Uma das áreas que inevitavelmente procuro transmitir aos meus alunos prende-se com a conduta científica dos investigadores, quer sob o ponto de vista ético, quer sob o ponto de vista do rigor. Não descuro um capítulo sobre a má conduta científica. As razões são fáceis de explicar. Toda a acção é feita com base nos conhecimentos adquiridos e transmitidos pelos diversos autores. Assim, uma boa prática profissional exige suporte técnico e científico correcto. É fácil de compreender que uma informação errada transmitida como se fosse correcta pode ter efeitos devastadores. Não é por acaso que as principais revistas científicas têm peritos destinados a avaliar os trabalhos. Mas, mesmo assim, e de uma forma muito preocupante, tem vindo a crescer o número de artigos falsos e manipulados o que constitui uma afronta muito grave. A literatura científica, nomeadamente médica, está recheada de inúmeros casos paradigmáticos de fraude e má conduta. Mesmo as revistas mais famosas, tais como a Science e a Nature, volta e não volta lá vêm a apresentar as retractações de alguns investigadores que cometeram fraude. As razões subjacentes a esta conduta altamente reprovável são diversas, traduzindo personalidades sem escrúpulos, gente ambiciosa de fama e fortuna, a pessoas manipuladas ou “distraídas”. No ano passado, por exemplo, um jovem físico “brilhante”, Hendrik Schon, que publicava artigos a um ritmo verdadeiramente alucinante, foi acusado de falsificação de dados. Um notável cientista da Universidade da Califórnia falsificou um trabalho com o objectivo de provar que a oração provoca aumento da fertilidade. Agora, o cientista sul coreano Hwang Woo-suk que adquiriu uma notoriedade ímpar, a propósito da investigação em células estaminais e na clonagem, a ponto de ser considerado como herói nacional, foi acusado de ter mentido e de falta de ética quando se soube que algumas colaboradoras tinham doado e vendido os seus óvulos para fins de investigação científica. De início negou, mas, posteriormente, veio a público assumir as suas responsabilidades. Um escândalo que se agravou com a recente notícia de que teria falsificado um artigo sobre células estaminais e clonagem. A admissão da culpa foi feita por um colaborador, já que Hwang está hospitalizado “esmagado pela humilhação”. Coitado! E nós? Meros e anónimos cidadãos cultores ou não da ciência. Não fomos humilhados? Não discursámos e debatemos estes assuntos nas nossas reuniões, conferências e até em importantes pareceres? Tudo o que está a acontecer no mundo da ciência exige a necessidade de criar organismos dotados de capacidade fiscalizadora a fim de avaliar a qualidade da produção científica e propor as respectivas sanções para os prevaricadores. Afinal, os conselhos científicos e redactoriais nem sempre conseguem impedir a má conduta e a fraude científica sementes da falsidade e fontes de distorção da realidade. E não é com meras retractações públicas que o problema fica resolvido. Os Hwangs, os Schons e quejandos acabam, mais tarde ou mais cedo, por aparecerem novamente. Quem sabe se não vão a continuar a fazer das suas. Assim não vale.
sexta-feira, 16 de dezembro de 2005
Fraude científica
Uma das áreas que inevitavelmente procuro transmitir aos meus alunos prende-se com a conduta científica dos investigadores, quer sob o ponto de vista ético, quer sob o ponto de vista do rigor. Não descuro um capítulo sobre a má conduta científica. As razões são fáceis de explicar. Toda a acção é feita com base nos conhecimentos adquiridos e transmitidos pelos diversos autores. Assim, uma boa prática profissional exige suporte técnico e científico correcto. É fácil de compreender que uma informação errada transmitida como se fosse correcta pode ter efeitos devastadores. Não é por acaso que as principais revistas científicas têm peritos destinados a avaliar os trabalhos. Mas, mesmo assim, e de uma forma muito preocupante, tem vindo a crescer o número de artigos falsos e manipulados o que constitui uma afronta muito grave. A literatura científica, nomeadamente médica, está recheada de inúmeros casos paradigmáticos de fraude e má conduta. Mesmo as revistas mais famosas, tais como a Science e a Nature, volta e não volta lá vêm a apresentar as retractações de alguns investigadores que cometeram fraude. As razões subjacentes a esta conduta altamente reprovável são diversas, traduzindo personalidades sem escrúpulos, gente ambiciosa de fama e fortuna, a pessoas manipuladas ou “distraídas”. No ano passado, por exemplo, um jovem físico “brilhante”, Hendrik Schon, que publicava artigos a um ritmo verdadeiramente alucinante, foi acusado de falsificação de dados. Um notável cientista da Universidade da Califórnia falsificou um trabalho com o objectivo de provar que a oração provoca aumento da fertilidade. Agora, o cientista sul coreano Hwang Woo-suk que adquiriu uma notoriedade ímpar, a propósito da investigação em células estaminais e na clonagem, a ponto de ser considerado como herói nacional, foi acusado de ter mentido e de falta de ética quando se soube que algumas colaboradoras tinham doado e vendido os seus óvulos para fins de investigação científica. De início negou, mas, posteriormente, veio a público assumir as suas responsabilidades. Um escândalo que se agravou com a recente notícia de que teria falsificado um artigo sobre células estaminais e clonagem. A admissão da culpa foi feita por um colaborador, já que Hwang está hospitalizado “esmagado pela humilhação”. Coitado! E nós? Meros e anónimos cidadãos cultores ou não da ciência. Não fomos humilhados? Não discursámos e debatemos estes assuntos nas nossas reuniões, conferências e até em importantes pareceres? Tudo o que está a acontecer no mundo da ciência exige a necessidade de criar organismos dotados de capacidade fiscalizadora a fim de avaliar a qualidade da produção científica e propor as respectivas sanções para os prevaricadores. Afinal, os conselhos científicos e redactoriais nem sempre conseguem impedir a má conduta e a fraude científica sementes da falsidade e fontes de distorção da realidade. E não é com meras retractações públicas que o problema fica resolvido. Os Hwangs, os Schons e quejandos acabam, mais tarde ou mais cedo, por aparecerem novamente. Quem sabe se não vão a continuar a fazer das suas. Assim não vale.
Ainda por cima no tema que é. Lá o Schon devia de andar de volta de umas tretas, agora células estaminais é a mecânica quântica da medicina...
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