Em miúdo ficava fascinado com um certo número de pessoas, que, mais tarde, vim a identificar como treinadores de bancada. Curiosamente continuam a fascinar. São danados! Definem as estratégias, escolhem as equipas, dizem quando é que um jogador deve ou não ser substituído, idolatram ou desprezam o treinador. São capazes de estarem horas e horas, com ar meio aparvalhado, a discutir tudo quanto diga respeito ao seu clube, aos jogadores, às transferências, aos árbitros. E, não se cansam. Quando a sua equipa perde não é mais do que um sinal de incompetência do treinador e, simultaneamente, acaba por “provar” que se tivessem seguido a sua táctica teriam naturalmente ganho. Mas quem escolhe o treinador não são os adeptos são os donos ou gestores do clube. No entanto, são capazes de fazerem tudo para correr com ele, manifestando o clássico desagrado "clubístico".
No caso da política, quem escolhe os eleitos são os cidadãos com a força do seu voto. Assim, poderão escolher o melhor treinador para o país ou para qualquer cargo autárquico. Aqui, os “dirigentes de bancada” têm uma possibilidade única de escolher o responsável por uma equipa. Claro que, quando estão desagradados com a situação criada pelo responsável máximo, têm a possibilidade de o substituir nas eleições seguintes. O curioso é que os argumentos aduzidos são, em essência, não muito diferentes dos defendidos pelos treinadores de bancada, os quais têm sempre as melhores soluções. De qualquer modo, a grande diferença entre os dois tipos de treinadores de bancada do futebol e da política, é que os últimos põem e dispõem dos seus dirigentes. E, ainda bem! Mas, a escolha, por vezes, levanta algumas interrogações. Como é possível escolher um dirigente para uma determinada autarquia com aquele perfil que, todos, ou melhor, quase todos, deveriam ser capazes de ver que não é sinal de bom augúrio? Os casos mais mediáticos estão aí e, diariamente, são alvos de notícias e de comentários. Mas, a par destes, existem condutas que merecem alguma reflexão, sobretudo nas pequenas localidades onde todos se conhecem e dependem uns dos outros. A existência de formas de condicionamento da liberdade democrática é uma constante. Não se trata de condicionamentos elaborados ou sofisticados, mas sim do género de advertência directa do tipo: “se fores na lista dos outros estás tramado, porque dou-te cabo do negócio”, ou então, um membro da lista vem muito secretamente confidenciar ao candidato da oposição de que vai votar nele, “mas não digas nada”. Talvez constitua uma forma de jogar no negro e no vermelho, ao mesmo tempo, assegurando o seu futuro imediato caindo nas graças de ambos os candidatos. Claro que há também aqueles que afirmam que não sabem nada de política, nem querem saber, para eles está tudo bem. São pequenos exemplos, entre muitos outros, em que o emprego e a sobrevivência dependem, muitas vezes, de terem caído, ou não nas boas graças do chefe local. Frequentemente, a autoridade máxima utiliza as regras democráticas, mais para legitimar atitudes autocráticas, numa verdadeira falsidade teatral, do que propriamente estimular e acarinhar o debate democrático. A oposição ou discordância, não raras vezes, são confundidas como ataques pessoais, e, consequentemente, as reacções são das mais diversas, entre as quais se destacam algumas das ameaças já enunciadas ou a terrível, humilhante e arrogante falta de saudação, como sinal de aviso a todos os demais, o que configura actos equivalentes ao mobbing profissional.
De facto, esse tipo de condicionamentos é que é difícil eliminar, só com uma mudança de mentalidade e uma recuperação do sentido de serviço ao bem público da política. Enquanto se considerar que ao votar neste ou naquele se está a fazer uma favor a um amigo ou a ficar "queimado" perante o que ganhar sem a sua vassalagem, é muito difícil conseguir a participação activa das pessoas nas campanhas, na divulgação dos projectos e depois no exercício dos seus direitos de cidadania, ficalizando a actuação dos eleitos.
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