Reconheço que o meu último post foi por demais longo, não apenas no critério do comentador Antrax.
Por isso irei ser mais breve, na referência final ao relatório Bruegel (agradeço ao Dr. Ferreira de Almeida que tenha indicado o site do Bruegel a Anthrax).
O que nos cabe fazer para ultrapassar a dificílima situação em que caímos?
O relatório diz que a restauração da competitividade perdida nestes 7 anos, impõe que durante um longo período de tempo – no mínimo durante os próximos 7 anos, prevejo – os custos unitários do trabalho cresçam abaixo da média da zona euro.
Mas isso não bastará para que a inflação baixe, de forma sustentada.
Será também indispensável aperfeiçoar os mecanismos de formação dos preços, o que requer, urgentemente, muito mais concorrência nos mercados de bens e de serviços.
A situação de quase monopólio, em boa parte associada a posições privilegiadas do Estado em alguns sectores importantes, reclama por isso rápidas mudanças.
Repare-se que continuamos com uma taxa de inflação superior à da zona euro – e a divergência tem vindo a agravar-se, nos últimos meses. Se não alterarmos esta tendência, estaremos a complicar, cada vez mais, a já muito difícil solução do nosso problema económico.
E ainda, “last but not the least”, teremos de ser capazes de reduzir, “heroicamente”, a despesa pública em % do PIB. Como objectivo, para os próximos 7 anos, apontaria para uma redução de não menos de 1% ao ano. Mas não se pode falhar um único ano, haja ou não eleições.
A despesa pública passaria assim dos actuais 49% para não mais de 42% do PIB até 2012. Seria possível reduzir impostos directos e indirectos, pelo caminho. A economia ganharia.
Quanto à nossa capacidade para responder a estes desafios, confesso algum desconforto face ao que se tem vindo a passar, não obstante os anúncios de (algumas) importantes reformas.
Tenho muito receio de que não existam a clarividência e a persistência necessárias, por parte dos decisores políticos, para estes tremendos desafios.
A evolução recente, designadamente o continuado crescimento da despesa pública, a ritmo muito superior ao do crescimento do PIB, tanto em 2005 como no período já conhecido de 2006, justificam, na minha perspectiva, que nos coloquemos em “ALERTA VERMELHO”.
Para terminar, esclareço que o relatório não advoga qualquer solução “revolucionária”, do tipo abandono do euro.
Essa ideia, que algumas pessoas têm sugerido, teria nesta altura consequências devastadoras, a começar, se bem entendo, pelo próprio sistema financeiro. Este veria grande parte dos seus créditos transformados em moeda nacional (escudinho?) ao mesmo tempo que seria obrigado a manter grande parte dos seus passivos em euros pois os credores externos, hoje com grande peso, não aceitariam outra solução.
O resultado desta operação iria abalar o sector financeiro, com reflexos inevitáveis no resto da economia - forte agravamento dos custos de financiamento.
Os aumentos de taxa de juro do BCE serão “peanuts” perante este cenário.
Para Antrax, e não só, basta por hoje (14 parágrafos).
No próximo post, o exemplo da Irlanda.
Pedir aos capitalistas que não façam monopólios ?
ResponderEliminarAonde é que já se viu?Acha que eles estão a brincar aos solidários e têm pena desses pormenores de que referiu no seu texto?
Caro Dr. T. Moreira,
ResponderEliminarAntes de mais deixe-me avançar que não sou adepto da saída do euro.
Mas também não sou um fundamentalista. Não vejo catástrofe nenhuma na eventual saída, muito menos aquela que refere no sector financeiro. Aliás, banco que não souber lidar com a situação que descreve, o melhor é dedicar-se à pesca. Sempre tivemos bancos e, euro, só temos há 7 anos. E sempre vivemos rodeados de moedas muito mais fortes que o escudo.
Tão pouco me parece certo encarar a saída como revolucionária. A passagem de todos os instrumentos financeiros de escudos para euros levou 3 anos e foi forçada no fim. A passagem inversa, uma vez que o euro continua a existir, durará o tempo que tiver que durar. Na realidade a única coisa que mudaria no curto prazo seria a redenominação dos compromissos do estado que fossem possíveis de redenominar, como salários.
