sábado, 7 de janeiro de 2006

Respeito e solenidade

A utilização do hino nacional na publicidade da PT tem gerado uma grande polémica, certamente prevista por quem aprovou o anúncio e que não deixa de ser um importante complemento da acção de marketing.
Apesar de o assunto já ter sido tratado neste blog pelo Pinho Cardão e extensamente comentado pelos atentos leitores, invoco a meu favor uns breves dias de férias para voltar ao tema, até porque se sucedem as manifestações à volta do assunto, com foros de caso de tribunal, até mesmo de duvidosa constitucionalidade...
Se a ideia em si me levantou algumas reservas, quando vi o anúncio deixei de as ter, porque me parece a música está usada com sobriedade, é agradável de ouvir e consegue contribuir para uma imagem global de uma empresa nacional, ao serviço de todos. Que o consiga de facto ser é outra questão, mas que o afirme como intenção e lhe dê o suporte – diria mesmo o compromisso – com o hino nacional, parece-me uma imagem muito forte e que confere grande responsabilidade a quem a utiliza.
Não creio que se deva confundir respeito com solenidade. Nós temos uma tradição muito forte de tratar com solenidade, sem alegria, sem entusiasmo, aquilo que consideramos, e bem, digno de respeito. Talvez por isso mesmo, por causa de tanto formalismo, seja raro encontrar quem hoje saiba cantar de fio a pavio o hino nacional, entender a sua letra ou perceber a simbologia inscrita na bandeira. Associados a cerimónias maçadoras, a discursos impenetráveis, a salvas de tiros com assistência vestida de preto sentada em cadeiras de veludo onde só têm lugar os notáveis, estes símbolos vão-se afastando das pessoas, reverenciados, é certo, mas moribundos.
Vi com surpresa a explosão de bandeiras naconais nas janelas e varandas quando foi o Euro 2004 e pareceu-me uma ideia fantástica que eu teria considerado um fracasso se alguém ma tivesse contado antes. No entanto, a adesão foi total e com que entusiasmo! Não veio daí nenhuma desconsideração à bandeira, por uma vez hasteada fora dos edifícios públicos, nem o símbolo nacional fica diminuido quando é agitado em formas de cachecol e barretes nos jogos de futebol...
Por isso mesmo não vejo mal nenhum na utilização do hino, no modo como se apresenta, por uma empresa como a PT, se tal servir para reforçar a sua obrigação de prestar a todos um serviço digno, à altura do símbolo que ousadamente elegeu.
Com sorte, ainda teremos como bónus a divulgação e apredizagem do hino sem ser preciso comissões de sábios a rever planos escolares ou a distribuição de kits de leitura fácil...

6 comentários:

  1. Não vejo absolutamente mal nenhum que se utilizem os símbolos nacionais, com sobriedade, em publicidade. Pelo contrário: precisamos de mais símbolos nacionais nos "media".

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  2. Anónimo20:21

    Compreendendo outras perspectivas, também já abordadas neste blog verdadeiramente pluralista, também eu alinho pelo sentido da nota deixada pela Suzana.

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  3. Pinho Cardão, percebo o seu sentimento no que se refere à utilização "gratuita" de um bem comum para aumentar as vendas; mas, e se fosse a imagem da Torre de Belém? Ou o Mosteiro dos jerónimos? Creio que o resultado era o mesmo...

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  4. 0 que me choca profundamente neste anúncio é a sua msg profundamente fascista, ao pôr-nos todos a venerar a PT, numa atitude de subserviciência, como se dali viesse a nossa salvação.

    Mais irritado fico quando não vejo as tarifas da TMN descerem...

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  5. Subscrevo o post na integra!

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  6. Pois, eu admito que a ideia da PT é um bocado subversirva porque põe em causa essa "veneração solene" que, a meu ver, não perde nada em aligeirar-se desde que não haja falta de respeito. A fronteira nem sempre é fácil de definir, mas isso também tem acontecido noutros casos, alguns em publicidade e, quanto mais arreigada for a solenidade, maior será a provocação...

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