quarta-feira, 17 de agosto de 2005

As Palavras



São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

Eugénio de Andrade

2 comentários:

  1. Anónimo01:00

    Sempre bom reler Eugénio.
    Retribuo, Suzana, com um pedaço de Drummond de Andrade:

    "Não rimarei a palavra sono
    com a incorrespondente palavra outono.
    Rimarei com a palavra carne
    ou qualquer outra, que todas me convêm.
    As palavras não nascem amarradas,
    elas saltam, se beijam, se dissolvem,
    no céu livre por vezes um desenho,
    são puras, largas, autênticas, indevassáveis.

    (...)"

    Consideração do Poema

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  2. Belíssimos, os dois poemas. Já se vê que é precisa muita arte para se brincar com as palavras...

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