As três Parcas
As três Parcas que tecem os errados
Caminhos onde a rir atraiçoamos
O puro tempo onde jamais chegamos
As três Parcas conhecem os maus fados.
Por nós elas esperam nos trocados
Caminhos onde cegos nos trocamos
Por alguém que não somos nem amamos
Mas que presos nos leva e dominados.
E nunca mais o doce vento aéreo
Nos levará ao mundo desejado
E nunca mais o rosto do mistério
Será o nosso rosto conquistado
Nem nos darão os deuses o império
Que à nossa espera tinham inventado.
(Sophia de Mello Breyner)
Desde que o homem é homem sempre procurou viver mais anos. E, continua a procurar, incessantemente, a imortalidade e a eterna juventude.
Na sua interpretação das causas e efeitos, criou as parcas ou as moiras, colocando o futuro nas suas mãos.
Enquanto Clotho fia o fio da vida, Lachesis decide o seu destino e Atropos espera, avidamente, o momento de o cortar.
As experiências e a investigação na área do envelhecimento têm sofrido impulsos enormes nos últimos anos. A ponto de nalguns animais se ter conseguido duplicar o tempo de vida.
As melhorias das condições de vida e do comportamento humano aliadas à intervenção deliberada das ciências da saúde foram determinantes para o aumento da sobrevivência da nossa espécie verificada em alguns cantinhos privilegiados deste planeta. Mas, os factores genéticos são, sem sombra de dúvida, essenciais na compreensão deste fenómeno.
Se as descobertas feitas até ao momento passarem a ser aplicadas nos seres humanos, ainda nos arriscamos a viver muito mais e, consequentemente, a ter de trabalhar até mais tarde adiando a idade da reforma lá muito mais para a frente.
Mário Soares na sua entrevista à SIC, a propósito de ter a idade que tem, disse: - Não tenho culpa da idade que tenho. É uma graça ter chegado aqui e com as minhas faculdades a actuarem. É uma graça!
É verdade, é uma graça e, muito provavelmente, Clotho soube, no seu caso, fiar bem o fio, enquanto Lachesis vai decidindo o seu destino. Sinceramente espero que Atropos ande distraída não só em relação a este gerontocrata assim como a todos nós.
A existência de um gene denominado Clotho parece suprimir o envelhecimento nos ratinhos. O homem também tem este gene. Assim, é muito provável que genes modificados possam aumentar a sobrevivência nos seres humanos à semelhança do verificado nos ratinhos. Como este gene está na origem de uma “hormona” específica, veja-se o que poderia acontecer nos próximos tempos: várias individualidades (à excepção dos que tem genes Clotho de primeira água) a correrem diariamente para as salas de chuto assistidas onde, prazenteiramente, se injectam com a hormona anti-envelhecimento dirigindo-se logo a seguir para os seus gabinetes de trabalho a fim de decidirem o futuro do país. Ou, então, a obrigação de os contribuintes terem de tomar a sua dose diária – de preferência sob vigilância directa de um superior – para que possam permanecer activos e, deste modo, adiar a reforma.
Um dia, ainda poderá acontecer alguém candidatar-se aos 100, ou aos 110 anos a qualquer cargo, basta que tenha a graça de ter bons genes. No caso de não os ter, então, use e abuse de “Clotho”, a hormona anti-envelhecimento.
Coitada da Atropos…
O filme a "Ilha" é um óptimo ensaio sobre as questões que se poderão colocar à humanidade sobre os limites da ciência em busca de uma vida mais longa.
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