quarta-feira, 14 de dezembro de 2005

Barbárie

O comentário final do JM Ferreira de Almeida às declarações do porta-voz da Casa Branca sobre a pena de morte - "Como é de facto ténue a película que separa a civilização da barbarie..." - repetiu-se incessantemente no meu espírito, ao ser despertado para a dura realidade que vivemos e que se resume nesta notícia.
Estou profundamente chocado e não consigo conter a indignação.
De facto vivemos paredes meias com a barbárie, quer ela se exponha como expressão organizada do Estado ou como a mais nojenta manifestação da natureza humana.

8 comentários:

  1. Este tipo de notícia deveria ser proibido.
    É, obviamente, um caso extremo de miséria humana, nada mais. Um desvio social extremo que pode acontecer em todos lados, em todos os estratos, em todos os países.
    Casos destes deveriam ter um tratamento rápido e discreto.

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  2. Lamentavelmente, mais um caso em que encontramos envolvida a comissão de protecção de crianças e jovens, que agiu mal, como tantas vezes o faz, e como começa a ser recorrente constatar nos casos mais graves que chegam às primeiras páginas dos jornais.
    Para quando pôr ordem nestas comissões? Para quando acabar com estas estruturas, que apenas servem para dar emprego a amigalhaços e gastar dinheiro do contribuinte?
    Foi empossado um novo responsável, obteve ele mais meios humanos e financeiros, mas, como se vê, as práticas mantém-se, e as inocentes vítimas continuam.
    Uma nota: discordo totalmente da afirmação de que «este tipo de notícia deveria ser proibido», embora possa compreender a intenção de quem o afirma; este é um daqueles casos em que a linha, finíssima, entre o dever de informar e a exploração sensacionalista deve ser cuidadosamente acautelada, mas informar é importante; pena é que a nossa justiça não permita tal celeridade na acção que a informação sobre a ocorrência dos factos viesse desde logo acompanhada da informação sobre a actuação legal que os mesmos mereceram.

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  3. Hoje, a minha colega Jeni Canha, pediatra e especialista nestas matérias, afirmou que as comissões de protecção às crianças não sabem muito do ofício. Claro que não é com umas visitas e algumas conversas que as pessoas que fazem parte das comissões conseguem detectar as crianças em risco. É preciso prepará-las, ensiná-las, dar-lhes meios, mas não só meios materiais, mas sim instrução adequada por quem sabe. Só assim é possível fazer a devida prevenção. Quanto às críticas feitas aos membros das comissões não me parece serem totalmente correctas. Muitas aceitam fazer parte com um sentido cívico inequívoco, mas, como todos sabemos, não é suficiente. Não devemos iniciar qualquer caça às bruxas. O que devemos fazer, isso sim, é ministrar formação adequada nesse sentido.
    Como presidente da nova Assembleia Municipal de Santa Comba Dão tenho agendado para a próxima reunião, a nomeação de quatro personalidades para fazer parte da comissão de protecção. Tenho alguns nomes para propor, obviamente dotados de um perfil que possa dar garantias. Mas, reconheço agora que, face a este drama que toca qualquer um, tem de ser dada formação específica por quem de direito. Não sei como, mas tenciono debater este tema com o objectivo de fornecer aos responsáveis por tão e delicada área a formação mais adequada. Vamos a ver como. Mas não vou esquecer.

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  4. Ora aqui está um assunto que consegue pôr em causa o facto de não ser, propriamente, a favor da pena de morte.

    Em Setembro passado estive num encontro europeu promovido pela AMCV que trabalhava o tema das crianças vítimas de maus tratos. Neste caso em concreto, tratava-se de encontrar formas que permitissem, aos educadores, identificar estas crianças em contexto escolar. Enquanto assistia aos trabalhos, confesso que fiquei chocado com os números apresentados. 80% das crianças vítimas de abuso, são abusadas por pessoas que elas conhecem e com quem têm uma relação de confiança.

    Isto significa, tão somente, o seguinte; passa-se a maior parte do tempo a ensinar às criancinhas que não devem aceitar boleia de estranhos, não devem aceitar nada de ninguém que não conheçam, mas nunca ninguém as prepara para reagir às pessoas que elas conhecem e com quem convivem diariamente.

