Ao longo da minha vida tenho tido a oportunidade de participar em várias mesas-redondas e conferências. Uma delas revestiu-se de particularidades que não posso deixar de descrever e comentar. A propósito do Plano Nacional de Saúde, a Pastoral da Saúde convidou-me a fim de participar numa mesa sobre educação em saúde, mais concretamente sobre comportamentos de risco e estilos de vida. A conferência realizou-se há precisamente um ano. Sala repleta. Feitas as apresentações, o responsável pela organização começou com uma oração acompanhado pelos participantes. O próprio moderador, colega de longa data, procedeu, igualmente, a uma reflexão filosófica-doutrinária captando a atenção do auditório. Confesso que, realmente, nunca tinha vista nada parecido, mas detectei uma atmosfera receptiva e ávida de conhecimentos, não obstante a diversidade da mesma.
Quando se fala em público, quer queiramos, quer não, sente-se sempre um certo nervosismo. No meu caso, e apesar das largas centenas de horas passadas como palestrante e orador, sinto sempre uma grande responsabilidade. Desta vez a ansiedade estava mais controlada. Tendo sido o último a perorar, tive a oportunidade de auscultar os semblantes e as posturas dos participantes. Notável. Estavam mesmo com atenção! Largas centenas de pessoas ouviam, bebiam e encantavam-se com o que se estava a discutir. Havia mesmo uma certa atmosfera espiritual para qual contribuiu, com toda a certeza, o intróito já referido. Acontece que a população presente, dominada por princípios doutrinários óbvios, fez-me recordar os últimos desenvolvimentos acerca do trabalho de Dean Hamer com a sua tese sobre a existência de genes susceptíveis de explicar a maior ou menor espiritualidade, expressa no seu livro "The God Gene", que tanta celeuma tem levantado, nomeadamente nos teólogos. De acordo com este cientista, existirá um gene que promove o estímulo cerebral através de determinadas substâncias químicas, as quais favorecerão a auto transcendência e, consequentemente, a promoção de uma espiritualidade que está na base da religiosidade verificada em todos os quadrantes deste planeta. O autor chega mesmo a afirmar que se trata de uma vantagem evolucionista ao permitir conciliar a nossa existência com a fatalidade da morte, diminuindo a angústia. Não importa, de momento, saber se tem razão ou não, apesar de os estudos efectuados revelarem uma associação. Também não vejo razão para tanto crispamento por parte de alguns sectores religiosos. A pergunta que perpassou o meu espírito foi saber quantas das pessoas presentes teriam o tal gene e qual a intensidade da sua expressão. Tinha acabado de fazer estas reflexões quando me foi dada a palavra. Tentei ser o mais objectivo e didáctico possível sem deixar de ser, ligeiramente, provocador. A reacção surpreendeu-me. Fui interpelado com profundidade e muito respeito. O tempo já tinha sido ultrapassado em muito e a finalizar o moderador precedido do organizador fizeram mais uma vez as suas prédicas de uma forma muito simples e elegante, focando, precisamente, o facto de ser o Dia Mundial da Sida com as suas terríveis consequências, sobretudo no Terceiro Mundo. Mesmo que não exista o "gene de Deus" há pelo menos a genialidade humana....
Um gene que produz inibidores do raciocínio lógico? Isso explica muita coisa...
ResponderEliminarUm gene que nos faz dar um sentido há vida. Que nos cria impulsos conducentes ao desenvolvimento da humanidade.
ResponderEliminarNão é esta a herança que passa de geração em geração?
Porquê?