Só não sou adepto porque não resolve nada do que deveria resolver. Não trata a doença, só os sintomas. Agora, houve um tempo para resolver a doença. Tempo esse que não foi 1998-2000, foi 1986-2006. E vai continuar a ser.
Para que a despesa pública desça 1% face ao PIB é obra! Quando o estado retira euros da despesa afecta o numerador e o denominador. Aquilo que se pode fazer, face às limitações legais, é fazer com que o valor colocado na sociedade com o dinheiro gasto pelo estado suba.
Isto significa gestão correcta dos recursos. Produtividade, como dizem V. Exas. os economistas. O que, para mim, é a mesma coisa que dizer que é impossível.
Ó Dr. TM! Por favor não dê tanta importância às coisas que eu digo (principalmente àquelas cujo meu conhecimento técnico e teórico é nulo).
ResponderEliminarGostava também de agradecer a disponibilização do link do relatório (até porque assim podemos lá ir "cuscar").
Mas ainda a propósito da "tanga" e ultrapassando a velha discussão de ser, ou não, o termo mais adequado, a sensação que tenho é que hoje ainda estamos piores do que estávamos (acho que agora é uma mera parra e qualquer dia nem isso).
Alterar números e percentagens é a coisa mais fácil que existe à face da terra. Para isso, basta alterar os conceitos (i.e. basicamente basta viciar as regras do jogo) e isto é um instrumento de política, que deve ser utilizado, não para manipular resultados (que é o que está a acontecer em termos nacionais), mas para que a realidade fique espelhada o mais correctamente possível.
Agora que já vos pus a pensar no que é que o meu parágrafo anterior tem a ver com o post do Dr. TM, digo-vos: Tem tudo. Porque esta é a única razão possível para internamente se adoptar um discurso "estamos a melhorar", quando os moços da C.E dizem que estamos "enterrados". Mais, ainda ninguém se lembrou de pedir, ao «tio» Sócrates, para explicar porque é que os demais países da U.E têm um crescimento económico de 3% (ou lá o que é) e nós não.
Outra coisa que me aborrece na história da "despesa pública" é que quando se fala em reduzir a despesa pública, fica tudo a olhar para a função pública como se fossem um bandinho de incapazes que ali estão a viver à pala do Estado. Mas note-se que esta função pública é apenas referente à Administração Central. Então e a outra? A Administração Regional e Local não são função pública?
E depois ainda anda outra coisa aqui a martelar-me o juízo... será preciso reduzir a despesa pública ou será preciso aumentar o PIB?
No meu "little black book" de economia 101, a 1ª regra diz: «Se gastas mais do que o que ganhas, tens um problema, cujo tamanho é directamente proporcional ao que gastas». A partir daqui só há duas soluções possíveis, ou se corta nas despesas, ou se arranja outra forma de ganhar mais dinheiro. Considerando que nem sempre é possível - ou saudável - cortar nas despesas, a melhor hipótese será sempre arranjar outra forma de ganhar mais dinheiro.
Eu tenho um grande problema com os políticos (e outros) adeptos do «cortar tudo à tesourada», até porque normalmente brincar com tesouras é perigoso para quem não as sabe utilizar. É aqui que eu acho que os senhores da oposição têm algo a fazer e a dizer. Continuar a bater no ceguinho e a dizer "Corta, corta, corta", não vai fazer aumentar o PIB.
E sim, a Irlanda é um bom exemplo desde que não nos esqueçamos que Portugal não é a Irlanda.
Caro Tonibler
ResponderEliminarPermita-me três breves observações a comentários seus.
Começando pelo seu comentário ao meu segundo texto, quando referiu que se tratava de indicadores, e pior, indicadores do passado, dos últimos 7 anos.
Ao ler o comentário, lembrei-me que há 7 anos aquilo que o Tonibler chama agora de passado era ainda futuro, e teria sido bem possível ganha-lo se tivessemos a lucidez de perceber as implicações da nossa opção euro.
Arriscamo-nos agora, mais uma vez, a perder o futuro. E daqui a 7 anos aqui estarão a chorar mais uma vez o passado- só que aí já com respiração assistida.
