quarta-feira, 18 de janeiro de 2006

Leituras das sondagens

Ao contrário de muitos observadores e comentadores, entendo que as sondagens são um instrumento fundamental para avaliação do desempenho dos candidatos e para identificação de tendências das intenções de voto do eleitorado. Se poderei aceitar a expressão corrente de que "as sondagens valem o que valem", também defendo que elas valem bastante se não transformarmos a sua leitura numa manifestação de "wishful thinking", ou seja tentar ver o que queremos ver e não o que lá está para ser visto.
Vem isto a propósito da animação provocada pela quebra nas intenções de voto em Cavaco Silva e no alarido em torno da probabilidade acrescida de realização de um segunda volta. A publicação diária de resultados por parte da "pool" TSF/DN/Markteste decerto alimentou essa imagem e o problema está em saber o que terá influenciado essa quebra.
Será que a campanha de Cavaco Silva está mal organizada e as dos restantes candidatos muito bem organizada? Exceptuando o caso de Jerónimo de Sousa que tem vindo a fazer uma boa campanha no terreno, não creio que CS tenha cometido muitos erros nem que os restantes candidatos tenham concretizado grandes sucessos.
Haverá alguma explicação para o sucedido? Entendo que há e essa explicação passa pelos elevados níveis apresentados pelas sondagens no período imediatamente antes do Natal e a primeira semana de Janeiro. Nessa altura a maior parte das sondagens davam a vitória certa a CS, à primeira volta e com um resultado esmagador próximo dos 60%. Com estes valores é sempre mais fácil descer do que subir, mas a sua divulgação tem um efeito sobre o comportamento do eleitorado: "já está tudo decidido!". Até havia quem dissesse que o período de campanha seria uma perda de tempo.
É bem provável que se tenha registado uma desmobilização do eleitorado de CS, mas esta reacção, em princípio, não deveria revelar-se nas sondagens. Não sei porque razão técnica, mas julgo que os 60% do princípio do mês estão sobreavaliados e à medida que se vão repetindo os inquéritos, os resultados vão-se aproximando do que é previsível, ou seja, CS com valores próximos dos 53 a 55%, Manuel Alegre à frente de Soares (somados deverão andar pelos 30% correspondente ao núcleo consolidado do eleitorado do PS) e Jerónimo de Sousa ligeiramente acima de Louçã (cada um entre os 5 e os 7%).
Como sempre, o Margens de Erro dá-nos uma imagem do conjunto de sondagens realizado, sendo de consulta obrigatória. Agora há que aguardar pelos resultados que serão publicados 5.ª e 6.ª feira para se ter uma ideia mais precisa das projecções.
Uma coisa é certa: se uma parte significativa do eleitorado convencer-se que está tudo definido e que o melhor é ficar em casa, então as sondagens vão mesmo errar nas suas estimativas.

1 comentário:

  1. As sondagens tem muito daquilo que eu chamo a engenharia matemática. Repare-se que todas nos dão uma margem de erro de x% (a de hoje dá-nos 3,07%!!!, note-se o rigor...) com uma confiança de 95%. Quem está habituado a lidar com variáveis aleatórias e, principalmente, mete dinheiro nisso trabalha com níveis de confiança de 99,9x%. Assim de cabeça, se tivéssemos nestes níveis de confiança o erro era duns 20%.
    Porquê, então, as sondagens são todas com um grau de confiança de 95% e um margem de erro de 3%. Porque sim, sim de engenharia, porque empiricamente é escapatório. Agora se pedissemos ao Pedro Magalhães para pôr dinheiro numa, é o metes!...
    Matematicamente, 400 pessoas não representam 7 milhões. Nada se conclui de uma amostra de 400 em 7 milhões, tirando sondagens. Que todos sabemos, matematicamente ou não, que valem o que valem e que umas vezes acertam e outras talvez não. Estas podem estar mais certas que as de antes do Natal ou muito pelo contrário. Fazendo minhas as palavras de um velho amigo: "A mim, ninguém perguntou nada!"

    Concluindo, não cientificamente, Alegre é o próximo presidente.

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