sexta-feira, 27 de janeiro de 2006

Os partidos-sabonete

O post do David Justino lança um debate sobre o sistema partidário português que o fim deste ciclo de contínuas eleições e a circunstância de não ser previsível durante pelo menos os próximos dois anos, a existência de uma disputa pelo poder (salvo ocorrência de convulsões internas no Partido Socialista, pouco provável), encontra condições para ser aberto porque menos condicionado pelas conjunturas e conveniências eleitorais.
Luis Paixão Martins (LPM), assina hoje um artigo no DN na assumida qualidade de "trabalhador", como consultor de marketing, nas campanhas vitoriosas de Sócrates e de Cavaco Silva.
O referido artigo tem por sugestivo título ´O desgaste das marcas partidárias´ e merece ser lido e atentamente ponderado por quem se interessa, justamente, pelo papel dos partidos na democracia.
A visão de quem adquiriu a experiência que LPM adquiriu não é de desprezar para a compreensão da chamada crise do sistema de representação política, e nela em especial do reconhecimento do papel mediador da vontade popular interpretado pelos partidos políticos.
Li o artigo, e procurando decodificar uma linguagem que me não é muito acessível, confesso, entendi assim:
LPM reduz literalmente o eleitorado a um mero mercado de votos. A lógica da disputa eleitoral é a lógica do mercado.
Despe os principais partidos de quaisquer referências ideológicas e vê o sucesso eleitoral como mera reacção ao estimulo mediático sobre os milhões de votos que no mercado oscilam entre um polo e o outro polo do sistema.
Explica que é a imagem, não a praxis ou a ideologia, a responsável pela afirmação de pequenos partidos nas franjas do sistema.
O artigo pode ser entendido como aproveitamento de publicitário dos sucessos que LPM obteve. Já vi feita esta leitura na blogosfera. Pode ser que sim. Não admirará que um bom técnico de marketing saiba valorizar os produtos que ele próprio coloca no mercado...
Julgo, porém, que o que menos interessa é saber o que motivou o referido artigo.
O que deve de ser motivo de reflexão é o facto de os principais partidos ou candidatos, em especial os que disputam o poder, nem por um momento duvidarem da essencialidade de recorrerem aos serviços de quem assumidamente pensa que nada de substancial distingue a publicidade aos bons sabonetes da promoção no mercado eleitoral da marca dos partidos (ou dos candidatos)...

8 comentários:

  1. Sem qualidade do produto não há publicitário que salve.

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  2. Depois de ler o artigo citado creio que LPM chama a atenção para duas coisas importantes. Uma é a actual indiferenciação ideológca entre os dois principais partidos. Outra é que as campanhas passam pelas televiões e rádios e estas dão preferência ao negativo. Promove-se assim o dizer mal e não as propostas "honestas".

    Sobre este último ponto não sei como lhe dar a volta a não ser jogando no efeito da novidade e da ruptura.

    Quanto à indeferenciação ideológica é algo que actualmente existe de facto e que eu entendo que deve acabar quando o PSD redefenir o seu programa de governo para os próximos anos. (Gosto muito muito do Programa do Partido- o que é preciso é contruir um programa que aplique à realidade actual as suas linhas de apelo à iniciativa da sociedade)

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  3. Antes de mais, uma declaração de interesses: conheço o LPM de outra área que não a política (sou jornalista).

    A sociedade que vivemos é assim. Não culpem a comunicação social porque não é toda igual. É a mesma coisa que dizer que os políticos são todos maus (aliás, o 4R é um exemplo de que isso não é verdade).

    O facto é que os partidos são entidades como quaisquer outras que não têm acesso a um palco directo com os eleitores (a audiência do canal parlamento é o quê, 0,000001%?). Para o bom e para o mau, os media são um filtro. Há que aprender a viver com isso. E escolher quem possa (e consiga, e saiba) influenciar esse filtro.

    Mas no meio disto há uma verdade: o que distingue, verdadeiramente, o programa com que o PS foi a eleições legislativas, do programa do PSD? Pouco, ou muito pouco. E, portanto, o que emerge é a personalidade do líder. Quem disse que as ideologias morreram sabia, mais coisa menos coisa, o que estava a dizer...

