segunda-feira, 24 de outubro de 2005

Lições dos “rankings”

Uma leitura atenta dos resultados publicados no último fim-de-semana, relativos aos exames do 12.º ano, permite explorar algumas pistas que poderão ser interessantes para a definição de políticas educativas. Sem o fazer de forma exaustiva, permito-me destacar as mais importantes e pouco faladas:

  1. As escolas onde os alunos obtêm melhores resultados, independentemente de serem públicas ou privadas, são aquelas em que os desempenhos relativos são maiores a Matemática, Biologia, Física e Química. Este facto revela que são escolas que tendem vocacionar-se para a preparação dos alunos para os cursos do ensino superior de mais difícil entrada: ciências da saúde e da vida e engenharias. O facto de os alunos se orientarem para um objectivo que, à partida, é considerado difícil, leva-os a ter melhores desempenhos e obriga as escolas a adoptar estratégias de ensino que valorizem o esforço, o trabalho sistemático e o conhecimento científico. Este facto só demonstra que havendo objectivos exigentes e uma cultura de trabalho, conseguem-se bons resultados.
  2. A maioria dessas escolas integra os diferentes ciclos no mesmo estabelecimento (privadas) ou, pelo menos, articulam o 3.º ciclo com o Secundário (públicas). No caso das disciplinas científicas esta “verticalização” dos trajectos escolares é fundamental: o sucesso ou insucesso no secundário tem muito a ver com a forma como os alunos vêm preparados do 3.º ciclo.
  3. Vale a pena apurar o que está a acontecer em algumas escolas do interior que, partindo de níveis de relativo insucesso têm vindo, ano após ano, a melhorar os seus desempenhos. Alguns exemplos: EB23S do Sardoal (8,6 em 2000 para 11,5 em 2005), EB23S de Canas de Senhorim (9,7-12,6), EB23S Mondim de Basto (9,1-12), EB23S Melgaço (9,2-11,4). Não se trata de melhorias pontuais, são crescimentos sustentados. Todas elas integram os trajectos do 2.º ciclo até ao Secundário.
  4. São cada vez mais os casos de alunos/escolas que são muito bons a uma ou outra disciplina e muito maus nas restantes. Porque será? Aqui não há diferenças sociais, os alunos são os mesmos.

Quem quiser ler os “rankings” só para saber quem leva a “taça” dificilmente perceberá outro tipo de leituras. Mas os que não gostam dos “rankings” estão muito interessados em que só se façam esse tipo de leituras. Se vamos um pouco mais além, facilmente se destroem os seus argumentos.

4 comentários:

  1. É muito interessante "aprender a ler" estes rankings. Sem lhes tirar o valor e a vantagem na sua publicação, que apoio inteiramente, é bom que seja esclarecida a forma de os olhar e entender. Tão mau como a ausência de informação é a manipulação dos dados existentes, como bem mostra esta nota e os seus comentários.

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  2. Só queria fazer notar que não se está nem perto de uma situação de "havendo objectivos exigentes e uma cultura de trabalho". Ouvi a entrevista ao responsável pela última classificada e o homem nem sequer estava preocupado. Há, realmente, várias escolas que têm vindo a apresentar crescimentos sustentados, muito provavelmente porque os responsáveis dessas escolas impuseram a si mesmo esse objectivo. Mas estes profissionais, se calhar, ganham menos que o outro imbecil que não está minimamente preocupado.

    Era só uma nota para que nos lembrarmos que se algumas batalhas foram ganhas, a guerra está claramente a tender para o inimigo.

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  3. Há 7 anos que o mesmo grupo de professores trabalha com o 10º, 11º e 12º ano.
    O material de trabalho é idêntico assim como o grau de exigência; as estratégias, os métodos e o ambiente social mantêm-se.

    Como se explica então que no ano passado a escola tenha ficado, à nossa disciplina, no 30º lugar e este ano no 350º? O que mudou? alunos e correctores dos exames.

    Há que se dar sempre o devido desconto aos rankings.

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  4. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

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