quarta-feira, 12 de outubro de 2005

Will you still love me tomorrow?

É o nome de uma bonita canção e ocorreu-me a propósito de uma conversa sobre o assustador número de depressões e angústias mais ou menos crónicas que encontramos por todo o lado, em todas as idades e pelos motivos mais diversos. Um rapaz que acabou namoro porque não sabia quanto tempo é que ia durar aquela paixão; outro que tinha encontrado o primeiro emprego mas que, ao fim de 15 dias, se despediu, porque não sabia se era aquilo que queria fazer a vida toda; imensos jovens que saltitam de um curso para o outro sem nunca se esforçarem por nenhum; muitas pessoas que se arrastam diariamente na sua rotina, sem lhe acharem graça porque se calhar há outras coisas muito mais interessantes que não lhes aparecem à frente dos olhos…
Li há uns dias a resposta de Agustina Bessa Luís sobre um assunto deste tipo: “Mas quem é que disse que a vida era fácil?”(cito de memória)
Vivemos uma época frenética, em que tudo tem que ter uma resposta rápida. Não se aguenta o esforço, a incerteza ou o fracasso e os necessários tempos de reflexão, ou de crescimento, ou de recuperação, são considerados puras perdas, etapas a queimar antes que se faça tarde para o acontecimento seguinte. E assim se vão acumulando “experiências” sem nunca se chegar a viver coisa nenhuma, num desbaratar de oportunidades que dá um bom lastro para depressões e para as memórias do que podia ter sido…
Há perguntas que são feitas para não ter resposta porque, se ela existir, teremos que ser nós a descobri-la. Ou a construí-la. Com tempo, a seu tempo.
Salvo casos devidamente justificados, deviam ser proibidas as depressões…

4 comentários:

  1. Não foi a Agustina B. Luís mas um sujeito conhecido (odioso, por sinal...) que me disse:

    " A vida não é fácil e, se fosse, não era para ti"

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  2. Cara Suzana Toscano
    Como se tornou, felizmente, habitual, nestas suas notas são abordadas, com elegância e inteligência, questões muito importantes da nossa vida quotidiana.
    Escreve hoje sobre o frenesim que caracteriza, principalmente nos mais vulneráveis, a busca da satisfação fácil e imediata das mais extravagantes fantasias existenciais, erigidas estas sobre esse imaginário prodigioso, que o limbo ficcional em que pairamos constantemente alimenta. A dura confrontação entre os sonhos radiosos e a prosaica realidade em que estes buscam concretizar-se, é, em si mesma, motivo de desistências, palco de conflitos, razões para a depressão permanente, em que vivem mergulhados tantos de nós. E, depois de bem analisadas as situações, a maioria delas não justificaria tal sentimento de derrota, muito menos esse descontentamento permanente que mina energias, afasta possibilidades, hipoteca o futuro.
    Nesta “causa”, preocupa-me a nossa responsabilidade individual e social, menos no que para trás ficou (o propiciar de situações que levaram à emergência e desenvolvimento do fenómeno), e mais no que ao nosso presente e futuro colectivo diz respeito (a nossa conivência, por omissão, com a manutenção e agravamento do problema).
    Os que de nós já têm algumas gerações de adultos abaixo da nossa, perante situações como aquelas que tão bem identifica, sentem que, de alguma forma, contribuiram para a formação de jovens seres dependentes do facilitismo, do imediatismo, do sucesso instantâneo. É preciso enfrentar o facto de que falhámos e que somos, à conta desse falhanço, os responsáveis. Mas o pior é que, mesmo identificando o desastre e a dimensão deste, baixamos os braços, conformamo-nos, acomodamo-nos, quando não chegamos ao ponto de duvidarmos da razão que nos assiste, sempre que sentimos o desejo de contrariar a corrente.
    Não sei se a resposta de Agustina será a melhor para despertar os espíritos doentes; estando a “doença” tão profundamente instalada, a cura recomenda-se menos brutal, ou corre-se o risco de matar o paciente, ou deixá-lo ainda pior (espero que o Dr. Massano Cardoso não leia esta abusiva entrada de um leigo em terreno alheio). Mas essa resposta deveria ser uma máxima escrita em todas as paredes das escolas de pais, se as houvesse, em todas as repartições públicas, em todas as paragens de autocarro, ser adoptada pelas empresas para página de abertura dos computadores dos funcionários, transformar-se em nota de rodapé permanente dos canais de televisão. Quem sabe se, assim, “entrava”, devagarinho, no nosso subconsciente colectivo, e nos permitia sermos um pouco mais felizes.
    E, já que o optimismo é o primeiro passo para a cura, retenho da pergunta da bela canção de Carole King, com que titula a sua nota, apenas uma enérgica e feliz afirmação:« you still love me tomorrow!».

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  3. Tonibler,
    esse tal odioso de que fala reproduziu muito maldosamente esse trauma nacional de que "para os outros é que vão as facilidades" "a mim é que não me calha nada",e outras que tais.Nesses casos há sempre o recurso ao que, em bom português, se chama uma "resposta torta"...

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  4. caro Crack,
    um bom momento é quando um simples apontamento provoca um texto tão interessante e completo como seu.
    Não sei ao certo avaliar a responsabilidade da nossa geração,a verdade é que muitos de nós já adoptaram essa mesma maneira de pensar, que tudo deve ser servido de bandeja, e isso transmite-se. Além disso, educar sem facilitismos dá um trabalhão, sobretudo quando não é preciso restringir e tudo, mas mesmo tudo à nossa volta, pressiona nesse sentido. Repare que, sempre que há qualquer coisa que não corre bem, todos exigem que "alguém" faça alguma coisa, indignam-se por não estar feita e, pelo caminho, justificam tudo o que, pela sua parte, contribuiu para o mau resultado. O sentido judaico cristão de " mea culpa" transformou-se num muito moderno sentimento de "culpa dos outros" o que é muito mais difícil de gerir mas justifica a inércia e a depressão.
    Acho que vale sempre a pena não pactuar com o que nos parece errado, o pior que pode acontecer é não servir de nada, mas pelo menos tentámos...

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