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  4. Caro MB, as ideologias foram sempre suportadas, ou transmitidas, pelos grandes lideres, senão tinham ficado como filosofias sem nunca serem testadas como práticas políticas. Em qualquer grupo actuante tem que haver quem se distinga e agregue os outros e é à volta dessa figura que se centra o combate pelo poder. E os Programas são um pouco como as partituras, depende muito do maestro, basta ver como Sócrates interpreta o que o PS-Oposição anunciava. Quanto à comunicação social tem toda a razão, funciona como um filtro, mas não é asséptica e se calhar não podia ser, o pior é que lhe veste a pele e é aí que reside a dificuldade - ou é manipulada de forma pouco democrática, e torna-se num instrumento acessório do Governo, ou não se deixa manipular e transmite as opiniões do mensageiro em vez de transmitir as notícias.Se não me engano, houve um inquérito em que no topo da confiança das pessoas estavam os jornalistas, por contraposição aos políticos o que parece mostrar que a informação e a comunicação se confundem muitas vezes. Pelo menos dá que pensar.

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  5. Constatamos que os Partidos já não são mais partidos de massas são agora partidos de elites, "attrape-tout" e fortemente centralizados.

    As "elites" partidárias manobram um "aparelho" para dele se servirem e deste modo assegurarem a sua sobrevivência e perpetuação nos lugares.

    Cumprimentos,

    Antonio Felizes

    http://regioes.blogspot.com

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  6. É pão e circo, senhores...

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  7. Há muito que o PSD precisa de verdadeira reforma. Mas não podem ser os que o trouxeram a este presente estado de desarticulação e de descrédito públicos a promover a sua reabilitação. A persistente indefinição ideológica em que o PSD tem vivido, sob direcções animadas de prosápia mediática, apenas concentradas no ganho imediato de eleições e nos negócios que elas proporcionam, tiveram o condão de o conduzir à sua quase inacção social. Onde está a sua presença no mundo do Trabalho, no da Cultura, no das Escolas e Universidades,no das Empresas,no das Instituições Sociais, etc., etc. ? E quem se propõe reanimá-lo e com que objectivos, sob que ideais ? Desculpem a intromissão, mas muito gostaria de os ouvir sobre isto. Basta de ilusões pias.

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  8. Anónimo21:29

    Meu caro LPM:
    Agradeço, antes de mais, o seu comentário.
    Creia que não pretendi ser injusto consigo. Se não transpareceu da minha nota - e relendo-a admito imediatamente que pode não ter transparecido - a intenção não foi a de menorizar a importância do trabalho do LPM nas duas campanhas eleitorais. Julgo, aliás, que num caso mais do que outro o seu papel para promoção da imagem do candidato teve inquestionável relevo.
    Também não pretendi "culpar" a comunicação social, contrariamente ao que terá apreendido ´mb´a julgar pelo comentário que aqui deixou. Sei bem que políticos e não só têm de conviver com a intensa mediatização da vida pública e até da vida privada. O que não significa que nos tenhamos de concordar ou conformar com alguns dos métodos e outros tantos modos como por vezes se faz a mediatização da política (e não só) em Portugal...
    Na minha episódica passagem pela vida pública foi-me um dia explicado porque razão é que, sendo o ovo da pata mais barato, mais saudável e maior do que o ovo de galinha, só este último vende. E a resposta, segundo um conhecido colega de profissão de LPM, é simples: é que a galinha, contrariamente à pata, quando põe o ovo, CANTA!
    A estória pretendeu convencer-me a contratar determinados serviços de marketing com o propósito de explicar um determinada medida de política.
    Optei por o não fazer, confiado que a importância intrinseca da decisão seria razão suficiente para atrair os mediadores de opinião. Percebi mais tarde que os meus ovos eram de pata...
    Isto para significar ao meu caro LPM que estou consciente da importância do seu trabalho.
    O que me chamou a atenção no seu artigo do DN foi a alusão às "marcas" dos partidos e à projecção como tais junto do eleitorado. A ideia do "mercantilismo" do voto, motivado não pela credibilidade dos candidatos, pelo mérito das ideias ou pelo valor dos projectos políticos, mas pela imagem que se cria.
    O que me pareceu de sublinhar é que muita gente nos partidos (e não só nos partidos do grande centro - PS e PSD) pensa que não há que repensar métodos, ideologias, projectos, programas. O importante é a "trabalhar" a imagem, dando afinal razão a uma das frases mais nocivas das saúde da nossa vida colectiva: que em política não vale o que é, vale o que parece.
    Porque assim é, meu caro LPM, é que os partidos - a política nacional em geral - se encontra cheia de Condes de Abranhos.
    Os meus cumprimentos.

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