A segunda observação para a questão da eventual saída do euro.
Eu apenas aflorei uma pequena ponta do problema. Mas pode estar certo de que o simples anúncio dessa medida seria suficiente para provocar tais estragos que os seus defensores/promotores teriam de se esconder bem longe.
Terceiro, para o ponto que faz de que reduzir a despesa pública tem um efeito igual no numerador e no denominador da relação Despesa/PIB. Isso é verdade em termos estáticos. Mas, como bem sabe, a economia desenvolve-se sobre uma realidade essencialmente dinâmica e a redução da despesa pública, no ponto em que nos encontramos, não seria de modo nenhum neutra. Teria impacto favorável sobre o PIB a prazo curto, beneficiando o denominador e ajudando à descida do valor do racio.
Se assim não fosse, o exemplo da Irlanda, que a seguir apresentarei, seria uma ficção.
Antes de irmos para a Irlanda, tenho de fazer uma pergunta.
ResponderEliminarEu não percebi o terceiro ponto, neste seu último comentário, mas gostava de perceber. A única coisa que percebi é que a economia é dinâmica, depois disso perdi-me. Por isso se puder (e se tiver um pouquito de tempo e paciência), gostava mesmo de saber como é que beneficia o PIB.
Caro D. T. Moreira,
ResponderEliminarA questão dos indicadores do passado coloquei no âmbito do relatório que mencionou. Rácios, são rácios, dificil é o resto. Como penso, aliás, que chegará lá no post da Irlanda.
Eu concordo consigo que se tivessemos a lucidez de perceber as implicações da opção euro tínhamos tomado as medidas concretas. Agora, também acho que é pedir demais que surja um choque de lucidez colectiva passados 10 anos da decisão de entrar no euro, que me parece ainda mais improvável que o tecnológico.
Relativamente à saída do Euro, como não acredito em choques de lucidez, estou como a Alcina Lameiras, "não nego à partida uma ciência que deconheço". O facto é este, se não fizer nada de um lado tenho que o fazer do outro, como o Dr. sabe bem, muito melhor que eu. Se não fizer nada dos dois lados, acabo de vez com a independência nacional.
A economia portuguesa está em colapso há 5 anos e, não é embirrar consigo, nem me leve a mal, têm que me mostrar até à terceira derivada que cortar no que quer que seja inflectia o estado de coisas de forma perceptível.
Também respondendo ao camarada Anthrax, não vejo no que é que cortando simplesmente na despesa tem um impacto positivo a curto prazo. Exactamente por ser dinâmica, o que interessa não é o tamanho, é o que se faz com ela (frase normalmente atribuída a quem a tem pequena, que não é o caso....:)) ). Se me disserem que corto na despesa, para deixar os impostos no bolso do contribuinte e esperar que isso me suba o PIB a prazo, talvez. Mas não é no curto prazo de certeza. Aliás, se fosse, nunca teríamos o problema de contenção criado pela "tanga".
Temos um problema de aplicação do dinheiro, como os italianos têm, que é governada pela alimentação de interesses e não pela valor que pode acrescentar. Agora, a solução disto não é uma "reforma" ou um ataque de lucidez. Será mandar o Euro às malvas? Se calhar.
Amigo Tóni,
ResponderEliminarAgradeço a explicação, mas está-me a falhar qualquer coisa.
Eu não sei se aquilo que vou dizer vos vai fazer algum sentido, mas a forma como estou a ver as coisas é assim:
Nós temos um bolo chamado PIB, que no nosso caso é um bolinho pequenino para o qual só contribuem alguns, esse bolinho é cortado às fatias para o dividir por todos (e não para dividir só or esses alguns que contribuiram para o fazer).
No entanto, cada vez aparecem mais convivas para comer desse mesmo bolinho. Como esse bolinho não cresce, a solução é cortar nas fatias dos outros para que os que chegaram também possam comer bolo.
