Depois do mesquinho e triste texto de Mário Mesquita no Público de sábado, a que aludi neste blog sob o título "Argumentação rasteira", também no caderno Actual do Expresso de sábado passado, 19 de Novembro, se publicava algo que, pela sua desumanidade, envergonha qualquer pessoa.
O Actual publicou uma entrevista com a conhecida investigadora e professora Maria Filomena Mónica, a propósito do lançamento do seu livro de memórias, Bilhete de Identidade.
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Entrevistador: No livro fala de uma criada “muito estúpida”. Não é falta de compaixão?
MFM: “…Nesse caso concreto acho que não, pois ela abdicou de ter família - a família éramos nós…Dizer que alguém é estúpido depende da pessoa a que se refere. Para nós, intelectuais, é um ataque horrível. Na pessoa em causa, acho que nem sequer ela se importaria, porque os seus valores eram muito diferentes dos nossos…”
Ao ler, senti-me envergonhado!...
E dizer que a senhora é tida como um vulto da intelectualidade e da cultura, com assinatura permanente nas páginas de opinião!...
Ao que nós chegámos!...
E são estas as nossas elites?
Respondendo à sua pergunta do final do texto; são, são e não viu o senhor o estilo dos familiares dela que no sábado entraram lá na livraria! São muito "chiques" e muito "bem", falar com eles é como consultar uma espécie de enciclopédia, mas não passa disso porque quando passamos para a esfera da articulação de "saberes", a coisa tende a ficar complicada.
ResponderEliminarEnfim... nós aqui no tasco chamamos-lhe "Aprendizagem ao Longo da Vida".
Pois é, um insulto para intelectuais quase se transforma num elogio para pessoas humildes que sacrificam a sua vida por outros, por não terem tido condições para mais.
ResponderEliminarA arrogância intelectual continua a caracterizar uma grande parte da nossa intelectualidade.
Já vai sendo tempo de essa intelectualidade ser substituída pela que já temos, muito mais compreensiva da realidade e dos factores económico-sociais que envolvem a vida real das pessoas.
É ainda mais triste, essa afirmação, vinda de uma investigadora de um Instituto de Ciências Sociais.
Tanto preconceito fica mal a um investigador, muito mais nessa área.
Curiosamente, comprei o livro.
ResponderEliminarAcho que merece uma leitura para se perceber, para quem ainda não percebeu inteiramente, o recorte social preciso de uma certa franja de uma classe social que existiu em Lisboa,na década de sessenta.
É o mundo dos Pulido Valente; dos Pinto Coelho; dos frequentadores de cafés e tertúlias que não se avizinhavam dos centros clandestinos do PC, embora tivesse notícias deles através dos amigos.
AS fotos do livro são interessantes.
E além disso, parece-me um retrato de uma sociedade que não desprestigia Portugal( antes pelo contrário) e que é herdeira de um certo modo de resistir à ditadura Salazar/Caetanista sem passar pelo marxismo leninismo militante, mas sim associado à Igreja Católica mais "progressista" e que se acantonou na Capela do Rato.
Essa sociedade criou uma matriz e hoje, alguns sociólogos que escrevem em jornais ou que têm assento nos ISCTEs vêm daí, desse núcleo.
Além disso, MFM era uma mulher extremamente bonita, no seu tempo.
Tanto como a Françoise hardy, por exemplo. E deve ter partido muito coração de pedra...
Já comecei a ler e garanto o interesse.
Também tenciono ler o livro e só lamento que uma geração de "bem pensantes" que se sentiam modernos e mesmo vanguardistas na sua visão do mundo não consigam resistir à tentação da pretensa superioridade intelectual, do tipo "não há pachorra!". Não será por mal, é uma espécie de "tique" que, depois de descontado, não deve impedir de apreciarmos o que dizem e o que pensam, concorde-se ou não.
ResponderEliminarZezé Camarinha é especimen que nada me diz. Seria capaz até de escrever um comentário ao nível daquele que é glosado no postal. Mas sou cristão e tenho caridade...
ResponderEliminarPorém, acrescento ainda uma coisa:
Saiu também o livro do Lobo Antunes. Intimista, situa-se no mesmo meio do da Filomena Mónica, o que pode parecer estranho, mas a mim me não parece.
Desde que li algumas cartas de Fernando Pessoa a uma "nininha", fiquei com traumas à exposição pública dos afectos particulares. Por isso, escolhi o outro.