De acordo com os dados apurados pela Markteste para Portugal, registaram-se em 2005 quase um milhão de utilizadores únicos que acederam a blogs tendo visitado cerca de 120 milhões de páginas de blogs. Se compararmos estes números com o número de leitores de todos os jornais publicados em Portugal no mesmo ano ou o número de notícias lidas poderemos compreender a importância da blogosfera sem que tal nos permita "embandeirar em arco" relativamente a qualquer suposta competição entre os dois tipos de meios.
O interessante é tentarmos perceber que para além das audiências registadas se começa a estruturar uma comunidade de utilizadores ou, para sermos mais precisos, uma comunidade de várias comunidades que se formam em torno de preocupações comuns. Para além dos grupos de autores, torna-se habitual formarem-se grupos de comentadores ou de leitores habituais que passam sem deixar "rasto". Alguns blogs que não aceitam comentários reportam regularmente alguns textos de milhares de e-mails que lhes chegam por via electrónica. Outros, através de links, encaminham os leitores para blogs mais ou menos conhecidos, estruturando redes de intercomunicação e afinidades políticas, culturais ou sociais, dificilmente concretizáveis atrav+es da comunicação social escrita. A possibilidade de "feed-back" é um dos meios decisivos para se estabelecer essas redes.
Ora, estamos perante o que poderemos designar por comunidades virtuais que se formam através de afinidades impessoais em torno de ideias, da partilha de informação ou da crítica as aspectos da vida colectiva. Ou seja, não estamos perante comunidades de pessoas que se conhecem, mas sim de ideias que se confrontam e partilham.
Para uma sociedade que é conhecida pela limitada cultura cívica, o que está a acontecer na blogosfera é, no mínimo, surpreendente e encorajador. Não hesito em afirmar que a diversidade e extensão de temas e problemas abordados, a título de exemplo, no Quarta República, em cerca de um ano e meio de existência, supera a intervenção na vida partidária de cinco ou mais anos. Com uma vantagem: o debate ultrapassa os cingidos limites da identidade partidária.
Por mais incipiente que ainda se possa revelar, o sucesso dos blogs em Portugal tem um efeito potencial de estruturar uma nova cultura cívica e novas formas de participação na vida da sociedade portuguesa.
Mesmo com anónimos e "nicknames" não é desprezível o que está a acontecer. Tempos virão em que essas limitações serão superadas, reforçando os activos do que se designa por capital social. Porém, será necessário não esquecer que esse povimento também gera "capital social negativo", quando utilizando os mesmos meios se gera suspeição, se incentivam ataques pessoais a coberto do anonimato ou se desenvolvem "campanhas negativas" contra pessoas ou instituições. Numa sociedade onde a inveja e o boato, a injúria e a suspeição fazem parte do dia a dia, seria de admirar que tal não acontecesse. Mas isso não é mais que a outra face (mais obscura) da mesma moeda.
(continua)
continue, continue, que está a ir bem...
ResponderEliminarExcelente análise, fico à espera do resto.
ResponderEliminarCaro Professor Justino
ResponderEliminarÉ uma excelente análise da blogosfera, sobretudo porque não se sente "atravessada" de argumentação centrada em causa própria, como é tão comum ler-se.
Espero, portanto, e com a maior expectativa, a continuação.
Interessantíssima sequência de textos sobre a blogosfera, começando em «à conversa...». Fico a aguardar pela III Parte desta sua série...
ResponderEliminarBem-hajam.
Saudações blogosféricas.
Muito bem!
ResponderEliminarExcelente texto, DJ, já o tinha prometido e não nos desiludiu.Aguardamos então a continuação.
ResponderEliminarSim, sim, continue, continue :)
ResponderEliminarBoa análise, texto estimulante, como habitual.
ResponderEliminarDeixe-me acrescentar, caro DJ, a respeito dos blogues que não permitem inserir comentários, que eles falham num dos maiores interesses deste meio de comunicação, que reside, justamente, na sua inter-actividade.
Bem sei que há gente desbocada em demasia, capaz de quebrar todos os códigos de conduta e que aparece apenas para injuriar. No entanto, deve correr-se o risco, procurando-se isolar essa gente, desacreditá-la e manter, a pesar disso, a estimável inter-actividade, que enriquece o debate, fazendo germinar novas ideias.
Sem isso, os blogues perdem grande parte da sua potencialidade e podem transformar-se num estéril exercício de narcisismo, mais ou menos literário...
Devemos, julgo eu, perseverar para que tal não aconteça, aceitando os riscos, embora.