Escrevi, há dois ou três dias, que não compreendia que o Dr. Mário Soares fosse contra a globalização, quando se revelou e confirmou um verdadeiro “globetrotter” na colocação mundial, isto é, na globalização do produto socialismo, aquando da sua passagem pela Internacional Socialista ou na colocação da sua própria imagem, da marca Portugal ou de produtos portugueses, através das voltas ao mundo que fez como Presidente da República.
Uma das características da globalização é o curto período de tempo que medeia entre a criação de um produto e a sua colocação em qualquer parte do mundo. Para isso, as empresas globalizantes têm que possuir um elevado grau de flexibilidade e de adaptação à mudança: mudança de produtos, de processos de fabrico, de técnicas de comercialização, de posturas no mercado.
Ora Mário Soares também é um mestre nesta matéria da flexibilidade.
Mário Soares apoiou o Partido Comunista, logo a seguir ao 25 de Abril, e sabia bem o que ele representava. Demarcou-se, quando começou a ver as barbas de molho, no momento em que, destruídas as sedes dos partidos mais à direita, como as do Partido Progressista ou do Partido Liberal e de outros, e começando os ataques às sedes do CDS e do PPD, verificou que o PS seria o próximo alvo.
Todavia, nas manifestações de então, contra o totalitarismo do PC, o PS não tolerava qualquer manifestação conjunta, reclamando "PS, só PS".
Mas veio a flexibilizar a posição na manifestação da Alameda, quando as coisas se tornaram dramaticamente feias.
Para formar Governo, fez, depois, uma aliança com o CDS de Freitas do Amaral.
Anos mais tarde, no fim da disputa eleitoral para a Presidência da República, viria mimosear esse seu aliado com os piores epítetos.
Mário Soares, antes de ser Primeiro-Ministro, apelou ao fim dos grandes grupos económicos, acusando os seus accionistas e gestores de sabotadores da economia, sendo também responsável indirecto pela fuga de muitos para o estrangeiro.
Quando foi Primeiro-Ministro, convidou muitos deles a regressar, para reconstruir a economia.
Adaptou-se às circunstâncias durante o 1º e o 2º Governo de Cavaco Silva, mas, depois, novamente eleito, tornou-se a principal força de oposição ao Governo.
A flexibilidade de que sempre deu mostras para colocar internacionalmente o seu produto, isto é, a sua imagem, evidenciou-se mais uma vez quando, depois de ter sido Presidente da República, aceitou (Mário Soares é um perito a aceitar…) candidatar-se ao Parlamento Europeu, assim uma espécie de Assembleia Geral da maior entidade económica do mundo, a União Europeia.
Mário Soares sempre se transmudou para oferecer o produto mais vendável e sempre forcejou para o colocar no mercado, através de contínuas viagens “worlwide”.
Não percebo, então, por que é contra a globalização.
Mas pensando bem, é essa uma das suas características: a contínua “flexibilidade”, que lhe permite ser e não ser ao mesmo tempo.
Até quando?
Ele o ano passado não andou a manifestar-se ao lado dos sindicalistas que mandou prender quando era PM?
ResponderEliminarAté quando? Tirando as óbvias limitações temporais, enquanto o deixarem...
Enquanto os camaleões mudarem de cores ele também mudará...
ResponderEliminarTemos de admitir que tem uma enorme capacidade de adaptação à mudança!
Conhecem Joseph Stiglitz?
ResponderEliminarexcelente análise, Pinho Cardão, não há como relembrar o passado...
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