O quadro macroeconómico traçado no último relatório do Banco de Portugal, revendo em baixa as previsões do crescimento económico para o corrente ano, não surpreende.
Que o investimento regista uma quebra acentuada, relativamente a idêntico período do ano passado, não surpreende.
Que as exportações portuguesas enfrentam dificuldades na competição com os concorrentes do Leste e do Extremo Oriente, perdendo quotas de mercado, não surpreende.
Que o único sopro que evita a recessão venha do consumo interno, não surpreende.
Que toda a oposição, incluindo o PSD, vote contra o OE2006, também não surpreende.
Que a pré-campanha para as presidenciais seja uma espécie de “Todos Contra Um” em que o debate sobre os problemas do país é abafado pelo ruído da retórica inconsequente, também não surpreende.
Que o Governo continue a lançar ideias mirabolantes sobre a OTA e o TGV, transformando estes projectos numa obsessão patológica, também não surpreende.
Que os italianos da ENI se continuem a rir na cara das autoridades portuguesas em torno do negócio da GALP, também não surpreende.
Tudo é tão previsível na vida política e económica portuguesa que me faz questionar se o tédio e a indiferença não serão a melhor reacção ao espraiar desta resignação colectiva, desta “anarquia mansa que nos tolhe”.
Louvo a dissonância e a heterodoxia de alguns, mas tenho de reconhecer que a sua expressão ou não é ouvida ou rapidamente contrariada - senão abafada ou denegrida – pelo aparelhismo político ou pelos pequenos interesses “de quintal”.
De que serve Cavaco Silva dizer que não se resigna se todos os resignados ou o aplaudem ou o assobiam? De que serve propor uma cooperação estratégica entre os diferentes órgãos de soberania para atacar os problemas fundamentais do país, se há uma parte desse país que gosta de viver com esses problemas? De que serve assumir a urgência de um choque de confiança se se desconfia da própria confiança?
Reconheçamos que servirá para alguma coisa: manter acesa a última réstia de esperança para que a curto prazo possamos emergir deste lodo nauseabundo.
Pois é, meu caro. Não deixa contudo de surpreender que tudo isto não surpreenda...
ResponderEliminarPeço-lhe desculpa, mas tenho que o formular:
ResponderEliminarNão acha que este seu comentário podia ter sido feito, hoje, há seis meses, dois anos ou há cinco, apenas mudava quem votou contra o OE?
Que realmente o problema está em que se:"a anarquia mansa que nos tolhe" ou seja,se em vez do caos desejado, existisse o autor responsabilizado, há muito que os temas políticos tinham mudado, mas assim....
As responsabilidades são de todos....
Cumprimentos
Adriano Volframista
Caro djustino,
ResponderEliminarHá sempre a esperança de que do "chão não passa"...
Cá espero os apontamentos do caro Pinho Cardão para meter a colherada numa área que tanto prazer me dá...
ResponderEliminarO que é que eu ando a dizer há tanto tempo???... Diagnóstico acertado... remédio errado...
O que (não) me surpreende é que de facto todas (bom... quase todas) as cabecitas pensantes da área económica e financeira deste país (desde políticos a patrões)insistem na mesma tecla... ano após ano, e orçamento após orçamento, e ainda por cima aqueles que todos nós (ou quase todos!!!) julgamos de "iluminados" vêm insistir na mesma tecla...
Quando temos um Ministro das Finanças que vai para Londres, apresentar para o mundo, Portugal como um país bom para investir e depois saem relatórios destes não há muito que se lhe diga... palavras para quê?!... É o mesmo que convencermos os potenciais clientes a ir de férias de 5*... para o parque de campismo da Caparica em Agosto!!! Só vai quem quer... ou quem mais não pode!... E esse tipo de investidores...francamente... não interessa!
Hoje no reformista deu-me para um post no mesmo tom mas sobre os actores principais deste cizentismo "os políticos profissionais"
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