terça-feira, 25 de outubro de 2005

Massa cerebral branca e crónicas de aldeia


Paraiso da aldrabice

A afirmação segundo a qual determinada pessoa tem massa cinzenta significa que estamos perante alguém inteligente. Mas, além da massa cinzenta também existe a massa branca, cujas funções são bem conhecidas. Graças a um estudo recentemente publicado foi possível verificar que os mentirosos patológicos têm mais massa branca a nível do córtex pré-frontal. É através da massa banca que as informações são transmitidas, para que a massa cinzenta as possa processar. Trata-se do primeiro estudo em pessoas que mentem, enganam ou manipulam os outros. As implicações deste estudo e de outros que, a serem efectuados sobre o assunto, venham a comprovar estes achados poderão levantar graves problemas já que estamos a focar um comportamento que consideramos imoral. Falar verdade é uma qualidade moral fundamental que pode ser constrangida por características biológicas.
Ao longo da nossa vida somos confrontados com indivíduos aos quais temos de dar o devido desconto quando falam ou começam a contar certos factos. São uns "galgas", distorcem a realidade, mentem com uma facilidade extraordinária, acreditam piamente nas suas afirmações, enfim, uns regadores a ponto de nos fazer lembrar aqueles momentos da nossa infância em que puxávamos as calças para testemunhar a nossa opinião a alguns colegas.
Talvez agora seja mais fácil compreender o discurso de certos cronistas políticos. Após as eleições vêm a terreiro fazer considerações e dar explicações sobre as vitórias de uns e a não vitória de outros. O fenómeno tem escala nacional, mas também tem a sua escala local, nomeadamente, nas eleições autárquicas. Quando se observam mudanças de fundo, não esperadas, comenta-se a não vitória (que já estava no papo!) através de justificações, algumas certas, embora poucas, entremeando a grande parte que prima por uma visão meia patética e paroquial. Claro que elogiam o anterior executivo pelas obras que fizeram. É natural e fica bem manifestar sinais de respeito e de consideração. Mas, quando toca a analisar o fenómeno aí a porca torce o rabo. Invocam uma insatisfação crescente de uma parte dos eleitores (suficiente para explicar os resultados), problemas no atendimento aos munícipes a nível da secretaria, dos reformados “assessores”, da fiscalização pouco exigente e pouco visível, da falta de diálogo entre os membros da mesma cor do executivo, aqui abrem parêntesis afirmando a sua crença profunda que não eram mais do que atoardas para desacreditar os governantes concelhios (!) e, não satisfeitos com as explicações, deslocam a atenção e as culpas para as decisões do senhor primeiro-ministro e actuações de diversos governantes como se as mesmas tivessem algum alcance em populações que – infelizmente em muitas zonas do país - estão mais do que à margem dos acontecimentos nacionais. Enfim, um arrazoado que leva os leitores a admitir a hipótese de que se tivesse concorrido às eleições um grupo de psicopatas ou de atrasados mentais teriam também ganho aos anteriores governantes municipais.
Em democracia há vencedores mas não há vencidos. O respeito e a consideração pelo adversário é vital para que a mesma possa vingar e sobreviver. Sem adversários não há vitórias. Uma palavra de apreço e de felicitações aos que venceram é um sinal de respeito, extensível aos que não alcançaram a vitória já que é também com a sua dedicação e empenho que a vida politica pode e deve ser dignificada. Agora começo a compreender um pouco mais o porquê de algumas crónicas. A falta de massa cinzenta poderia ser uma explicação, mas, com base no estudo já comentado, talvez possamos interpretar as opiniões à luz de massa branca em excesso…

3 comentários:

  1. Caro Professor M.C,

    Deixe-me que lhe diga, esta é uma análise excelente e que, dessa perspectiva, explica muita coisa do aqui, neste cantinho à beira mar plantado, se passa.

    Por acaso, no outro dia vi um programa qualquer acerca disso, não me lembro é em que canal foi.

    Fora isso, vim aqui dizer-lhe que, finalmente, encontrei um ensaio sobre Portugal em 1810, relatado pelo Conde de Rosnay (um oficial do exército napoleónico). Como eu gosto de conhecer e divulgar o que os "estrangeiros" pensam de nós (principalmente os dos séculos passados), transcrevi as partes mais engraçadas para o meu blog (diariodoanthrax.blogspot.com).

    Não sei se já conhece o relato ou não, mas se não conhecer dê lá um pulinho porque aquilo é mesmo engraçado.

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  2. Gostei imenso, Prof. Massano Cardoso, chama-se a isso uma explicação científica para o mau perder... É elegante e arrasador, mas sempre se pode encontrar desculpa na natureza das massas...branca ou cinzenta!

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  3. Anónimo11:08

    Meu Caro Professor, tiro-lhe mais uma vez o chapéu por esta (mais uma)excelente nota.

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