainda podem advogar alguma forma de crucificação.

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