Num artigo asinado por Andreia Sanches, "Leitura frequente de jornais associada aos bons resultados dos alunos na escola", inserto no Público de hoje, dá-se conta da influência da leitura de jornais nos níveis de sucesso dos alunos Finlandeses.
Partindo da questão inicial que pretende desvendar "o segredo do sucesso dos alunos finlandeses", alguns investigadores chegaram à conclusão que os jovens deste país nórdico lêm frequentemente os jornais e este facto "ajudará a explicar os desempenhos excepcionais" nas avaliações internacionais da OCDE (PISA). Assim, um dos especialistas responsáveis pelo estudo "sugere que os jornais devem ser valorizados pelas escolas como material de aprendizagem".
Não conheço o estudo, mas do que conheço da realidade educativa finlandesa, estamos perante uma lamentável mistificação. Os jovens finlandeses apresentam elevados índices de leitura não só de jornais, mas de todo o tipo de texto escrito, nomeadamente livros, quer sejam romances, ficção ou qualquer outro estilo literário.
A razão de tão elevada aptência pela leitura reside num facto menos conhecido: desde tenra idade as crianças finlandesas habituam-se a participar em sessões de leitura colectiva, em família, mesmo antes de saberem ler. Começam por ouvir e a partir daí criam hábitos de leitura. As crianças finlandesas só entram na escola aos sete anos, podendo frequentar um ano de jardim-de-infância, aos seis. Até lá, é a família o espaço educativo por excelência e o hábito de leitura colectiva um dos pilares desse processo educativo.
Dispondo dos mais elevados níveis de literacia, os alunos finlandeses são também os que melhores desempenhos apresentam a matemática. Uma precede a outra! De há muito que está demonstrado.
Não sou contra a leitura de jornais nas escolas, pelo contrário. Mas seria bom que não concluíssemos que bastaria passar a ter jornais nas escolas para elevar os níveis de literacia dos alunos portugueses. Os hábitos de leitura adquirem-se bem mais cedo, muito antes da escola e mesmo antes de começar a ler. Quem os tem tanto lê jornais, como lê literatura infantil, ou, mais tarde, descodifica as letras dos EMINEM, o enunciado de um problema de física ou matemática, o mais belo romance de Kundera ou a poesia de Camões.
É assim a literacia.
Valerá decerto a pena ler o documento na íntegra, pela visão crítica que oferece. Deixo aqui apenas um excerto que acrescenta mais razões às enunciadas pelo estudo a que se refere a vossa entrada.
ResponderEliminarhttp://www.finland.de/dfgnrw/dfg043a-pisa26a.htm
Current Concerns
The monthly journal for independent thought, ethical standards and moral responsibility. 4/2005
P.O. Box 223, CH-8044 Zurich, Phone +41-1-350 65 50, eMail: editors@currentconcerns.ch
What We Can Learn from Finland
Facts and Reflections on the PISA Study
by Dr. Eliane Gautschi
special educator
(…)
Tradition of reading
Finland has long, dark, cold winters, which have spawned a distinct culture of reading that hardly exists anywhere else. At the beginning of the 20th century, Finland had, at 3.8%, the lowest rate of illiteracy in the world. Today, reading still has a high social value. Even during primary school, reading groups outside of school are important, and library visits are a favorite pastime.
Television and computers do not offer serious competition to books. There are only a few TV programs in Finnish, so that watching television becomes another form of reading practice, because films are not dubbed, but rather given Finnish subtitles. Because of this, if they want to understand what happens on the screen, children have to automatically train themselves to read quickly and retain what they have read.
(…)
Obrigada eu pela pronta resposta e por mais esse esclarecimento. Assim vamos enriquecendo...
ResponderEliminarTeresa M