"Fixar uma vida em torno de uma ideia, de um sentimento, como é difícil! À unidade que nos pre-existe a cada um, à unidade de sermos, a vida imediata, quotidiana, é uma selva de caminhos, de veredas, de confusas vegetações. Tão fácil perdermo-nos! O mais grave, porém, é que muitas vezes não sentimos que nos perdemos. Cada caminho impõe-se-nos com a sua presença imediata. Um caminho é "o" caminho em cada instante que passa."
"...E, todavia, sei-o hoje, só há um problema para a vida, que é o de saber, saber a minha condição, e de restaurar a partir daí a plenitude e a autenticidade de tudo - da alegria, do heroísmo, da amargura, de cada gesto. Ah, ter a evidência ácida do milagre que sou, de como infinitamente é necessário que eu esteja vivo, e ver depois, em fulgor, que tenho de morrer".
Aparição - 1959
"Um erro curioso dos que sonham com a eternidade é dizerem de um autor célebre que ele perdura através das gerações. Não é verdade. Ele dura apenas uma geração. Quando chega a seguinte, a outra já está morta, ou seja, não existe, ou seja, nunca existiu. Quem dura, dura apenas na crista de uma vaga de que as águas vão mudando. Mas que tem que ver com a onda a água que já lá não está?"
Conta-corrente 1 - 28 de Agosto de 1976
Cara Suzana
ResponderEliminarCom temas profundos é mais difícil comentar.
Aqui fica a propósito das suas belas citações:
"O sábio não diz tudo o que pensa, mas pensa tudo o que diz"-Aristóteles
"A verdadeira liberdade consiste em submeter-se às leis da razão" -Plutarco
"Os livros dividem-se em dois classes, os do momento e os de todos os momentos"-John Ruskin
Caro Just-in-time, adorei o seu comentário, as citações que escolheu ficam aqui mesmo bem. Muito obrigada.
ResponderEliminar"- Para que é que serve um romance, António Lobo Antunes?
ResponderEliminar- P'ra nada... (suspiro) p'ra nada. Há muitos tipos de leituras e de leitores. Um romance pode servir como distracção, como evasão, como aprendizagem, mas finalmente diante das coisas decisivas da vida a importância da literatura é muito relativa."
Pessoa e Transmissível, TSF, Dezembro de 2003.
Ocorreu-me isto sobre o poder dos livros e dos romances que foi tocado no seu post e no comentário anterior ao seu.
Cumprimentos e é sempre um prazer ler os seus posts (discordando tantas vezes...), e apesar de nem sempre comentá-los.
:)
Ora viva, cmonteiro, é um prazer encontrá-lo, mesmo para discordar =)! A propósito do que disse Lobo Antunes,(de quem fui leitora assídua até há 2 ou 3 livros atrás e que já nos habituou a essa maneira pseudo desprendida de dizer as coisas)vi há poucos dias uma frase, não consigo lembrar-me de quem, mas que dizia que "os livros não mudam o mundo, as pessoas é que mudam o mundo. Os livros só mudam as pessoas". E eu acho que é bem verdade.
ResponderEliminarAlguém saberá explicar-me a razão pela qual a Aparição foi substituída por O Memorial do convento (que dificilmente os alunos lêem)?Aparição coloca-os frente aos problemas essenciais que se colocam aos adolescentes...
ResponderEliminarBem sei que Saramago teve o Nobel e V-F., não. Mas Fernando pessoa, Jorge Luís Borges, Marguerite Yourcenar, James Joyce, entre tantos grandes, também o não tiveram...
Note-se: eu gosto de quase todo o Saramago(mais do que ele escreve do que das entrevistas que dá) e muito até do que nele se torna mais difícil: a escrita.
A questão, porém, é saber: qual dos dois livros poderá interpelar mais os alunos, nos problemas que a adolescência coloca?
Cara Amélia, não sei o motivo que levou à substituição mas, pessoalmente, considero Virgílio Ferreira muito mais inacessível a um adolescente do que o Memorial do Convento (já não outros livros de Saramago, claro), apesar de tudo. Sobretudo se a leitura é obrigatória e os antecedentes literários dos leitores forem nulos ou perto disso. O tema podia ajudar, é verdade, mas também não acho que os adolescentes devam ser especialmente instruídos sobre os problemas dos próprios adolescentes, às vezes nem os adultos são... Enfim, não vejo na substituição nada de grave, desde que dela resulte um maior gosto e interesse pela leitura, isso é que seria de facto importante como resultado.
ResponderEliminarAinda bem que assim pensa, Susana. Pessoalmente discordo da mudança.Leccionei vários anos Aparição e nunca vi alunos tão interessados numa obra assim...uma obra que os interpelava - mas eu estou já aposentada há dois anos e os gostos podem ter mudado...
ResponderEliminarQuanto ao que diz - e nisso tem razão - o afastamento dos estudos mais especificamente literários anteriormente ajuda a que nem Aparição nem o Memorial lhes sejam fáceis ou gratificantes.Ou outro livro de outro bom autor.
Como já disse, eu até gosto de Saramago (não de todos os livros) -embora lhe prefira Vergílio Ferreira (não de todos os livros).
Mas não é de preferências minhas que se trata aqui...apenas me interrogo, como ser pensante que quero continuar a ser.
De facto,cara Amélia, o que pode tornar uma obra literária mais ou menos interessante como matéria de estudo obrigatório é sem dúvida o modo como o professor a torna acessível. Por isso respeito inteiramente a sua opinião sobre a substituição, provavelmente muitos dos seus alunos são hoje bons leitores, seja de Saramago seja de VF e é isso que realmente importa.
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