A não adesão às terapêuticas médicas constitui um grave problema de saúde pública. Segundo a O.M.S. estima-se que, nas nações desenvolvidas, metade dos doentes não tomam os medicamentos para as suas doenças crónicas de acordo com a prescrição clínica. As razões são várias: esquecimento, um em cada quatro casos, preços elevados, efeitos secundários e ausência de urgência nas diferentes situações.
Os impactos em termos de saúde pública, nomeadamente manutenção do risco e as complicações decorrentes, são enormes. Sendo assim, é de toda a conveniência instituir medidas que permitam aumentar a adesão.
Tivemos oportunidade de avaliar, ao longo dos últimos anos, que a melhoria observada a nível da mortalidade cardiovascular, em Portugal, foi da responsabilidade da terapêutica médica, no seu sentido mais amplo. Mesmo assim, uma parte significativa de doentes, os quais sofreram graves problemas, não estão devidamente compensados. Se tivesse havido uma maior adesão os efeitos positivos teriam sido muito mais intensos com benefícios óbvios para os próprios e para o país, reduzindo ainda mais a mortalidade.
A par dos aspectos de saúde pública, acresce os interesses da indústria farmacêutica que, face à não adesão por parte dos doentes, acabam por perder, anualmente, muitos milhares de milhões de euros. Perante este facto, a indústria norte-americana começou a tomar várias iniciativas do género telefonar semanalmente aos doentes crónicos para que não interrompam a medicação, utilizar os espaços televisivos em que os médicos aconselham os seus doentes para que não se esqueçam de tomar os fármacos ou premiar com descontos a compra de medicamentos assegurando a adesão e a “fidelidade” ao produto. Enfim, vamos entrar num novo período em que irão aparecer muitas iniciativas deste género que, para alguns, poderão constituir uma intromissão na relação médico-doente, violação da privacidade do consumidor ou mesmo um estímulo ao consumo de produtos não necessários.
Entre nós ainda não se vislumbram, aparentemente, iniciativas deste jaez, mas não é de descartar a hipótese. Para já, é importante que os nossos doentes adiram convenientemente às terapêuticas prescritas. Claro que esta medida irá aumentar ainda mais a despesa na área da saúde, mas os benefícios serão, incomensuravelmente, superiores. Compete às autoridades de saúde apelar, informar e cativar os doentes nesse sentido não deixando que este importante espaço seja ocupado pela indústria.
Cara Marga
ResponderEliminarNão contexto, obviamente, a sua afirmação. No entanto, há médicos, e muitos, acredite, que fazem o que podem nesse sentido. Muitos doentes cardiovasculares, por exemplo, que já foram hospitalizados por eventos graves, continuam a não aderir às terapêuticas, não obstante todos os esforços efectuados nesse sentido, e são indivíduos de altíssimo risco! A sua observação faz sentido, mas não pode tomar a parte pelo todo. Claro que há médicos e médicos, como em qualquer profissão há os mais competentes e os menos. Não veja esta nota como forma de responsabilizar os doentes. Nada disso, o que se pretende é obter a máxima eficiência dos meios que hoje dispomos e que podem modificar o curso de muitos acontecimentos com benefícios para todos, a começar pelos que estão doentes. Estamos muito aquém desse potencial extraordinário que é a prevenção médica secundária, a qual, mesmo assim, tem contribuído, e muito, para o bem-estar de muitos.