    Assim sendo, caro Prof. Massano Cardoso, posso dizer-lhe de antemão que não há nenhuma formula mágica que permita identificar crianças vítimas de abuso só olhando para elas, mas também lhe posso dizer que - pelo que me foi dado a conhecer - o pessoal técnico da AMCV (a.k.a Associação de Mulheres Contra a Violência), tem estado a desenvolver um bom trabalho nessa área, por isso vale sempre a pena falar com elas.

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  5. Caro Massano Cardoso
    Como disse a sua colega, são muito poucos aqueles que, nas comissões, sabem o que estão a fazer. Julgo que será, portanto, avisado acreditar que as comissões não têm, por esse motivo, possibilidades de fazer algo que não seja um generalizado disparate na resolução dos casos mais complexos.
    Salvaguardadas as poucas, muito poucas, excepções de pessoas que integram essas comissões com grande espírito de missão, a verdade é que as "indigitações" para essas funções obedecem, geralmente, a critérios que nada têm a ver com a capacitação para as mesmas e, posteriormente, não se faz a formação e o acompanhamento necessários destas equipas.
    Posso assegurar-lhe que a caça às bruxas não é o meu desporto favorito, mas talvez o ter visto tremendos resultados da ligeireza dos actos e da estreiteza de vistas das ditas comissões me tenha alertado para o perigo que representa deixar na sua esfera de competência a sorte de menores indefesos. Por mais corriqueira que seja a situação.
    Infelizmente, os casos criminosos de abuso de menores que são conhecidos têm envolvido incorrectas actuações das comissões, e este de agora também não é pacífico quanto à justeza da decisão da comissão de manter a bebé na mesma residência que os pais agressores.
    De passagem - espero que quem tenha visto a prestação de Armando Leandro na televisão tenha percebido que tudo vai ficar na mesma. Arrepiante.

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  6. Caro Massano Cardoso,

    As assistentes sociais podem argumentar que a sua colega não percebe nada disto se formos a ver quantas crianças lhe morreram nas mãos. Este tipo de notícia devia ser proibida (respondendo ao crack de passagem) até por estas reacções estapafúrdias. Porque a sua colega não arriscava a que lhe morressem crianças nas mãos se não lhe passassem pelas mãos, como a assistente social que ponha todas as crianças numa instituição não corre o risco de se ver acusada de negligência. O caso é escabroso ao ponto de puxar paixões e o discurso da sua colega ainda é para piorar as coisas. Agora não pudemos esquecer que há milhares de opções de deixar a crianças com os pais ou não, e coisas destas influenciam estas opções.

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  7. Caro Crack

    A expressão caça às bruxas deve ser entendido da seguinte forma: as notícias e a responsabilidade que vai cair nos ombros dos membros das comissões pode, penso eu, afastar das mesmas pessoas com potencial reconhecido.
    Quanto aos membros das comissões continuo a pensar que deverão ter perfil e formação adequadas.
    Tenho receio, tal como diz o Tonibler, dos responsáveis tentarem descartar-se de eventuais responsabilidades e causarem outras situações.
    O Tonibler tem alguma razão quanto ao excesso de publicidade, mas continuo a pensar que formação adequada é indispensável, não numa perspectiva de olhar para a criança para detectar marcas ou indícios de violência, mas também outros de carácter psicológico, social e comportamental.
    Eu ouvi a prestação de Armando Leandro e, curiosamente, fiquei com a mesma sensação do Crack: vai tudo continuar na mesma. Não pode ser.

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  8. Caro djustino,

    De quantas decisões certas estamos a falar(não digo que esta esteja certa)? É que não fazendo a mais pequena ideia do que seja uma CPM, uma situação destas não contém decisões "no meio", ou a criança está com os pais ou não está. Estamos a falar de quantas? Se forem 1000 certas para esta, supostamente errada, são 99,9%...qualquer outra avaliação de risco é matematicamente menos rigorosa que o rigor observado.
    Sublinho novamente que criança tirada aos pais e metida numa instituição tem zero de hipóteses de ser maltrata pelos pais. Incluindo os meus filhos. E isto é muito, muito pior, que só acertar 99,9% das vezes...

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