quinta-feira, 25 de maio de 2006

Por Terras do Congresso do PSD-Os Notáveis- V

Isto já está a tornar-se tão aborrecido como alguns discursos. Mas, já que comecei, vou até ao fim. Que fique para memória futura!...
Antes de entrar na estrutura do discurso dos Notáveis, permitam-me mais uma nota pessoal. É que, animado pelo Miguel Frasquilho, nas circunstâncias que ontem referi, definitivamente decidi-me a fazer um discurso e perguntei-lhe quais as formalidades. Ele amavelmente disse-me que se ia inscrever e inscrevia-me também. E assim fez. O Miguel era o 14º e eu o 15º numa das quatro listas de inscrições, a partir das quais, alternadamente, os oradores iam sendo chamados.
Enquanto esperava, sentado, pela minha vez, ia dando umas olhadelas para saber quantos Notáveis estariam no Congresso: que diabo, seria uma honra extrema vislumbrar, pelo menos, alguns… Olhava… olhava…e não via nada!...Mas eles deviam seguramente estar lá, o meu golpe de vista é que estava um pouco embotado, pensava eu. Socorri-me novamente do Frasquilho. Oh Miguel, não vejo nenhum Notável!...Diz-me o Miguel: eu também não…tirando nós os dois, claro!...Fiquei deveras enternecido!...
Tendo assim ficado sem matéria para este capítulo, usei o subterfúgio de dividir casta superior em duas sub-castas: a dos Notáveis e a dos Muito Notáveis. Os “Muito Notáveis” são os “notáveis” cuja notabilidade sobe precisamente por não terem ido ao Congresso, enquanto os meramente Notáveis, se não forem ao Congresso, ninguém se lembra deles!...
Ora qual é a estrutura do discurso de um Notável?
Um Notável, com a experiência de já ter participado em, pelos menos, vinte dos vinte e nove Congressos do PSD, e de ter estado pelo menos em cinco governos, chega sempre sorridente ao púlpito. E a primeira coisa que faz é animar o pessoal, com três sonoras invocações PSD… PSD…PSD!..., ao mesmo tempo que agita o braço levantado com o médio e o indicador bem esticados. A notabilidade mede-se, logo aí, pelo número de vezes que os militantes repetem o estribilho!...
Restabelecido o silêncio, e evocados pelo nome quase todos os presentes (o Notável faz questão de evidenciar que conhece muitos militantes pelo nome…), começa propriamente o discurso. E imediatamente invoca uma ameaça exterior. Não é que a comunicação social referiu que o Congresso estava morno? Morno, este Congresso? Os militantes indignam-se e deitam cá para fora a indignação com fortes gritos PSD...PSD!...Eufórico com o efeito, o Notável recorda novmente que o Presidente do Partido, eleito directamente pelos Militantes, com toda a legitimidade que daí advém, deve ter o apoio de todos, e logo aí lhe jura o seu apoio pessoal. Mas aqui faz incidir uma segunda particularidade, quando enfatiza que já discordou do líder e até esteve em campos opostos, mas isso não impede que esteja, agora, com todas as suas forças novamente ao seu lado. Embalado nestas juras, não dá pelo passar do tempo. E quando começa a transmitir ao Congresso a primeira de apenas duas ideias, que o tempo é escasso, a Drª Manuela confirma e diz-lhe que o tempo acabou. Mas nada de irremediável, que o Notável não possa suplantar. Acena que sim para a Presidente e volta-se, em gesto imponente, para a Mesa da Comissão Política, reiniciando solenemente a oratória com as palavras: Meu Caro Marques Mendes... Esta intimidade vale-lhe mais uns minutos e mais uma chamada de atenção. Mas nada que um segundo Meu Caro Marques Mendes não possa ainda resolver…até que o olhar intimidatório da Dra Manuela e, sobretudo, o receio de que ela possa vir a ser futuramente líder do partido, já não lhe permitem um terceiro Meu Caro Marques Mendes!...
Com um Viva o PSD termina o discurso, que teve princípio, teve meio…e quase não tinha fim!…E quanto a ideias? Ainda estou a tentar repescá-las…mas se a Drª Manuela nem deu tempo de as expor?...
Nos capítulos seguintes revelarei os Códigos do Congresso e farei referência ao meu iluminado discurso.

2 comentários:

  1. Caro Pinho Cardão,

    Temo que V. principie a entrar em terreno minado, ao procurar lembrar-se das ideias esgrimidas no Congresso, tanto pelos notáveis - os muito, os pouco e os menos -, como pelos restantes intervenientes, sem esquecer o Presidente, claro. Se elas, as ideias, foram boas ou tão-só aproveitáveis, para além daquela rotineira menção discursiva do aumento da competitividade das Empresas, mais a sempre prometida reforma do Estado, com a sua efectiva redução, acrescida agora com a inovação das rescisões dos contratos dos funcionários públicos pagas por Bruxelas, que afinal esta não deseja patrocinar, eis o que todos gostaríamos de saber, sobretudo de quem já esteve diversas vezes no Governo e decerto pôde aperceber-se das carências do País. Aqui, na verdade, o chão começa a fugir-nos debaixo dos pés, porque o passivo é enorme e já não conseguimos iludi-lo mais. Desde há 32 anos, Portugal tem sido governado maioritariamente pelos dois grandes partidos centrais - PSD e PS - com episódicas ajudas da Direita do CDS/PP, com os magros resultados que se conhecem. Poder-se-á arguir que se o País tivesse sido conduzido pelo outro extremo do espectro político ainda estaria pior. Convenhamos, no entanto, que reconhecê-lo é fraco consolo. Se não estivesse tão conotada a expressão, bem poderíamos interrogar-nos : que fazer agora, perante a ressaca da euforia vivida nas últimas duas décadas, desde a adesão à UE ?, arredando, contudo, a tentação revolucionária, por se situar fora do nosso enquadramento político-legal. Como sairemos do pântano em que nos atolámos, com ou sem o palavroso PM que cunhou o termo da situação, de que era, de resto, um dos principais responsáveis ? Como responderemos, quando as novas gerações nos pedirem contas ? Deveríamos todos começar a pensar nisto... Mas para arrepiar caminho, porque, de diagnósticos, estamos todos mais ou menos cansados !

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  2. Numa coisa temos que o elogiar. Aquilo deve ser a maior seca que existe, mas conseguiu arranjar maneira de se divertir! E com isso divertir-nos!
    Cheira-me que no próximo congresso todos vão querer sentar-se ao pé de si só para ver se sai algum comentário.

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