Terça-feira foi o Banco de Portugal. Quarta, o Fundo Monetário Internacional. Ontem, a OCDE. Todos com notícias que, no mínimo, podem ser consideradas deprimentes.
Que a economia não cresce. Que a retoma não é sustentada. Que o nosso padrão de crescimento é errado (baseado no consumo público e privado) e não sustentável. Que temos vindo a divergir da Europa e que assim continuaremos. Que a nossa competitividade cai a pique. Que o desemprego tem tendência a aumentar. Que as despesas públicas estão em derrapagem. Que o resultado do défice de 20905 foi mau (6% do PIB contra 5.3% em 2004). Que cumprir os objectivos orçamentais do Governo será difícil, ainda que as intenções sejam boas. Pois. O problema é que se trata de apenas de intenções. E de boas intenções, como diz o ditado, está o inferno cheio. Quanto à prática, pouco, muito pouco se tem visto…
Mas repararam que a OCDE, no seu relatório refere que vamos continuar a divergir da média europeia até, pelo menos, 2010? Então, completaremos uma década de divergência. Ininterrupta. Deprimente, não é? De que serve crescermos 2%, se os outros crescem 3%? Ou crescermos 3% se os outros crescem 4%? Agora a culpa é da alta do petróleo e da conjuntura internacional. Wrong. A Irlanda, a Finlândia, a Espanha, e muitos países do leste da Europa também verão o crescimento abrandar. É natural. Mas continuarão a crescer acima da média europeia. E, portanto, a convergir. O que significa que o nosso problema é estrutural. É nosso, muito nosso, e temos que nos capacitar disso de uma vez por todas. E de o resolver, com coragem e determinação. Depois, as acelerações e abrandamentos do crescimento económico, são suportáveis.
Não estávamos preparados para entrar no Euro – aliás, ainda hoje não estamos. Mas entrámos. O surpreendente é que, desde 1996 até agora (incluindo em 2002-2004), não tenha sido feito o que era preciso (já me referi a este tema no passado, voltarei a ele em futuras oportunidades). E, pelo andar da carruagem, com o foguetório, a propaganda e a festa permanente dos anúncios deste Governo, para mal dos nossos pecados, assim iremos continuar.
O relatório da OCDE é mau, muito mau. Porque apresenta perspectivas negras. Mas, pergunto eu: qual é a novidade? Desde 1999-2000 que tudo isto que nos está a acontecer era previsível!...
E, de facto, pensando bem, até nem é surpreendente que as “coisas” continuem neste estado. Afinal, quer o Primeiro-Ministro, quer o Ministro das Finanças já foram “actores” entre 1996 e 2001, e entre 1996 e 1999, respectivamente. Com outros papéis, claro, mas estavam lá, a tocar alegremente na orquestra, enquanto o navio se começava a afundar. O dramático, a avaliar pelo primeiro ano de Governo, é que não tenham aprendido com os erros de então…
O Boletim do Banco de Portugal, agora vindo a público, tem provocado grande celeuma nos meios políticos e jornalísticos, não tanto pelas novidades que transmite mas sobretudo pelo novo posicionamento de Victor Constâncio. Temendo um maior e mais completo descrédito, achou por bem o governador descolar-se do governo e fazer realmente o papel que lhe cabe.
ResponderEliminarEm boa verdade, já em princípios de Março, aquando da apresentação do relatório orçamental relativo a Janeiro e Fevereiro, se constatava que de 2004 para 2005 se verificara um aumento do número de funcionários. E não se pense que tais aumentos de pessoal tiveram apenas origem na profissionalização das Forças Armadas como os comentadores do regime nos pretendem fazer crer. Assim, por exemplo, a rubrica de Encargos Gerais do Estado, onde se inclui a Presidência do Conselho de Ministros (ministros e secretários de estado), Centro de Gestão de Rede Informática do governo, Gabinete Nacional de Segurança, Instituto da Comunicação Social, subiu em gastos de pessoal mais 12,8% que em 2004.
Por outro lado, também já se conhecia que existira aumento da despesa do Estado de 2004 para 2005. Ao contrário do que pretendeu e pretende fazer crer, o governo Sócrates continua a saga despesista tão comum aos governos socialistas.
Em 2005, gastou uma verba superior a 843 milhões de contos em serviços fora da Administração, como "estudos, pareceres e projectos de consultadoria. Mais 108 milhões de euros do que em 2004. A rubrica “aquisição de serviços”, subiu em 2005, mais 14,8% do que no ano anterior.
Mas não... mas não caro Ruy. Isso é tudo mentira...
ResponderEliminarO meu caro é que não viu bem... Na realidade o meu caro enganou-se e recebeu essa informação num relatório que por erro de impressão trocaram as colunas dos anos de 2004 para 2005 e vice-versa... Na realidade os gastos diminuíram!!!!!...
Banco de Portugal???!!! Esse não é aquele Banco que tem um jornal chamado "A Patranha"?
Caro Pinho Cardão,
ResponderEliminarConcordo com o MF na questão do euro. Pode-se sempre dizer que o mal não é do euro, é nosso. Mas como nós não soubemos estruturar a sociedade, temos metade do país viver na economia dinamarquesa, que consome sempre o mesmo valor nominal em euros, e a outra metade na economia senegalesa em que o valor gerado é cada vez menos capaz de sustentar os consumos da outra metade.
Claro que o que estava certo não era prescindir do euro para manter a estrutura da sociedade, era alterar a estrutura. Mas o facto é que já lá vão 10 anos desde a decisão de entrar no euro, 7 desde a entrada e está tudo exactamente na mesma. Então, entrar no euro foi de facto um erro!
A questão monetária na economia privada não me parece que fosse mais grave que aquela que temos hoje.
Senhor virus,leia o artigo de Carla Aguiar no Diário de Notícias de 04.03.2006, não desmentido, e muitos outros que sairam então onde se reproduz tudo o que afirmei. Não há engano no relatório, o engano será lamentávelmente este governo, que com com o uso da propaganda que faz vem iludindo os portugueses menos atentos.
ResponderEliminarCaro ruy,
ResponderEliminarNão li o relatório, mas se é do Banco de Portugal, então deve estar errado.
Caro Tonibler, de facto os sucessivos ziguezagues de Victor Constâmcio levam a pensar como diz, mas não é oriundo do BP o relatório a que me refiro. Trata-se do relatório orçamental relativo aos meses de Janeiro e Fevereiro de 2006 e que enquadra também os anos de 2004 e 2005, dado a público pela DG do Orçamento.
ResponderEliminarMeus caros,
ResponderEliminarPara que conste e para desfazer quaisquer confusões que possa ter criado, aqui vai:
Não sou, evidentemente, contra a nossa entrada no euro. Acho que, como diz o meu amigo Pinho Cardão, se lá não estivessemos, hoje em dia o nosso estado não sei como seria... Mas a verdade é que estamos. E se estamos, é lamentável que continuemos neste estado, sem que não se faça o óbvio (sim, repito, o óbvio!...) para alterar a situação... o que, como todos sabemos, leva tempo!
Aliás, o que me revolta mais foi termos desperdiçado aqueles anos de "vacas gordas", de 1996 a 2000, quando já sabíamos que íamos entrar em 1999 (foi decidido em 1996!...) e NADA, NADA termos feito para não sofrermos o que hoje sofremos. É contra isso que estou. E preocupa-me o facto de alguns "actores" serem os mesmos de então e de, pelos vistos, não terem aprendido a lição!...