Há muitos anos nasceu uma nova disciplina com o objectivo de estudar as relações entre os fenómenos sociais, o cérebro, o sistema imunológico e determinadas doenças. No fundo, ia de encontro a alguns fenómenos empiricamente identificados, tais como o risco de morte após falecimento do conjugue ou o aparecimento de certas patologias.
Agora, foi publicado um interessante estudo envolvendo 518.240 pares, com idades compreendidas entre os 65 e os 98 anos, em que um deles acabou por ser hospitalizado, cerca de dois terços das esposas e três quartos dos maridos. No decurso do estudo, que durou 10 anos, faleceram metade dos maridos e 30% das esposas.
Dentro das conclusões do trabalho realçamos o risco de morte quando um dos conjugues é hospitalizado. O risco é particularmente elevado no primeiro mês. A probabilidade de morrer aumenta quando um deles adoece gravemente. Quando se trata da mulher a necessitar de cuidados, a probabilidade do homem morrer dentro de um mês aumenta em 35%. No entanto, no caso contrário, homem hospitalizado, a mulher corre o risco de morrer em 44%. Em caso de morte, o conjugue sobrevivo corre o risco de morrer dentro de um mês em 53% se for homem e 61% se for mulher.
A razão para este fenómeno é explicada em função de um intenso stress que mina o normal funcionamento do sistema imunológico intensificando problemas pré existentes. O que é curioso em todo este processo é o facto dos riscos serem superiores nas mulheres, as quais, normalmente, têm melhor e maior suporte social, além de outros factores. Dados surpreendentes que exigem alguma reflexão.
O afecto e os laços sedimentados por décadas de convívio são afectados em caso de ameaça de separação provocada pela doença. Será que as mulheres, apesar de serem mais “fortes” do que os homens, sentem mais o prenúncio da separação? Seja o que for importa tomar em consideração estes fenómenos através de apoios a dar não só pelos familiares mas também pelos médicos e outras individualidades com responsabilidades na área da gerontologia. Através de medidas adequadas poderemos dar um contributo muito significativo para que um ente querido possa continuar a estar presente entre nós.
À conta de uma situação familiar, este tema tem-me dado que pensar, nos últimos tempos, pelo que gostei muito de o ler e guardei o texto.
ResponderEliminarAinda a propósito, impressionou-me a morte de Dana Reeve, viúva do valoroso actor de Superman, morta aos 44 anos, de um cancro de pulmão descoberto escassos meses após a morte do marido.
Belo texto, Massano Cardos, como sempre. Eu tinha a ideia contrária, de que os homens eram mais vulneráveis à viuvez do que as mulheres, em regra porque são mais autónomas nas questões básicas da sobrevivência... Mas depois de ler o seu post percebo que o que está em causa é sobretudo a dependência afectiva ou a necessidade de se sentir indispensável a alguém de quem se gosta e a quem se dedicou uma vida inteira a dar atenção em mil pormenores do dia-a-dia.Talvez se sintam como se sentem muitos homens que só viviam para o trabalho homens e na altura da reforma a vida em casa lhes parece um vazio absoluto...
ResponderEliminarCaro Prof. Massano Cardoso
ResponderEliminarNo seu post O stress do casamento ainda fiz uns desenvolvimentos algébricos, mas aqui não me atrevo.
É impressionante o que nos conta.
Como é o amor aos 70 anos, ou ao fim de 50 anos de casado?
Como é o sentimento de solidão, ou, como diz a Suzana,a dependência afectiva?
Afinal,a rezinguisse constante dos casais velhotes são apenas afloramentos enganadores de uma união muito intensa, ou resulta de pequenas quezílias de pessoas cada vez mais parecidas?