O meu problema e é isso que eu não percebo (e podem usar todos os termos técnicos do mundo e chamar-me burro e eu até faço Ión!), é que o facto de se cortar nas fatias dos outros, não faz com que o bolo aumente de tamanho. O que faz sim, é que quem esteja a contribuir para fazer o bolo (mesmo que seja pequenino), um dia deixe de querer contribuir porque todos os outros andam a roçar o traseiro pelas paredes e a comer bolo. E depois, quem tem a faca na mão e tem por dever cortar as fatias do bolo, parece um assassíno psicótico de faca em riste, a querer cortar as fatias do bolo à maluca, em vez de dizer: «Amiguinhos, temos de fazer um bolo maior porque senão isto não dá para todos».
É por isto que eu não percebo como é que os cortes na despesa beneficiam o PIB. Podem cortar, recortar, fazer bonequinhos de mãos dadas, jarras, florzinhas e origamis, a isso chama-se trabalhos manuais (e alguns são bem artísticos), mas isso não faz aumentar o bolo.
Camarada Anthrax,
ResponderEliminarEu de economia só percebo a parte matemática, os termos é para os especialistas.
Esqueça os euros e as fatias do bolo. Vamos pensar em energia, como na física. O país tem uma dada energia, energia essa que se mede por um indicador chamado PIB.
(E uma entropia que se chama inflacção, mas vamos esquecer a inflacção em tudo o que vamos falar)
O estado, o painel de controlo desse sistema energético a que chamamos país, consome energia para funcionar, mas também entrega energia no país. Se consome mais que aquele que entrega, o resto do sistema tem que compensar para que a energia se mantenha. Idealmente, o sistema até gera mais energia, provocando o seu crescimento. É o que acontece nas sociedades, em que o ser humano transforma comida em trabalho e filhos e vai fazendo crescer a sua economia.
O problema no nosso sistema energético é que tem pontos de troca com o exterior. O sistema pode perder energia para o exterior por meio das trocas com os outros países se a energia que manda para fora não compensa a que recebe. E não falemos de balanças de transacções, que isso são euros. Se aquilo que eu compro vale mais que os euros que mandei, estou bem, a energia cresce!
E, essencialmente, o problema é só este. Quando o estado recolhe impostos, consome energia sob a forma de euros. Pega nesses euros e dá-os a funcionários ou fornecedores. Mas esses funcionários e fornecedores devem colocar essa energia na sociedade sob a forma do seu trabalho. Se o sistema fosse fechado, era irrelevante se o trabalho entregue por funcionários e fornecedores vale ou não os euros que recebessem. Mas não é fechado. Com esses euros os funcionários compram produtos ao estrangeiro para fazer esse trabalho. Por exemplo, o funcionário público consome petróleo para ir trabalhar.
O nosso problema é que, da energia consumida pelo estado, não se gera, pelo menos, igual energia e parte desta perde-se para o estrangeiro. Cortar na despesa não resolve nada em concreto, não se ganha o montante de corte, mas apenas o diferencial de energia que é perdida para o estrangeiro.
Ora, o estado também produz energia, com o sistema de saúde, com o sistema de educação. Pode é não produzir a suficiente para aquela que consome (lá está a questão do numerador e do denominador). E é aqui que está a enorme dificuldade e a minha discordância disto tudo. Cortar pode provocar uma perda de energia maior que aquela que se tem hoje. Se calhar, se privatizasse as escolas até podia gastar mais euros, mas o valor entregue, a energia gerada, poderia ser muito maior e, assim resolvia a minha questão.
O problema simples é: como é que reduzo o diferencial entre os euros consumidos pelo estado e o valor que resta desses euros depois dos serviços entregues, os carros comprados e o petróleo.
Se tivessemos escudos, a coisa resolvia-se automaticamente. Sem escudos, depende dos políticos. Animador, não é?
Huh?... :O
ResponderEliminarPodemos continuar antes com o bolo?
Oh camarada Anthrax,
ResponderEliminarEm termos de bolo aquilo que posso dizer é que não tem nada a ver....:) O bolo é uma chatice porque é estático. Não se cria, não se destrói, não se "caotiza"...
Ah! Ok. Nessa perspectiva percebi o meu erro.
ResponderEliminarGosto da ideia do Caos, agora só me falta perceber o resto. Mas nada de pânicos, eu chego lá.